quinta-feira, 12 de setembro de 2024

 


SÓ ME CANSO DE MIM

 

                           Francisco Miguel de Moura*

 

 

Só me canso de mim quando repito

Um amor sem amor, grande ou pequeno:

Quando por repetir sou mais sereno

Do que o pulsar de uma paixão sem grito.

 

Só me canso de mim se sou pequeno

Quando a ação mais sentida não repito,

E, em lugar de mil berros, nem um grito,

E ao invés de severo sou sereno.

 

Só me canso de mim quando me cito

Em vez de grandes, poderosos mestres,

Para que noutro ouvido seja atrito.

 

Só me canso em saber que sou terreno...

Só me canso em saber, entre os terrestres,

Que sou deus, mas um deus muito pequeno.

 

_________________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

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