quinta-feira, 10 de abril de 2008

MONTEZUMA DE CARVALHO - HISTORIADOR


Francisco Miguel de Moura*





JOAQUIM DE MONTEZUMA DE CARVALHO foi meu correspondente por longos anos. Lia seus artigos constantemente e os livros que me mandava. Lembro-me bem, agora de um desses trabalhos a respeito de Galiza. Apurava-se ali que o que faz a diferença entre os homens e os animais é a cultura. Deste ponto de vista, os homens são iguais, compõem a humanidade. Mas somente até aí. Porque os povos e sua cultura se diferenciam ao perpassar dos séculos, em virtude das distâncias, do isolamento, da geografia, da família, das religiões, das ideologias, das raças, dos meios de vida e transporte, das descobertas, das línguas e de sentimentos especiais, a saudade, por exemplo. Daí o desenvolvimento da arte e da cultura de modo singular em civilizações próximas como Grécia e Roma. Tudo isto resultou nas grandes e pequenas nações, nas famílias, nos povos insulares, nos continentais e na diversidade dos pequenos países. No conjunto, mesmo dentro de um país há muitas nações, divisões, etc. De caráter político, portanto, visto que todos os governos são mantidos por uma maioria quase sempre minoritária e absoluta. Quando no país se pratica a democracia formal, ainda bem. Então, as minorias são vistas, embora que nem sempre respeitadas. Às vezes são temidas, perseguidas, massacradas nas guerras – todas injustas.

Galiza pertence politicamente à Espanha, mas de forma indevida, pois até sua língua, o galego, é um dialeto português, ou irmão. A política divide o que deve ser unido e une o que deve ser deslindado, sem critério a não ser o do poder.

Montezuma transcreve, no artigo em pauta, um soneto de Leite de Vasconcelos, grande filólogo português em dialeto galego, onde mostra que “Leite de Vasconcelos nutriu um afeto desmedido à Galiza, pois (...) sabia que lhe estava proibido amputar o que nascera num berço comum de múltiplos laços e estreitos vínculos na língua, nos costumes, etc. aquilo a que podemos chamar a grande pátria ideal das memórias coletivas afins e escapa aos poderes políticos incultos e bárbaros, cada dia mais desconhecedores da modernidade do pretérito, aqueles poderes tão só lidando com o presente efêmero com as governantas de casa...”

Em carta de 16-11- 2004, eu reclamava que sentia sua falta e perguntava por que não me escrevia com mais freqüência. Gostaria de saber sua opinião de mestre sobre a eleição de Bush, nos Estados Unidos. O mundo vai melhorar ou piorar com ela? Vamos ter mais guerras do que as que já temos? Depois de longa abstinência (sua última carta é de 22-4-2007), recebo um e-mail de 7-3-2008, que me dá conta do falecimento, em Lisboa (6-3-2008), de JOAQUIM DE MONTEZUMA DE CARVALHO, escritor de alto mérito, na área da crítica e da filosofia. Advogado de profissão, dele publiquei matérias nesta Capital e expus seu pensamento em artigos que assinei na imprensa.

Suas mensagens eram curtas, incisivas, porém se acompanhavam de notícias, opiniões, recortes e fotos, as mais diversas.

JOAQUIM DE MONTEZUMA DE CARVALHO era um mestre. Seus livros mais divulgados foram “Sor Juana Inés de la Cruz e o Padre Antônio Vieira” (1998), “Cervantes em Portugal” (2005) e “Panorama das Literaturas das Américas” (de 1900 em diante), recebendo muitas honrarias por sua divulgação da cultura. O jornal “O Primeiro de Janeiro”, do Porto, publicará em breve, em livro, a série de seus ensaios divulgados ali constantemente. Os amigos não morrem. Além de no coração dos intelectuais dos quais se fez amigo durantes os seus anos de vida, JOAQUIM DE MONTEZUMA DE CARVALHO está em lugar de relevo na História.

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* Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina, PI. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br

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