Francisco
Miguel de Moura
Academia Piauiense de Letras
Academia Piauiense de Letras
Dia
3 do corrente mês e ano, tremi e não por causa do tremor de terra
que sacudiu Teresina, vindo do Maranhão. Foi por causa de uma
notícia do Jornal Nacional: – “Em
2017 vamos ter, no Brasil, mais fins de semana prolongados do que em
2016, pois quase todos os feriados vão cair em dias de terças e
quintas feiras”. Portanto, um chama para os ditos “feriados
prolongados”. Não
ficam na Capital nem os médicos, restaurantes se fecham,
supermercados, tudo. Todo mundo nas praias.
Meu
Deus! Tanto que eu pedi um 2017 melhor que o 2016, e vem isto aí!
Qual é o aposentado, idoso, que pode sair? Ficam todos em suas
casas. No dia primeiro do ano de 2017, mesmo sendo um domingo e
também o feriado da Fraternidade Universal, fiz minha caminhada.
Escolhi uma rua diferente. Há muito tempo não passava ali de pé.
Vi coisas impressionantes, não as mudanças no comércio, não os
pontos fechados por causa da crise. Vi piores. Ninguém dá bom dia a
ninguém, imagine-se um sonoro “Feliz Ano Novo!” Só se via
caras amarradas, ainda bem que poucas. Pelo menos para mim e minha
mulher (nós sempre caminhamos juntos), ninguém abriu os lábios,
salvo quando chegamos a uma banca de revista, na ponta linha, para
pegar o jornal. O dono da banca quase não levanta a cabeça para
atender. Por sorte, encontramos o Dr. Itamar Costa, médico e
cronista que mora ali por perto, e tivemos sorrisos largos e abraços
calorosos. Que homem educado, hem?
- Ele devia estar na Academia
Piauiense de Letras. Por que não vai? - Mécia pergunta.
-
Ele
vai entrar, é que ainda não chegou a hora, eu disse. Talvez seja o
próximo. Só não desejo que seja na minha vaga, pois quero votar
nele, lembrando da mesma frase que me dissera o poeta Vidal de
Freitas, grande benemérito de Picos, onde foi Juiz de Direito, por
muito tempo, ali criando o curso ginasial, que Picos ainda não
tinha. Ele foi o mentor do Colégio que depois foi denominado “Marcos
Parente”.
E
seguimos os nossos passos de volta pra casa, ou melhor, nosso
apartamento: - Ela rezando suas rezas e eu imaginando como escrever
esta crônica. Será medo que essa gente tem da gente? Será
pensando que todos são ladrões, malfazejos? Era esta a primeira
pergunta que vinha à minha cabeça. Ou então é indiferença pela
vida, pelo tempo. Se não tiver cuidado, eles tropeçam em você. Não
tire os olhos dos poucos que vão e vêm. Tudo tão diferente de uns
quinze anos atrás! Hoje, os governos são desumanos, fazem leis que
dizem proteger uns, mas desprotegem outros, em maior número de
pessoas. Leis desumanas. Os homens das leis, fazem-nas para si, em
causa próprio, leis casuísticas. Quem sobrar que se dane.
Quem
andar pelas ruas de Teresina vai vendo como rola a desumanidade nas
pessoas. Mesmo pela manhã, quando o tráfego está manso, ralo,
quase nenhum carro nas ruas e avenidas, e se é domingo ou feriado
prolongado, menos ainda. Os dirigentes de tais veículos não têm a
menor atenção aos pobres idosos que estão fazendo suas caminhadas
nesse horário: das 7 às 9 h da manhã. Com relação a eles mesmos,
os que dirigem veículos, há uma espécie de competição para ver
quem chega primeiro. Pois os pedestres, já sabemos, nada merecem a
não ser atropelamentos ou carreiras, com a grande probabilidade de
queda, muitas vezes irrecuperáveis. Os pobres ciclistas sofrem
quando vem um carro, e neste seu desespero de chegar à obra se é
dia de trabalho, ou em casa, se trabalha na noite, vigias, garçons,
etc., vão na mesma pisada, correndo sem parar. Só observam os
carros para não serem pisados. Em resumo, o desrespeito é assim:
carro grande é grande, tem todos os direitos; carro menor vem
depois, mesmo que sejam camionetas. E os carrinhos, novos ou velhos,
que se cuidem, pois há uma chusma atrás deles. Não falemos nos
motoqueiros. Estes andam numa disparada, parece que o mundo vai
acabar-se. Ou são eles que vão morrer?
Pedestres? Entre eles pode
haver ladrões, assaltantes disfarçados de pedintes, esmoleres,
pessoas que pedem informação de ruas, hospitais etc., mas o que
querem mesmo é nossa bolsa, nossos documentos, nosso celular, hem?
Ninguém, em Teresina, respeita as leis do trânsito. De mil tem um
que anda com luz acesa, que faz o sinal na lanterninha mostrando
para onde vai, que pára dando lugar a outro passar, mesmo que seja
sua vez, por gentileza. Não falei nem vou falar nos terríveis
carros de som que infernizam os nossos ouvidos durante a noite e vão
até de manhã. Há mais rapazes (e até moças) da alta burguesia
que dormem o dia todo, de noite vão pra festa e se embriagam e saem
por aí fazendo “cavalos de pau”, para morrer ou matar, morrer e
matar. Os jovens de hoje não têm sonho. Morrem logo. De desastre de
carro, de bebida e outras drogas, de nada – simplesmente se
suicidam. A desumanidade ocorre não apenas no trânsito: jogam lixo,
pedras, paus, galhos de árvores, tudo no passeio e no leito das
ruas. Eles não sabem que o passeio (calçada), é do pedestre. Como
é que pode? Plantam plantas onde não devem e deixam morrer de sede
as que dão sombra.
Na volta, quando chegamos à
pracinha que há no cruzamento das Avenidas Homero Castelo Branco e
Dom Severino, vimos uma mulherzinha bem magra, distante, do outro
lado da praça. Pareceu-me que estava doente ou com forme. E um
homem, parado do lado de cá, brigava com ela, querendo que fosse,
rapidamente, sentar-se num banco perto dele. Ela foi apressando…
Não digo chorando porque não lhe vi as lágrimas, era distante.
Fiquei parado, observando.
Afinal de contas, quem são?
O que ele quer dela? O homem a maltrata. A moça, de tão magra,
caminha devagarinho.
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