sábado, 29 de junho de 2013

NORDESTE: ORIGEM DA LITERATURA BRASILEIRA

    
    Francisco Miguel de Moura*
     e Luiz Fernandes da Silva**

          O Nordeste teve a primazia de ser governado por um Príncipe, Maurício de Nassau. A cidade de Recife e a região foram privilegiadas economicamente, no começo da colonização portuguesa. E conservou essa primazia durante muitos anos, com a criação e funcionamento da Faculdade de Direito de Olinda e Recife, onde estudaram Castro Alves e Tobias Barreto, além dos grandes vultos históricos e artísticos do século XIX e começo do século XX, como Da Costa e Silva, Clóvis Beviláqua e Clodoaldo Freitas. Sempre fomos o principal celeiro das artes. Na música, Luiz Gonzaga (o Gonzagão) preencheu um século de novidades levadas até os confins do país. Ninguém, no Brasil, popularizou tanto a música sertaneja quanto ele. Citar as grandes figuras do passado e do presente seria um desperdício. Bastaria um Manuel Bandeira e um João Cabral de Melo Neto, os romancistas Graciliano Ramos, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Jorge Amado, Assis Brasil (este ainda vivo e produzindo muito), que depois de tantos anos morando no Rio, volta a sua terra, o Piauí, para o bem dos piauienses e do Brasil, daqui a enviar toda a sua enorme bagagem e experiência. Mas, omissões indesculpáveis seriam deixar de citar Fontes Ibiapina, O. G. Rego de Carvalho, H. Dobal, Torquato Neto e Mário Faustino, como expoentes da cultura. 

           Notabilizaram-se antes, José de Alencar, Raquel de Queiroz, e atualmente Hardi Filho, Francisco Carvalho e Nilto Maciel (os maiores do Ceará), em evidência. No Piauí, já falamos em alguns, “mas falta o poeta e prosador Francisco Miguel de Moura, de quem não me canso de exaltar os méritos, glória do pequeno estado do Piauí”, palavras do também poeta e divulgador da literatura do Nordeste para o Brasil, Luiz Fernandes da Silva. “Com seu pequeno jornal ‘Correio de Poesia’, Luiz Fernandes da Silva, tem feito bem aos autores e à literatura, por ser também um poeta originalíssimo e de grande força imaginativa”, diz Francisco Miguel. “E não estamos jogando confetes. Quem vier a ler nossa correspondência no futuro verá que é assim a nossa consideração recíproca”. 

            Passando à Paraíba, vem-nos à lembrança, em primeiro lugar, Diógenes Cunha Lima, extraordinário poeta, cronista e ensaísta de mão cheia. Autor de diversos livros que têm sido alvo de grandes elogios. Entre eles, um foi lançado, em segunda edição, com grande sucesso. “Natal, Poema e Canção”. Lançou outro livro volumoso, “O Semeador de Alegrias”, depois de “Memória das Águas”. Noutros artigos já citamos uma carrada de artistas paraibanos.  Sem eles, sem Franklin Távora, Luis da Câmara Cascudo e o poeta Franklin Jorge de Natal, tão atual quanto revolucionador das letras, que seria da cultura brasileira? Os estados onde nasceram esses valiosos escritores estão de mistura, pois o Nordeste é um.

             De Minas, terra de Guimarães Rosa e do grande poeta Anderson Braga Horta, veio também o excelente escritor, poeta, editor de uma revista de cultura com grande sucesso pelo Brasil afora e adentro. Este é o Francisco de Assis Nascimento, que nos manda, de vez em quando, seus livros para serem divulgados pelo “Correio de Poesia”.

            Para os brasileiros, analfabetos funcionais, especialmente os pais de família, que aprenderam o bê-a-bá das letras na escola da mídia e nunca mais abriram um livro (bom) ou uma revista de cultura, porque lêem por aquela cartilha: fiquem com essa gente que vocês serão agraciados não só pela amoralidade, mas pela má literatura e arte que sabem infundir nessas cabeças vacilantes do mundo dos viciados em shoppings, tevê, internete, facebookes, músicas descartáveis, shows e boates pornográficas, para dizer o mínimo: de seus filhos. Se passassem ao menos num sebo iriam sentir a poeira do que se chama livro bom de cultura e arte, baratos e ainda e ainda conservados, porque seus compradores não tiveram a capacidade de lê-los e interpretar e os colocaram lá, como objetos perdidos ou sem valor.

    Literatura que pode ser chamada de literatura brasileira, além do Nordeste, vem do Rio Grande do Sul, através de autores como Érico Veríssimo, seu filho Luiz Fernando Veríssimo e Mário Quintana. Há os novos, e devem ser citados, em primeiro lugar, Nelson Hoffmann (romancista) e a prosadora e poeta Carmen Sílvia Pressotto. São autênticos, são puros, são nascidos das origens e confirmados pela música popular e pelo folclore, conservados de pai para filhos. A literatura do Paraná e de São Paulo é intragável: uma mistura de máquina, mídia e ferrugem, em nada caracterizando, o povo, a região, a sociedade propriamente. A verdadeira arte que há no nosso Brasil vem do Nordeste, enquanto o Rio é apenas uma caixa de ressonância. Exceto Machado de Assis e Lima Barreto, os demais são de Minas ou de outros recantos do país. Não importa que a mídia nos queira impingir romances de terceira e quarta categoria, vindos de gigantes editoras dos Estados Unidos. São as universidades, logo elas, que estão caindo no “conto do vigário” desse tal de ENEM que, a pretexto de incluir os alunos “quotistas” de cores, pobres e/ou feitos nas péssimas escolas públicas (no mínimo, os péssimos profissionais do futuro), estão destruindo as culturas regionais e, por conta disto, a federação (e a democracia nas letras), confundidas na blenorragia da mídia.

Um comentário:

José João disse...

Agora sejamos honestos, como um texto "desse tamanho"? Para nós, os nordestinos esse não é um texto, é uma obra prima relatando claramente a realidade brasileira. Trabalhos literários assim deveriam ser publicados nos livros didáticos, deviam estar nas escolas. Mas infelizmente é como diz o autor, o que agora vale é "blenorragia da mídia. Francisco, parabéns. Ainda bem que você existe para nos brindar contando verdades tão elegantemente.

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