PROF.
SANTANA - UM SÁBIO E SONHADOR
Francisco Miguel de Moura*
Raimundo Nonato Monteiro de Santana, filho de Arão Ferreira de Santana e Maria Monteiro de Santana, nasceu em Campo Maior-PI aos 27-02 -1926 e faleceu em Teresina-PI, em 15-06-2018, aos 92 anos de idade. Casou-se com Magnólia Nogueira Paranaguá, de cujo consócio nasceram os filhos Aarão, Ângela, Guadalupe, José Francisco, Miriam e Sônia. Inicialmente registramos o essencial de sua biografia física, acrescentando mais que durante toda sua vida ativa Raimundo Santana foi professor, cuja atividade se coadunava bem com a sua pessoa culta, sábia e sonhadora. Formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará, em 1949, depois também diplomado pelo Instituto Superior de Economia, em Economia Política,
Teceremos, suscintamente, um pouco da
sua biografia cultural e afetiva, visto que nenhum homem vale apenas pelos anos
de vida e sim por suas obras e pela cultura que amealhou e transmitiu em favor
de sua terra e dos seus contemporâneos. Pois cultura e saber sinonimizam
libertação. Não é fácil tecer uma biografia
do Professor Santana, homem culto, sábio e sonhador, deixando seus rastros em
tudo o que realizou. Antes de tudo, me proponho dizer um pouco da nossa vivência
e da amizade que construímos, em pouco tempo, quer como membro da Academia
Piauienses de Letras, quer como pessoas de cultura, de profundas leitura e de
sábia construção do dia a dia. Lembro-me da primeira vez que ouvi o Prof.
Santana, na Faculdade de Filosofia do Piauí, assistindo ouvindo uma palestra
sua, não me lembro especificamente do assunto, mas certamente tratava de suas
variadas formas de apresentar a economia brasileira, a cultura e o desenvolvimento
cultural do Piauí e do Brasil. Ao meu lado, estava o colega Antônio José
Medeiros, ambos atentos às as palavras que o Prof. Santana pronunciava naquela
noite, ora aprovando com o silêncio, ora com palmas. Em dado momento, como
questionador contumaz, eu quis interrompê-lo com uma pergunta. Porém meu colega
sugeriu que eu não o fizesse, porque, com certeza, mais à frente o
questionamento de agora iria ser explicitado pelo orador. Dito e feito. O Prof.
Santana, consciente e sábio, ia desenvolvendo o seu raciocínio veloz e vibrante
tanto quanto certeiro. Sua imagem de orador e sábio, ficou-me por algum tempo.
Até uma segunda vez, quando me encontraria com ele, numa livraria de nossa
Capital. É que ele já estava deixando Brasília, onde lecionava na Universidade
Federal e deseja fixar residência no Piauí. Aí, sim, passei a conhecer o homem
natural, desvestido dos seus argumentos científicos e lógicos e de sua bela
oratória. Foi, então, que eu comecei a sentir a criatura sensível, humana e
amigável. E com esta nova visão, passei a conviver no ambiente acadêmico, onde
eu era Secretário Geral e ele ainda apenas um acadêmico como eu. Lembro-me que
eu, o Hardi Filho e nossas esposas fomos visitá-lo numa casa simples e modesta
da Zona Sul de nossa Capital. Fomos recebidos gentilmente por Dona Magnólia,
sua amável esposa.
E esta amizade, ali iniciada, mereceria um capítulo à parte, mas registremos o
essencial. Posso dizer que na Academia ou
onde quer que estivesse, ele lembrava Dona Magnólia com uma doçura de
palavras que propriamente sò saem da
boca de quem muito ama. Quando ela
faleceu, ele quase chorava ao citar o nome dela. A partir desse episódio triste de
sua vida, creio que ele começou a morrer, certamente uma das causas do
abatimento de sua saúde. Registro que daí nossa amizade continuou mais próxima,
especialmente na Academia Piauiense de Letras, onde ele, ocupante da cadeira n°
32, patroneada por Antonino Freire da Silva. Algum tempo depois, o Professor Santana foi
eleito Presidente da “Casa de Lucídio Freitas”.
