A
pessoa que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 2014, da Organização
das Nações Unidas (ONU), com sede em Nova York, Estados Unidos,
tinha apenas 16 anos. Tinha o nome de Malala, nascera em 12/7/1997,
no Paquistão, precisamente no Vale do Swat, era filha de pais
pobres. Como vemos, ainda quase uma menina. Hoje, já quase moça.
Depois de recuperada dos danos que um tiro lhe causara na cabeça
continua uma estudante extraordinária, uma personalidade tão forte
e de caráter tão marcante aplicado à luta pela independência das
mulheres, dando-lhes as mesmas condições que aos homens,
especialmente no que tange à educação.
Malala
Yousafzai, seu nome, é filha de um professor e fundador de escolas,
onde teimava – contra o regime do país e da região, na época –
a lutar para que as meninas tivessem o mesmo tratamento que aos
meninos, e por isto pai e filha eram perseguidos. Ele amava e
admirava a filha Malala, dando-lhe incentivo e apoio irrestrito. E os
dois conseguiram milagres. Mas, contra a estupidez dos Talibãs, que
tinham tomado conta do país, era preciso ser forte e não ter medo
nem de morrer pela justa causa.
A
história dessa menina está toda no livro “Eu
Sou Malala”,
famoso já em todo o mundo. Feito a quatro mãos: as da autora e
personagem com sua história e as da jornalista Christina Lamb, com a
sua pena, já então famosa, formada em Oxford e Harvard
correspondente para o Paquistão e Afeganistão desde 1987. Com
grande empenho e sabedoria construíram a obra. É uma reportagem
jornalística que se lê com gosto de romance. E olhe que gosto!
Sugiro a quem ainda não o leu que vá correndo a uma livraria,
compre-o e o leia imediatamente. Quem não o fizer não sabe o que
está perdendo. Leia antes de morrer, e não se arrependerá. O
estilo corre como água clara dos riachos cristalinos no
despenhadeiro. Além das autoras, consumiu o trabalho de quatro
tradutoras.
Malala
não queria tornar-se famosa, ela gostava de estudar, estudava muito.
E quando qualquer empecilho se punha a sua frente, lutava para
vencê-lo. Sabia que sozinha não teria forças para vencer os
Talibãs. Assim é contada a história: Naquela ocasião, o país,
com governos fracos e até aliados à raça de Talibãs, inimigos
crueis da humanidade, da vida e da civilização, escondidos atrás
do Islã, para fazer o mal. O Islamismo, em virtude de sua amplitude
territorial, divide-se em várias seitas, conforme a interpretação
de cabeças nem sempre progressistas e que cada vez mais se afastam
de Deus.
Não
pude interromper a leitura de “Eu
sou Malala”.
É um livro de sabedoria, um livro de formação. Conhecemos uma
civilização do Oriente tão diferente de nós pelos costumes,
línguas e história política, onde se fundem tantas culturas,
formando um povo de bom coração, cheio de humanismo, superando a
violência sofrida, primeiro da Índia, depois dos Talibãs descidos
do Afeganistão. A hospitalidade, a generosidade para com os vizinhos
e parentes são qualidades tão arraigadas na alma dos paquistaneses
que faz a admiração até de outros países vizinhos. Somando-se a
isto a beleza da paisagem, dos vales, das serras, dos rios e águas,
qual um paraíso dos deuses para os turistas. São favores que
compensam a violência, principalmente originada em grupos que mal
interpretam as leis do Alcorão e os ensinamentos do profeta Maomé.
Mas
isto a gente vê de relance. A história do romance “Eu
sou Malala”
é realmente comovente. O ensino de seu pai, sábio professor,
fizeram dela a criatura privilegiada por Deus para um destino
semelhante ao de uma santa. Mas não era isto que ela queria, nunca
quis ser mártir, quis batalhar por seu povo cheio de bons costumes,
mas ainda tão atrasado quanto a desvalorização da mulher, e dentro
desse preconceito, a desvalorização da escola, do livro, do estudo,
enfim do progresso.
Malala
falando, podemos avaliar melhor: “No
dia em que nasci (12-7-1997), as pessoas da nossa aldeia tiveram pena
de minha mãe, e ninguém deu os parabéns a meu pai. Vim ao mundo
durante a madrugada, quando a última estrela se apaga. Nós,
‘pachtuns’, consideramos este um sinal auspicioso. Meu pai não
tinha dinheiro para o hospital ou para uma parteira; então uma
vizinha ajudou minha mãe. O primeiro bebê de meus pais foi
natimorto, mas eu vim ao mundo chorando e dando pontapés. Nasci
menina num lugar onde rifles são disparados em comemoração a um
filho, ao passo que as filhas são escondidas atrás de cortinas,
sendo o seu papel na vida apenas fazer comida e procriar”.
Acima está a transcrição do primeiro parágrafo, do primeiro capítulo
do livro, basta abrir a pág. 21.
O
pai de Malala lhe dedicava um amor extremado, não obstante depois
dela ter nascido um menino na família, seu irmãozinho. Incentivava
e ajudava-a. Jamais Malala pensou vir a ser uma personalidade
importante no mundo. A parte do romance que se ocupa com Malala desde
o dia que foi baleada gravemente por um Talibã, no ônibus em que ia
para a escola, até a cura total dos danos causados pela bala –
tratamento em parte feito no Paquistão e parte (maior e mais
delicada) num hospital da Inglaterra é a parte central. E é o que
há de mais comovente e convincente na obra. Depois de tudo, vai à
ONU, onde discursou sem papel, fato que já acontecia na escola de
seu pai, onde estudou, sendo a primeira aluna em notas, sempre,
acompanhada de boas amigas, que iam no ônibus, no mesmo dia, havendo
as demais escapado ilesas. Ela, àquela altura, já era uma líder.
É sempre os líderes que os Talibãs atacavam, em primeiro lugar.
Ela estava marcada para morrer. E se não morreu foi porque Deusa
sabia que o mundo precisava dela.
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*Francisco Miguel de Moura -Membro da Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina - Piauí - Brasil
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