terça-feira, 23 de setembro de 2025

 

               PROF.  SANTANA - UM SÁBIO E SONHADOR

                                                              Francisco Miguel de Moura*

         Raimundo Nonato Monteiro de Santana, filho de Arão Ferreira de Santana e Maria Monteiro de Santana, nasceu em Campo Maior-PI aos 27-02 -1926 e faleceu em Teresina-PI, em 15-06-2018, aos 92 anos de idade. Casou-se com Magnólia Nogueira Paranaguá, de cujo consócio nasceram os filhos Aarão, Ângela, Guadalupe, José Francisco, Miriam e Sônia.  Inicialmente registramos o essencial de sua biografia física, acrescentando mais que durante toda sua vida ativa Raimundo Santana foi professor, cuja atividade se coadunava bem com a sua pessoa culta, sábia e sonhadora.  Formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará, em 1949, depois também diplomado pelo Instituto Superior de Economia, em Economia Política,

         Teceremos, suscintamente, um pouco da sua biografia cultural e afetiva, visto que nenhum homem vale apenas pelos anos de vida e sim por suas obras e pela cultura que amealhou e transmitiu em favor de sua terra e dos seus contemporâneos. Pois cultura e saber sinonimizam libertação.  Não é fácil tecer uma biografia do Professor Santana, homem culto, sábio e sonhador, deixando seus rastros em tudo o que realizou. Antes de tudo, me proponho dizer um pouco da nossa vivência e da amizade que construímos, em pouco tempo, quer como membro da Academia Piauienses de Letras, quer como pessoas de cultura, de profundas leitura e de sábia construção do dia a dia. Lembro-me da primeira vez que ouvi o Prof. Santana, na Faculdade de Filosofia do Piauí, assistindo ouvindo uma palestra sua, não me lembro especificamente do assunto, mas certamente tratava de suas variadas formas de apresentar a economia brasileira, a cultura e o desenvolvimento cultural do Piauí e do Brasil. Ao meu lado, estava o colega Antônio José Medeiros, ambos atentos às as palavras que o Prof. Santana pronunciava naquela noite, ora aprovando com o silêncio, ora com palmas. Em dado momento, como questionador contumaz, eu quis interrompê-lo com uma pergunta. Porém meu colega sugeriu que eu não o fizesse, porque, com certeza, mais à frente o questionamento de agora iria ser explicitado pelo orador. Dito e feito. O Prof. Santana, consciente e sábio, ia desenvolvendo o seu raciocínio veloz e vibrante tanto quanto certeiro. Sua imagem de orador e sábio, ficou-me por algum tempo. Até uma segunda vez, quando me encontraria com ele, numa livraria de nossa Capital. É que ele já estava deixando Brasília, onde lecionava na Universidade Federal e deseja fixar residência no Piauí. Aí, sim, passei a conhecer o homem natural, desvestido dos seus argumentos científicos e lógicos e de sua bela oratória. Foi, então, que eu comecei a sentir a criatura sensível, humana e amigável. E com esta nova visão, passei a conviver no ambiente acadêmico, onde eu era Secretário Geral e ele ainda apenas um acadêmico como eu. Lembro-me que eu, o Hardi Filho e nossas esposas fomos visitá-lo numa casa simples e modesta da Zona Sul de nossa Capital. Fomos recebidos gentilmente por Dona Magnólia, sua amável esposa.
E esta amizade, ali iniciada, mereceria um capítulo à parte, mas registremos o essencial. Posso dizer que na Academia ou  onde quer que estivesse, ele lembrava Dona Magnólia com uma doçura de palavras que propriamente  sò saem da boca de quem  muito ama. Quando ela faleceu, ele quase chorava  ao citar o  nome dela. A partir desse episódio triste de sua vida, creio que ele começou a morrer, certamente uma das causas do abatimento de sua saúde. Registro que daí nossa amizade continuou mais próxima, especialmente na Academia Piauiense de Letras, onde ele, ocupante da cadeira n° 32, patroneada por Antonino Freire da Silva.  Algum tempo depois, o Professor Santana foi eleito Presidente da “Casa de Lucídio Freitas”.  Seu mandato foi nos anos 2020 e 2021, E, ao tempo, eu era o Secretário Geral. Lembro-me bem que, durante seu mandato, animado por sua dinâmica, desdobrei-me em zelo no exercício do que me cabia. No final, aberta a vaga da Presidência, na Academia Piauiense de Letras, ele me convidou, nestas palavras: “Chico Miguel, penso em apontar você para o cargo de Presidente da Academia. Concorra e eu me comprometo a apoiá-lo.”  Eu me desculpei e agradeci o seu belo gesto, dizendo que eu não tinha queda para dirigir. Na Presidência, embora alguns funcionários se queixassem depois de que ele era muito rigoroso, eu interpretava  seu estilo de trabalho seguro e zeloso de quem quer fazer o máximo possível.   Não posso esquecer de que o Prof. Santana sempre me ouvia antes de tomar decisões importantes. Lembro-me de quando eu havia preparado a Revista da Academia, especialmente na parte de revisão, e levei-a para ele assinar a página de apresentação.   E ele confiou-me a referida escrita e aprovou-a totalmente. Durante o seu mandato, ele sempre me levava, em companhia,  quando íamos visitar empresas e requer, junto a elas, auxílio para publicação de livros do interesse da Academia.  Algumas obras, não lembro todas, foram feitas com auxílio do Banco do Nordeste, entre as quais, a primeira edição de “Literatura do Piauí”, 2001, de minha autoria.  Também foi promovido, junto ao jornal  “Meio Norte”, o suporte econômico para edição de 16 “Revistas” sobre ilustres piauienses já falecidos, escritas especialmente por acadêmicos da APL, cuja edição total esgotou-se rapidamente. Lembro que o primeiro número focalizava Petrônio Portela e o último, Vidal de Freitas. Foi um empreendimento que deixou lembrança e o rasto editorial da Academia, sendo, cada uma delas, de per si, enviada por mim à Biblioteca Nacional.  Outro empreendimento editorial  importante, que também resultou em publicação do livro titulado de “O Brasil no Limiar do Novo Milênio”, 2021, editado pela Academia Piauiense de Letras, cm convênio com a Fundação Cultural Banco do Brasil. Neste trabalho constam  personalidades como Assis Brasil, Cassio Nunes, Clovis Moura, Cristovam Buarque, Everton dos Santos, Manuel Paulo Nunes, Paulo Bonavides, Teresinha Queiroz e Washington de Souza Bonfim, cada uma dessas matérias  foram base de conferências no palco da APL, pelos autores,  como resumo do que aconteceu no romance, na poesia e nas demais formas de arte, no Brasil, como história, filosofia e até economia.

