terça-feira, 14 de março de 2017

RELIGIÕES E CREDOS, O QUE SÃO?

Francisco Miguel de Moura*
       Escritor

Assuntos difíceis de dissertar-se, ou para escrever uma crônica, são: religião, futebol e política, desculpem a mistura. Cada qual tem sua ideia irremovível. Só ele está certo, ou outro não tem razão. Mas acrescento ao título de religião a palavra “credo”, e a abordagem melhora. A gente pode muito bem, crer, acreditar em algo sem que a crença seja um religião formal. Em Deus, por exemplo. As religiões cristãs todas têm uma fonte, uma origem, é a Bíblia, um conjunto de livros dos mais antigos que se conhece, inspirados por Deus e escrito pelos homens escolhidos por Ele.

Já disse algumas vezes que não conheço o assunto profundamente. Em matéria de religião, o que sei vem do catolicismo. Mas não entro aqui no mérito das religiões. Nem do catolicismo nem das religiões evangélicas, muitas vezes chamadas de credos. “Não julgueis e não sereis julgados”, como está na Bíblia.

O homem é um animal simbólico, pois a realidade não seria compreendida sem os símbolos que criamos pelo pensamento e pelos sentidos primariamente, tudo desembocando na linguagem, nas linguagens. Creio que o filósofo Arthur Schopenhauer já disse isto. Se não disse, eu digo. E mais: Arte é vida, ou melhor, recriação da vida. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus” (Evangelho segundo João, Cap. I, versículos 1 e 2).

Baseado nos princípios acima, arriscaria a dizer que o catolicismo interpreta a vida e a religião pelos sentimentos, sua simbologia é rica e emociona, sem deixar de ser racionalmente concebida, menos em alguns dogmas cuja aceitação acontece mais pela fé, o grande sentimento do homem. Em contraposição, os credos evangélicos são altamente racionais e ligados à letra da lei que está na Bíblia. Quem seria melhor? Ambos são bons credos, boas religiões. A fé em Deus os iguala. E pronto.

Estou convencido, depois de ler muito sobre filosofia e religião, de que o livre arbítrio é invenção dos homens, porque Deus está sabendo de tudo o que acontece, pois foi Ele quem criou tudo. Mas não gosto de dizer que tudo estava determinado. Ele cria e determina o essencial. Nesse ponto, Ele é tudo e nós somos um pequeno grão de poeira da sua obra magnífica. Mesmo assim nós recriamos. Foi por isto que apareceram, pelo pensamento dos filósofos, os princípios do livre arbítrio e do determinismo.

Não discuto religião simplesmente porque não sei. Quem saberá muito sobre a divindade, sobre o eterno, sobre a alma e o espírito? De modo especial, sei apenas de língua portuguesa e poesia (literatura). Creio em Deus e sei que tudo me virá por acréscimo. Se algo eu disse, em meus versos, que possa parecer contra Deus, peço perdão, e quando o fiz foi para testar minha liberdade de dizer o que quero perante os homens, não perante Deus. Ele me perdoará, pois é todo amor e misericórdia, como disse o Papa Francisco I: “A misericórdia é a carteira de identidade do nosso Deus”, numa excelente metáfora, visto que Deus é. Ele mesmo é fiel, é bondade. No livro “O nome de Deus é misericórdia” - uma longa entrevista que o Papa Francisco deu à jornalista Andrea Tornielli - entre outras coisas, o nosso Papa conta uma historinha engraçada. Perguntado sobre seus confessores, o Francisco lembrou de um grande confessor: 

(...) Mais novo do que eu, um padre capuchinho, que exercia seu ministério em Buenos Aires. Uma vez ele me procurou para conversar. E ele mesmo me disse: - Queria te pedir ajuda; tenho sempre tantas pessoas na fila do confessionário, pessoas de todos os tipos, humildes e menos humildes, mas também muitos padres… Eu perdoo muito e às vezes sinto o escrúpulo de ter perdoado demais. Conversamos sobre a misericórdia, e eu lhe perguntei o que fazia quando sentia aquele escrúpulo. E ele respondeu assim:- Vou até a nossa capelinha, diante do sacrário, e digo a Jesus: - Senhor, perdoa-me porque perdoei demais. Mas foi o Senhor que me deu o mau exemplo”.


Deus só não perdoa ao pecador que continua praticando más ações e não vai a Ele e diz (ou pensa): Eu creio no Senhor, vou voltar para o caminho do bem, cumprir seus mandamentos. Esse orgulho contra Deus é o que outrora a Igreja Católica chamava de pecado contra o Espírito Santo, e eu, ainda menino, como catequista, afirmava a outros meninos, aqueles que ainda não sabiam ler. Só esse pecador não tem perdão, visto que se trata de uma alma que não quer ser perdoada. Se não quer ser perdoada, como vai obter o perdão? Mas todas as pessoas são criaturas de Deus, logo a bondade do Senhor está sempre de prontidão para perdoá-las.

A proposta inicial deste artigo é responder a uma pergunta sobre religião e credo. Não vou deixar de responder, embora tenha ficado para o fim.

Bem, religião é um substantivo formado do verbo religar, ligar o que estava desligado. Se estava desligado, já esteve ligado. Segundo os melhores dicionários, religião é um conjunto de práticas e princípios que regem as relações entre o homem e a divindade. Já credo é substantivo que vem do verbo crer, abreviação de criar. Crer é ter fé e é confiança em alguém, em alguma cousa. Só se acredita em quem conhece. Todos as criaturas conhecem Deus, porque ele está escrito na consciência de cada. E quem diz que não crê, o ateu, está negando Deus. Logo, ele sabe que Deus existe, tanto sabe que o nega. Ser ateu é uma contradição. Seguir ou não uma religião não leva ninguém à salvação. Crer é que nos levará a quem a gente confia: a Deus, à fé e às boas ações.


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*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da APL e de outras instituições no Brasil com a UBE-SP, além de várias entidades de cultura, arte e literatura, inclusive no exterior.

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