quinta-feira, 22 de setembro de 2022

 

           

LIRAS SINFÔNICAS – AREIAS, CRÍTICA DA 1º EDIÇÃO

                                                             HERCULANO MORAES*


 
                                

         Aqui estamos nós para lhes apresentar outro poeta das harpas piauienses. Outro jovem que orna a poesia do Piauí com produções extraordinárias, encantadoras.  Trata-se desta vez do festejado autor de “AREIAS”, opúsculo lançado no mercado da curiosidade do povo de nossa terra, nos primeiros meses deste ano de 1966, de grandes e espetaculares lançamentos literários. Francisco Miguel de Moura, ou Chico Miguel, porque assim o chamamos na intimidade, veio ao mundo no dia 16 de junho de 1933. É filho de Miguel Borges de Moura e D. Josefa Maria de Sousa. Seu primário, alicerce indelével do primeiro passo, foi feito com seu próprio pai, que mantinha uma escola particular, depois passando a publica, municipal, em 1941. Nosso focalizado nasceu no povoado Jenipapeiro, pertencente, àquela época, ao município de Picos, deste Estado. Em 1960, o povoado onde nasceu o nosso poeta foi elevado a cidade, com a denominação de Francisco Santos.

          Por motivos vários, entre os quais se sobreleva a situação financeira de seus pais, teve que deixar de estudar, voltando somente depois de completar 20 anos, matriculando-se em 1954, no Ginásio Municipal Picoense. Em 1956 fez o concurso de Auxiliar do Banco do Brasil e foi aprovado.

          Já funcionário do Banco do Brasil, tendo sido aprovado com boa classificação em concurso realizado em Picos, primeiramente, e depois em Fortaleza – CE, quando passou a integrar o quadro de Escriturários do Banco do Brasil, servindo na Agência de Picos, continuou seus estudos no Ginásio referido e depois na Escola Técnica de Comércio de Picos, hoje pertencente à Associação Comercial daquela cidade, único estabelecimento de ensino médio  existente naquela época.

          Face à sua inteligência e aos seus conhecimentos, foi transferido para o interior do Estado da Bahia – cidade de Itambé – para assumir as funções de Chefe de Serviço da Carteira Agrícola, onde bem desempenhou suas funções. Entretanto, por motivo de doença  em si, em seus familiares aqui (pai, mãe e sogro), não pôde continuar naquelas funções como era sua vontade.  Foi transferido para Teresina, por solicitação sua, onde voltou novamente à condição de simples escriturário.

          Casado com D. Maria Mécia Moraes Araújo Moura, três rebentos alegram o seu lar: Franklin, Laudimiro e Francisco Júnior. Acha que, entre os que concorrem (ou almejam) a uma cadeira na Imortalidade de nossa Academia de Letras, o escritor J. Miguel de Matos é um dos mais credenciados, não esquecendo o mérito dos demais.

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          Sua poesia, na maioria das vezes, focaliza a própria vida: Seu labutar incessante e quotidiano, suas desgraças e seus martírios, suas lágrimas e suas dores. Seu poema “O Copo” é uma afirmativa do que dissemos:

                              “A poesia rústica do copo,

                              o homem simples vai,

                              pela manhã que vem,

                              brindar à solidão

                              de sua alma esmagada

                              ao peso da desgraça,

                              da pobreza amém.

 

                              Bateu na mulher,

brigou com o amigo,

discutiu com o patrão, 

perdeu o trabalho:

- Vai para o copo,

único amigo que o fará sonhar

e esquecer

e perdoar

a vida que passa rodando

pelo fundo dos olhos bons.

 

Não o condenem  por isto.

É um santo desconhecido,

sua vida não lhe vale.

Consolação.

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Também o copo

- entornado e consciente -

sem esperança de chorar

a última lágrima do dia

antes do poente,

preferiu suicidar-se

mas sub-repticiamente.

Sua vida não lhe vale.

Consolação.”

          Noutras vezes, tateia no mundo da infância passada, e a saudade lhe invade o espírito. Inspira-se. As figuras se embaralham na sua mente. E sua cidadezinha, e berço do seu berço, aparece qual um milagre na noite de sublime inspiração:

                    Entre dois chapadões – terra bendita,

                    de alma mais pura do que a branca areia,

                    terra que ouviu de minha mãe, contrita,

                    rezas a Deus logo depois da ceia:

 

                    És tão humilde e pequenina aldeia

                    que, pela vida, em nosso peito habita.

                    Qual semente daquele que semeia,

                    És semente do amor – Terra Bendita!”

          Chico Miguel é um homem simples. Tem maneira toda sua, toda especial de tratar com suas amizades. Poeta primoroso, seus trabalhos têm beleza e arte, não artifício. Moderno, em todos os sentidos, ultrapassou as barreiras do parnasianismo e do simbolismo como escolas, e trouxe, para os apreciadores da Poesia, um estilo novo e diferente para este Piauí, que ainda não havia conhecido o verdadeiro sentido da poesia moderna. Não porque todos sejamos ignorantes no assunto, mas porque as classes que nos deviam orientar no caminho da moderna literatura divorciam-se da juventude, e deixam-na à mercê de alienações. Chico Miguel é diferente: – Intrépido e audacioso, lutou, venceu, realizou-se.

 

(Lido no programa radiofônico “LIRAS SINFÔNICAS”, Rádio Pioneira de Teresina, em 10 de maio de 1967, das 9,30 às 10 horas). Autoria e locução de Herculano Moraes).

 

 

 

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*Herculano Moraes poeta e jornalista, membro do Círculo Literário Piauiense (CLIP).

 

         

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