Viva
a poesia. Vivam os poetas. Hoje é 14 de março. Comemoramos a poesia
nacional, mas pode ser internacional também. Que bom seria se ainda
se lesse poesia como antigamente! Eu digo e provo: a não ser os
poetas, os que são meus amigos, poucos lêem meus poemas colocados
nas chamadas redes de comunicação da internet. E é onde se lê, e
pouco, é na internet mesmo. Voltamos no tempo, voltamos à cultura
visual – aquela que sempre existiu desde o homem da caverna. Temos
um cérebro muito cheio de porcarias que a televisão e todos os
meios de comunicação, inclusive jornais e revistas, nos metem pela
garganta.
Os poetas lêem os poetas, e
pronto.
Cadê
Castro Alves, quase adorado pela mocidade escolar, com seus versos
candentes, cheios de amor e de paixão, cheios de esperança e de
crítica, cheios de natureza e de humanidade? Quem não sabia ao
menos uma estrofe do “Navio
Negreiro”?
Ou de “O
Livro e a América”? Ou
uma quadrinha de
“O Gondoleiro do Amor”?
- Recitando as duas primeiras: “Teus
olhos são negros, negros, / Como as noites sem luar… / São
ardentes, são profundos, / Como o negrume do mar; // Sobre o barco
dos amores, / Da vida boiando à flor, / Douram teus olhos a fronte
/Do Gondoleiro do amor.”
Se
fôssemos transcrever os versos mais lindos, mais fortes, mais
inspirados de Castro Alves passaríamos aqui o dia, a crônica
inteira, o dia e a noite. Lembremos, pois muitos não sabem, que a
data que comemoramos em 14 de março é justamente a data natalícia
de Castro Alves, que veio ao mundo no ano de 1847, na fazenda
Cabaceiras, freguesia de Muritiba e comarca de Cachoeira, na Bahia.
Para mim e para muitos é ele um dos maiores poetas brasileiros,
senão o maior. Sua poesia enche de vida e sentimento a alma dos que
o tocam (lêem). Pela leitura é que o homem consegue alcançar a
maior sabedoria, pois poesia é intuição, luz e palavra (banhada de
luz). “A
sensibilidade do imaginativo desse gênero (poesia)
é principalmente estimulada pela vista, pelo movimento e pelo tato”,
escreve Eugênio Gomes, numa introdução à “Obra
Completa”,
de Castro Alves, Ed. Aguilar,1966, Rio de Janeiro-RJ. Este pensamento
indica que a riqueza do poema é englobar todas as artes e ainda mais
a filosofia e a ciência. Poesia, arte por excelência. Quem não lê
poesia, enferruja-se, encaracola-se, cega, morre.
Ora, ora, perguntarão:
- E o que é poesia?
E eu lhes respondo:
- Poesia é vida, poesia é
música, dança, teatro. Poesia é amor e também natureza. Poesia é
de Deus e é Deus.
Lembro-me de quando eu estava
ainda na meninice, mal tinha aprendido a ler e, nas férias
frequentava a casa de meu avô paterno, Sinhô do Diogo. Ele lia,
tinha um monte de livros, para a época. Contos, histórias de
cavaleiros da Idade Média, poesias e até um livro de cem cartas de
amor, que eu adorei, juntamente com os de poesia. Castro Alves,
Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias, Fagundes Varela e outros. Os
românticos em especial. E eu comecei a aprender bem por lá. A
leitura é uma das maneiras mais inteligentes de aprender-se a sentir
e a pensar, amar e querer bem, a meditar, a ser gentil e humano.
Sinceramente, não sei por que a cultura chamada pós-moderna, ou
“pós-nada”, cancelamos o caminho da leitura. Nas escolas, nos
hospitais, nas creches, no ônibus, no consultório médico, em casa
sempre, sem desprezar a privada, onde temos todo o tempo e toda a
liberdade de fazer e acontecer. São todos lugares de se ler e
aprender.
Voltando a minhas leituras:
Castro Alves era uma das minhas maravilhas. Depois conheci outros
poetas: Raimundo Correia, Olavo Bilac e Camões; muitos outros
portugueses, chegando a Fernando Pessoa. Dos brasileiros, degustei
Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, João Cabral, meus
mestres. Mas há tantos outros poetas bons, impossível citar todos.
A poesia não tem dia nem hora. Poesia é todo dia, toda hora. Para
os que não participam do maior instrumento de civilização – a
leitura. Sem ela, babau! Teremos apenas analfabetizados, aqueles que
conseguiram frequentar a escola e depois esqueceram-se dela, do
melhor da escola: o conhecimento pela linguagem, pela luz da
consciência de saber-se uma criatura pensante.
- Você está lendo o quê?
Não caia na besteira de
perguntar isto a mais de duas ou três pessoas na rua. Você se
decepcionará:
- Nenhum, eu nunca li um
livro, me dá um sono!... E sendo de poesia aí é que não leio,
pois não entendo nada da matéria.
Não entende nem vai
entender. Isto e muitas outras coisas do mundo que está acontecendo
a seu lado. Não direi à sua vista, pois quem não lê é cego. Você
pode saber muito de estatística, de dinheiro, de bolsa, de jogar na
loteria, de entender e torcer por um time de futebol, de carnaval, de
pular junto com alguns “macacos” que pulam no palco, mas não
tem voz, não cantam, não dizem, não sabem música. Quando muito,
sabem bater tambor e outros instrumentos “modernos” mais
sofisticados para fazer barulho. E nada mais. Depois de tudo, o sono
(ou o pesadelo?) a troco de bebida, droga ou de algum sonífero menos
maléfico. E vai gastando a saúde, vai andando para baixo. Que
sonhos você terá? Nenhum.
Ah,
se o mundo voltasse para a educação sem dogmatismo! Não essa que
está aí, a que ensina que ninguém nasce macho ou fêmea, o mundo
é que o faz. E como faz loucamente muitos outros sexos… Calemos.
Eu prefiro o amor à moda antiga, a educação à moda antiga, a
cultura que não esquece suas raízes, as leis que não sejam
casuísticas, a democracia ao comunismo e suas variações, o
casamento aos acasalamentos sem responsabilidade para com os frutos
desse amor sem raízes, amor sem amor, simplesmente sexo, sexo... E
dor, depois. Porque esses preparam a solidão a sós, desculpem o
pleonasmo, a doença abandonada, os crimes contra a família - a
célula máter da sociedade civilizada. Não, eu prefiro a poesia, o
amor, a amizade, a luz do sol, o mundo verde, a doçura de um livro à
cabeceira. Não digo que não uso o celular. Mas, coitado, ele foi
desfigurado. E virou pura tolice. Enfim, estamos numa selva. Nus e
com fome. Como nos primeiros tempos, atrás da caça que não
alcançamos. Porque já a perdemos há muito tempo, sem dó nem
piedade.
*Francisco Miguel de Moura, poeta, membro da Academia Piauiense de Letras.
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