          Para mim, o Prof. Raimundo Santana destacou-se, não só como escritor, mas também como editor. E foi por causa desta sua importante atividade, que,  na segunda edição de  meu livro “Literatura do Piauí”, editada pela Universidade Federal do Piauí, em  2013, ao concluir a parte referente à “Geração Meridiano”,  e antes de iniciar a “Geração do CLIP”, eu fiz  uma digressão para colocar o Prof. Raimundo Nonato Monteiro de Santana, o criador do Movimento de Renovação Cultura, em 1960. Ali, eu registrei embora que de modo sucinto, sua a atividade de influenciador cultural e editor que exerceu como Presidente da entidade, propondo e editando apontamentos e capítulos da História do Piauí, de autoria de Odilon Nunes e do Monsenhor Chaves, na “Revista Econômica”, além de obras literária dos escritores Pedro Celestino e A. Sampaio, respectivamente, denominadas de  “Sinas de Seca” e “O Velho Samuel”, entre outras, livros que eu gostei de ler quando eu chegue a Teresina.  E não esqueçamos que foi no período de 1950-1960,  que ele concebeu e publicou importantes obras como “Introdução  à Problemática  da Economia Piauiense” (1957), “O Desenvolvimento Econômico Nacional na Teoria Econômica Atual” (1959) e “Evolução Histórica da Economia Piauiense” (1964).

                               OBRAS CONSULTADAS:

   Moura, Francisco Miguel de – Literatura do Piauí, Editora da Universidade Federal do Piauí, 2013.

   Santana, Raimundo Nonato Monteiro de - Integração Nacional da Economia Brasileira,  Governo Estadual, Teresina-PI, 2019.                                              

     Santana, Raimundo Nonato Monteiro de – Apontamentos para a História Cultural do Piauí, Ed. FUNDAPI, Teresina, PI, 2003.  

                                        ANEXO:

           Por último, como poeta que sou, permiti-me fazer o soneto abaixo, em sua merecida homenagem:

 

         SONETO AO AMIGO RAIMUNDO SANTANA

 

Raimundo Nonato Monteiro de Santana,

Amigo dos amigos, com um senso abençoado,

Por isto, muito forte e mais do que amado,

Produziu muitas obras... Tanto a força humana!

 

 Seu saber foi de estudo e de esforço redobrado,

Com voz forte, voz clara a ninguém enganou,

Os bons livros do mundo muito o clareou,

Jamais se viu sem força e nem sequer cansado.

 

Aos governos mostrava como ver o povo,

Dono de um viés em busca do que é novo,

Derrotou às carrancas, sem fazer ruído.

 

Raimundo Nonato vai  muito além do além,

Com gestos varonis, vibrando em fazer bem,

Em tudo, mostrou o novo, um fruto já crescido.

_____________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro
.

 

                                                                                        

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