quinta-feira, 10 de abril de 2008

II - EU SOU BIPOLAR, E DAÍ?



Francisco Miguel de Moura*

Não tinha o propósito de voltar ao assunto, mesmo porque não sou um especialista, isto é, um médico, um professor do assunto, mas apenas um paciente. E só o faço porque encontrei pessoas com o mesmo problema, que me felicitaram pelo que escrevi. Uma dessas pessoas me disse que tomar banho de sol também é muito bom, faz bem ao depressivo, coisa que já sabia, e só não foi colocada no artigo anterior por falta de espaço. Esse dito leitor acrescenta que a depressão não vem sem aviso. O fato é que não devemos ter vergonha de nenhum transtorno de saúde, seja de ordem, física, psíquica, emocional ou fisiológica. Principalmente no caso das neuroses e psicoses. Contar tudo aos parentes, vizinhos, amigos, colegas de profissão ou antigos companheiros de estudo. Se ninguém quiser ouvi-lo, faça como eu, descreva-a sem lamentações. Isto é o principal. E as crises de depressão hão de ficar minimizadas, abreviadas. Nunca um ensinamento bíblico foi tão importante como o “orai e vigiai”, para os que sofrem de TB (transtorno bipolar), que não é mais do que um desequilíbrio na área de emoção, em nada afetando o cérebro, o raciocínio e a consciência, até onde se sabe. Orar seja aqui traduzido também por confessar, falar, além do sentido próprio; vigiar, todos sabemos o que é.

Hoje, ao passo que aumenta a média de vida, constata-se também que a maioria dos aposentados e idosos sente depressão, uns mais outros menos, sem a perceptível fase de excitação. Há como que uma tendência a considerar-se aquela em separado da outra, a dos que “sofrem” as fases também de excitação (alegria exagerada), às vezes mais freqüentes do que as de tristeza, melancolia. Geralmente todas as pessoas foram mais excitadas que depressivas em criança e adolescente e depois até chegar à maturidade, digamos que à “idade do lobo”, a dos quarenta anos. Daí em diante a depressão pode estabelecer-se e tornar-se crônica. Um neurologista a quem consultei recomendou-me cuidado porque a depressão – esse descontrole do sistema emocional – pode favorecer o estabelecimento de outra doença mais grave e, assim, levar à morte, sem falar na qualidade vida, que fica muito aquém da desejada.

Diante de tudo, o que se pergunta é se o nome de bipolaridade é correto ou não, se há dois transtornos independentes: a depressão e a hipomania. Trata-se clinicamente uma da mesma forma que a outra? Os que sofrem depressão podem ter pequenos períodos de euforia, estes quase sempre menores, salvo nos hipomaníacos crônicos. Como assim ajo, recomendo esses antídotos: não freqüentar lugares tristes, especialmente os fúnebres, tais como cadeias, hospitais, sentinelas ou velórios, enterros, cemitérios. Tristeza traz tristeza, alegria traz alegria. Portanto, cuidar da melancolia ou tristeza com alegrias comedidas; assistir a bons e amenos filmes; ouvir músicas (melhor clássicas); ler bons livros, sem excluir os de auto-ajuda. Quando sofri uma das mais críticas depressões, lá por perto dos meus quarenta, praticamente levantei-me com a leitura de “O Amante de Lady Chatterley”, de D. H. Lawrence, um romance agradável que explora o amor e a sensualidade. Outra coisa recomendável é dirigir devagar, com a cautela necessária. Alimentar-se bem (o que não significa comer muito). Não ficar totalmente inativo; trabalhar fazendo o que gosta, o que quer, quis e nunca pôde; meditar e fazer exercícios físicos. Tudo moderadamente. Não ler nada que escave problemas existenciais ou dogmas. E dar tempo ao tempo. E bom tempo há de voltar.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras, e-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br e na web: cirandinhapiaui

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