MANIFESTAÇÕES
POÉTICAS - ADN
Francisco
Miguel de Moura*
Salvo Oeiras e Parnaíba, o interior do
nosso Estado tem pouca tradição literária. Não quer dizer que obras de
escritores isolados não tenham sido perdidas para sempre nas malas ou comidas pelos
cupins. Ou alguns manuscritos ainda estejam a salvo, esperando os
pesquisadores. De Picos, entre os mais antigos, salva-se agora ADN: - Alberto
de Deus Nunes. “MANIFESTAÇÕES POÉTICAS” é o título de seu livro póstumo, publicado
em 2006, pela viúva, D. Almerinda B. Moura Nunes, ambos picoenses. Ele nasceu em 25 de abril de 1913 e faleceu em
19 de abril de 1969,
É evidentemente um poeta de muito
peso, levando-se em conta a época em que viveu e o isolamento dos poucos
intelectuais daquele tempo. Seu parente, Absolon de Deus Nunes, fundaria o jornal
“A Ordem”, em 1950, mais voltado para
a política partidária. Vivendo a solidão familiar, longe da terra, dos amigos,
numa sociedade ainda bastante rural e com forte influência de Casimiro de Abreu
e dos ultra-românticos brasileiros, fez uma poesia que se põe em pé, pela
qualidade, pelo vigor, pela certeza de que perduraria. Fez sonetos admiráveis,
tecnicamente sem defeito e de boa inspiração, como “Mais Bela”, que vem na segunda orelha da publicação, e aqui o
transcrevo:
“Tenho
sonhado, tendo em minhas mãos
As mãos
macias de feliz beldade.
Meu sonho vai a todos os desvãos,
Até
tocá-la com suavidade...
E
sempre com entretenimentos sãos
Me fico junto dela, sem maldade.
Até que, fatalmente, meus irmãos
Acordam-me, cruéis, sem caridade...
Às vezes acordado estou sonhando,
Absorto fico só pensando nela,
Pelo formoso busto passeando...
Se um
dia o mundo inteiro fosse vê-la
Entre
as mais lindas misses desfilando,
Dar-lhe-ia,
certo, o título de mais bela!”
“Poderíamos ter citado “A Profissão de professor”, “Picos”, “14 Filhos”, “Crepúsculo”, “Teus
olhos”, “A meretriz” e outros tantos, que têm a mesma força lírica, as
filigranas da invenção que lhe brotava da mente, a tristeza e a saudade das
boas coisas da vida, dos parentes, dos seus amigos, da paisagem da terra natal,
dos tempos de criança, de tudo aquilo que faz bem aos olhos e ao coração do
poeta. Mas, se a vontade de voltar nunca foi realizada, o sonho do livro,
embora que muito depois, sua querida esposa (a segunda) teve a grandeza de
editá-lo, para glória de Picos, do Piauí e da literatura.
***
Obs.:
Este artigo foi publicado no jornal “O
Dia”, de Teresina, mas não consegui saber exatamente a data.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta, romancista, contista, cronista e historiador. Nasceu no Piauí e mora em Teresina-PI.
*Francisco Miguel de Moura, poeta, cronista,
contista, romancista e historiador. Nasceu em Francisco Santos-PI, em
16-06-1933.
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