Escritor
Assuntos
difíceis de dissertar-se, ou para escrever uma crônica, são:
religião, futebol e política, desculpem a mistura. Cada qual tem
sua ideia irremovível. Só ele está certo, ou outro não tem razão.
Mas acrescento ao título de religião a palavra “credo”, e a
abordagem melhora. A gente pode muito bem, crer, acreditar em algo
sem que a crença seja um religião formal. Em Deus, por exemplo. As
religiões cristãs todas têm uma fonte, uma origem, é a Bíblia,
um conjunto de livros dos mais antigos que se conhece, inspirados por
Deus e escrito pelos homens escolhidos por Ele.
Já
disse algumas vezes que não conheço o assunto profundamente. Em
matéria de religião, o que sei vem do catolicismo. Mas não entro
aqui no mérito das religiões. Nem do catolicismo nem das religiões
evangélicas, muitas vezes chamadas de credos. “Não
julgueis
e não sereis julgados”,
como está na
Bíblia.
O
homem é um animal simbólico, pois a realidade não seria
compreendida sem os símbolos que criamos pelo pensamento e pelos
sentidos primariamente, tudo desembocando na linguagem, nas
linguagens. Creio que o filósofo Arthur Schopenhauer já disse isto.
Se não disse, eu digo. E mais: Arte é vida, ou melhor, recriação
da vida. “No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era
Deus. Ele estava no princípio junto de Deus” (Evangelho
segundo João, Cap. I, versículos 1 e 2).
Baseado
nos princípios acima, arriscaria a dizer que o catolicismo
interpreta a vida e a religião pelos sentimentos, sua simbologia é
rica e emociona, sem deixar de ser racionalmente concebida, menos em
alguns dogmas cuja aceitação acontece mais pela fé, o grande
sentimento do homem. Em contraposição, os credos evangélicos são
altamente racionais e ligados à letra da lei que está na Bíblia.
Quem seria melhor? Ambos são bons credos, boas religiões. A fé em
Deus os iguala. E pronto.
Estou
convencido, depois de ler muito sobre filosofia e religião, de que o
livre arbítrio é invenção dos homens, porque Deus está sabendo
de tudo o que acontece, pois foi Ele quem criou tudo. Mas não gosto
de dizer que tudo estava determinado. Ele cria e determina o
essencial. Nesse ponto, Ele é tudo e nós somos um pequeno grão de
poeira da sua obra magnífica. Mesmo assim nós recriamos. Foi por
isto que apareceram, pelo pensamento dos filósofos, os princípios
do livre arbítrio e do determinismo.
Não
discuto religião simplesmente porque não sei. Quem saberá muito
sobre a divindade, sobre o eterno, sobre a alma e o espírito? De
modo especial, sei apenas de língua portuguesa e poesia
(literatura). Creio em Deus e sei que tudo me virá por acréscimo.
Se algo eu disse, em meus versos, que possa parecer contra Deus, peço
perdão, e quando o fiz foi para testar minha liberdade de dizer o
que quero perante os homens, não perante Deus. Ele me perdoará,
pois é todo amor e misericórdia, como disse o Papa Francisco I:
“A
misericórdia é a carteira de identidade do nosso Deus”,
numa excelente metáfora, visto que Deus é. Ele mesmo é fiel, é
bondade. No livro “O
nome de Deus é misericórdia” -
uma longa entrevista que o Papa Francisco deu à jornalista Andrea
Tornielli - entre outras coisas, o nosso Papa conta uma historinha
engraçada. Perguntado sobre seus confessores, o Francisco lembrou de
um grande confessor:
(...) Mais novo do que eu, um padre capuchinho, que exercia seu ministério em Buenos Aires. Uma vez ele me procurou para conversar. E ele mesmo me disse: - Queria te pedir ajuda; tenho sempre tantas pessoas na fila do confessionário, pessoas de todos os tipos, humildes e menos humildes, mas também muitos padres… Eu perdoo muito e às vezes sinto o escrúpulo de ter perdoado demais. Conversamos sobre a misericórdia, e eu lhe perguntei o que fazia quando sentia aquele escrúpulo. E ele respondeu assim:- Vou até a nossa capelinha, diante do sacrário, e digo a Jesus: - Senhor, perdoa-me porque perdoei demais. Mas foi o Senhor que me deu o mau exemplo”.
(...) Mais novo do que eu, um padre capuchinho, que exercia seu ministério em Buenos Aires. Uma vez ele me procurou para conversar. E ele mesmo me disse: - Queria te pedir ajuda; tenho sempre tantas pessoas na fila do confessionário, pessoas de todos os tipos, humildes e menos humildes, mas também muitos padres… Eu perdoo muito e às vezes sinto o escrúpulo de ter perdoado demais. Conversamos sobre a misericórdia, e eu lhe perguntei o que fazia quando sentia aquele escrúpulo. E ele respondeu assim:- Vou até a nossa capelinha, diante do sacrário, e digo a Jesus: - Senhor, perdoa-me porque perdoei demais. Mas foi o Senhor que me deu o mau exemplo”.
Deus
só não perdoa ao pecador que continua praticando más ações e não
vai a Ele e diz (ou pensa): Eu creio no Senhor, vou voltar para o
caminho do bem, cumprir seus mandamentos. Esse orgulho contra Deus é
o que outrora a Igreja Católica chamava de pecado contra o Espírito
Santo, e eu, ainda menino, como catequista, afirmava a outros
meninos, aqueles que ainda não sabiam ler. Só esse pecador não
tem perdão, visto que se trata de uma alma que não quer ser
perdoada. Se não quer ser perdoada, como vai obter o perdão? Mas
todas as pessoas são criaturas de Deus, logo a bondade do Senhor
está sempre de prontidão para perdoá-las.
A proposta inicial deste
artigo é responder a uma pergunta sobre religião e credo. Não vou
deixar de responder, embora tenha ficado para o fim.
Bem,
religião é um substantivo formado do verbo religar, ligar o que
estava desligado. Se estava desligado, já esteve ligado. Segundo os
melhores dicionários, religião é um conjunto de práticas e
princípios que regem as relações entre o homem e a divindade. Já
credo é substantivo que vem do verbo crer, abreviação de criar.
Crer é ter fé e é confiança em alguém, em alguma cousa. Só se
acredita em quem conhece. Todos as criaturas conhecem Deus, porque
ele está escrito na consciência de cada. E quem diz que não crê,
o ateu, está negando Deus. Logo, ele sabe que Deus existe, tanto
sabe que o nega. Ser ateu é uma contradição. Seguir ou não uma
religião não leva ninguém à salvação. Crer é que nos levará a
quem a gente confia: a Deus, à fé e às boas ações.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da APL e de outras instituições no Brasil com a UBE-SP, além de várias entidades de cultura, arte e literatura, inclusive no exterior.
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