Seu mandato foi nos anos 2020 e 2021, E, ao tempo, eu era o Secretário
Geral. Lembro-me bem que, durante seu mandato, animado por sua dinâmica, desdobrei-me
em zelo no exercício do que me cabia. No final, aberta a vaga da Presidência,
na Academia Piauiense de Letras, ele me convidou, nestas palavras: “Chico Miguel, penso em apontar você para o
cargo de Presidente da Academia. Concorra e eu me comprometo a apoiá-lo.” Eu me desculpei e agradeci o seu belo gesto,
dizendo que eu não tinha queda para dirigir. Na Presidência, embora alguns
funcionários se queixassem depois de que ele era muito rigoroso, eu interpretava
seu estilo de trabalho seguro e zeloso de
quem quer fazer o máximo possível. Não posso esquecer de que o Prof. Santana
sempre me ouvia antes de tomar decisões importantes. Lembro-me de quando eu
havia preparado a Revista da Academia, especialmente na parte de revisão, e
levei-a para ele assinar a página de apresentação. E ele confiou-me a referida escrita e
aprovou-a totalmente. Durante o seu mandato, ele sempre me levava, em
companhia, quando íamos visitar empresas
e requer, junto a elas, auxílio para publicação de livros do interesse da
Academia. Algumas obras, não lembro
todas, foram feitas com auxílio do Banco do Nordeste, entre as quais, a
primeira edição de “Literatura do Piauí”, 2001, de minha autoria. Também foi promovido, junto ao jornal “Meio Norte”, o suporte econômico para edição
de 16 “Revistas” sobre ilustres piauienses já falecidos, escritas especialmente
por acadêmicos da APL, cuja edição total esgotou-se rapidamente. Lembro que o
primeiro número focalizava Petrônio Portela e o último, Vidal de Freitas. Foi
um empreendimento que deixou lembrança e o rasto editorial da Academia, sendo,
cada uma delas, de per si, enviada por mim à Biblioteca Nacional. Outro empreendimento editorial importante, que também resultou em publicação
do livro titulado de “O Brasil no Limiar do Novo Milênio”, 2021, editado pela
Academia Piauiense de Letras, cm convênio com a Fundação Cultural Banco do
Brasil. Neste trabalho constam personalidades
como Assis Brasil, Cassio Nunes, Clovis Moura, Cristovam Buarque, Everton dos
Santos, Manuel Paulo Nunes, Paulo Bonavides, Teresinha Queiroz e Washington de
Souza Bonfim, cada uma dessas matérias foram base de conferências no palco da APL, pelos
autores, como resumo do que aconteceu no
romance, na poesia e nas demais formas de arte, no Brasil, como história,
filosofia e até economia.
Para mim, o Prof. Raimundo Santana
destacou-se, não só como escritor, mas também como editor. E foi por causa
desta sua importante atividade, que, na
segunda edição de meu livro “Literatura
do Piauí”, editada pela Universidade Federal do Piauí, em 2013, ao concluir a parte referente à “Geração
Meridiano”, e antes de iniciar a “Geração
do CLIP”, eu fiz uma digressão para
colocar o Prof. Raimundo Nonato Monteiro de Santana, o criador do Movimento de
Renovação Cultura, em 1960. Ali, eu registrei embora que de modo sucinto, sua a
atividade de influenciador cultural e editor que exerceu como Presidente da
entidade, propondo e editando apontamentos e capítulos da História do Piauí, de
autoria de Odilon Nunes e do Monsenhor Chaves, na “Revista Econômica”, além de
obras literária dos escritores Pedro Celestino e A. Sampaio, respectivamente,
denominadas de “Sinas de Seca” e “O
Velho Samuel”, entre outras, livros que eu gostei de ler quando eu chegue a
Teresina. E não esqueçamos que foi no
período de 1950-1960, que ele concebeu e
publicou importantes obras como “Introdução à Problemática
da Economia Piauiense” (1957), “O Desenvolvimento Econômico Nacional na
Teoria Econômica Atual” (1959) e “Evolução Histórica da Economia Piauiense”
(1964).
OBRAS
CONSULTADAS:
Moura,
Francisco Miguel de – Literatura do
Piauí, Editora da Universidade Federal do Piauí, 2013.
Santana,
Raimundo Nonato Monteiro de - Integração
Nacional da Economia Brasileira, Governo
Estadual, Teresina-PI, 2019.
Santana, Raimundo
Nonato Monteiro de – Apontamentos para a História Cultural do Piauí, Ed. FUNDAPI,
Teresina, PI, 2003.
ANEXO:
Por último, como poeta que sou,
permiti-me fazer o soneto abaixo, em sua merecida homenagem:
SONETO AO AMIGO
RAIMUNDO SANTANA
Raimundo Nonato Monteiro de Santana,
Amigo dos amigos, com um senso
abençoado,
Por isto, muito forte e mais do que
amado,
Produziu muitas obras... Tanto a
força humana!
Seu saber foi de estudo e de
esforço redobrado,
Com voz forte, voz clara a ninguém
enganou,
Os bons livros do mundo muito o
clareou,
Jamais se viu sem força e nem sequer
cansado.
Aos governos mostrava como ver o
povo,
Dono de um viés em busca do que é
novo,
Derrotou às carrancas, sem fazer
ruído.
Raimundo Nonato vai muito
além do além,
Com gestos varonis, vibrando em fazer bem,
Em tudo, mostrou o novo, um fruto já
crescido.
_____________
*Francisco Miguel de Moura, poeta
brasileiro
.
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