sexta-feira, 14 de novembro de 2008

AUTO-AJUDA, O QUE É ISTO?

Francisco Miguel de Moura- Escritor*


Admitamos o seguinte diálogo amigável: - “Você não me entendeu”. O outro responde: - “Entendi, sim”. Esta não é uma forma dialogal das melhores para quem quer chegar a bom termo. Pode ser o começo de uma altercação, uma conversa sem fim, para não atingir nenhum objetivo, ou um princípio de briga, de rixa, de intriga.

Agora experimentemos outra: - “Não sei se fui claro, vamos tentar nova explicação para nos entendermos melhor”. Prossegue o outro: – “Por que não?” Diga”.

Na primeira forma há um claro propósito de convencer o outro a qualquer custo, uma forma ditatorial de diálogo: só o primeiro falante entende; seu interlocutor é de curta inteligência. Para que qualquer conversa chegue a bom termo é necessário sejamos polidos; assim também nas cartas, nos telefonemas. Não são conselhos, é a realidade. Cada dia a comunicação – observada por quem entende um pouco de psicologia, por ter lido muito (especialmente romances), não somente livros de ciência – passa por esse tipo de diálogo.

Literatura de auto-ajuda – com consciência, suportem o pleonasmo linguístico – é importante. Já fui praticante, na juventude. Li os livros de Dale Carnegie – “Como fazer amigos e influenciar pessoas” e “Como evitar preocupações e começar a viver”. São obras de quem viveu o problema e, além disto, tem ciência da psicologia. Não são apenas pílulas, pensamentos mágicos. Literatura americana? Não importa. Sou contra a subliteratura, de qualquer país ou língua: – aqueles remédios de água, farinha e açúcar para enganar. O mesmo que placebos. Auto-ajuda de frases, contos, anedotas e fábulas que têm o poder de fazer a criatura feliz plenamente – feita por quem nunca meteu os olhos num bom tratado de filosofia, num romance de Dostoiévski, Tolstói, Balzac, Flaubert, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Hemingwey, Thomas Mann, nos “Evangelhos” , na Bíblia. Tem lido, mas apenas Paulo Coelho e outros que tais, ou folhetins que se vendem nas bancas aos montes, falando em cawboys e mocinhas, nas montanhas dos EUA, sei lá mais o quê, contando uma história romântica apenas para passar o tempo... Fuja dessa auto-ajuda.

Toda boa literatura é auto-ajuda. Os livros de ciência, bem escritos e de autores confiáveis, são auto-ajuda. Mas, essa subliteratura apregoada pela televisão, pelas colunas dos jornais e revistas denominadas de “Os dez mais lidos”, nunca. Podem ser “Os dez mais vendidos”. São outra coisa. Eles não merecem! São feitos simplesmente para ganhar dinheiro. São auto-ajuda dos seus autores e editores, nada mais.

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*francisco miguel de moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, Piauí. endereço eletrônico: franciscomigueldemoura@superig.com.br

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