LIRAS SINFÔNICAS – AREIAS, CRÍTICA
DA 1º EDIÇÃO
HERCULANO MORAES*
Aqui estamos nós para lhes
apresentar outro poeta das harpas piauienses. Outro jovem que orna a poesia do
Piauí com produções extraordinárias, encantadoras. Trata-se desta vez do festejado autor de
“AREIAS”, opúsculo lançado no mercado da curiosidade do povo de nossa terra,
nos primeiros meses deste ano de 1966, de grandes e espetaculares lançamentos
literários. Francisco Miguel de Moura, ou Chico Miguel, porque assim o chamamos
na intimidade, veio ao mundo no dia 16 de junho de 1933. É filho de Miguel
Borges de Moura e D. Josefa Maria de Sousa. Seu primário, alicerce indelével do
primeiro passo, foi feito com seu próprio pai, que mantinha uma escola
particular, depois passando a publica, municipal, em 1941. Nosso focalizado
nasceu no povoado Jenipapeiro, pertencente, àquela época, ao município de
Picos, deste Estado. Em 1960, o povoado onde nasceu o nosso poeta foi elevado a
cidade, com a denominação de Francisco Santos.
Por
motivos vários, entre os quais se sobreleva a situação financeira de seus pais,
teve que deixar de estudar, voltando somente depois de completar 20 anos,
matriculando-se em 1954, no Ginásio Municipal Picoense. Em 1956 fez o concurso
de Auxiliar do Banco do Brasil e foi aprovado.
Já
funcionário do Banco do Brasil, tendo sido aprovado com boa classificação em
concurso realizado em Picos, primeiramente, e depois em Fortaleza – CE, quando
passou a integrar o quadro de Escriturários do Banco do Brasil, servindo na
Agência de Picos, continuou seus estudos no Ginásio referido e depois na Escola
Técnica de Comércio de Picos, hoje pertencente à Associação Comercial daquela
cidade, único estabelecimento de ensino médio
existente naquela época.
Face
à sua inteligência e aos seus conhecimentos, foi transferido para o interior do
Estado da Bahia – cidade de Itambé – para assumir as funções de Chefe de
Serviço da Carteira Agrícola, onde bem desempenhou suas funções. Entretanto,
por motivo de doença em si, em seus
familiares aqui (pai, mãe e sogro), não pôde continuar naquelas funções como
era sua vontade. Foi transferido para
Teresina, por solicitação sua, onde voltou novamente à condição de simples
escriturário.
Casado
com D. Maria Mécia Moraes Araújo Moura, três rebentos alegram o seu lar:
Franklin, Laudimiro e Francisco Júnior. Acha que, entre os que concorrem (ou
almejam) a uma cadeira na Imortalidade de nossa Academia de Letras, o escritor
J. Miguel de Matos é um dos mais credenciados, não esquecendo o mérito dos
demais.
.............................................................................................................................
Sua
poesia, na maioria das vezes, focaliza a própria vida: Seu labutar incessante e
quotidiano, suas desgraças e seus martírios, suas lágrimas e suas dores. Seu
poema “O Copo” é uma afirmativa do que dissemos:
“A
poesia rústica do copo,
o
homem simples vai,
pela
manhã que vem,
brindar
à solidão
de
sua alma esmagada
ao
peso da desgraça,
da
pobreza amém.
Bateu
na mulher,
brigou com
o amigo,
discutiu
com o patrão,
perdeu o
trabalho:
- Vai para
o copo,
único amigo
que o fará sonhar
e esquecer
e perdoar
a vida que
passa rodando
pelo fundo
dos olhos bons.
Não o
condenem por isto.
É um santo
desconhecido,
sua vida
não lhe vale.
Consolação.
...................................................
Também o
copo
- entornado
e consciente -
sem
esperança de chorar
a última
lágrima do dia
antes do
poente,
preferiu
suicidar-se
mas
sub-repticiamente.
Sua vida
não lhe vale.
Consolação.”
Noutras
vezes, tateia no mundo da infância passada, e a saudade lhe invade o espírito.
Inspira-se. As figuras se embaralham na sua mente. E sua cidadezinha, e berço
do seu berço, aparece qual um milagre na noite de sublime inspiração:
“Entre
dois chapadões – terra bendita,
de alma mais pura do que a branca
areia,
terra
que ouviu de minha mãe, contrita,
rezas
a Deus logo depois da ceia:
És
tão humilde e pequenina aldeia
que,
pela vida, em nosso peito habita.
Qual
semente daquele que semeia,
És
semente do amor – Terra Bendita!”
Chico Miguel é um homem
simples. Tem maneira toda sua, toda especial de tratar com suas amizades. Poeta
primoroso, seus trabalhos têm beleza e arte, não artifício. Moderno, em todos
os sentidos, ultrapassou as barreiras do parnasianismo e do simbolismo como
escolas, e trouxe, para os apreciadores da Poesia, um estilo novo e diferente
para este Piauí, que ainda não havia conhecido o verdadeiro sentido da poesia
moderna. Não porque todos sejamos ignorantes no assunto, mas porque as classes
que nos deviam orientar no caminho da moderna literatura divorciam-se da
juventude, e deixam-na à mercê de alienações. Chico Miguel é diferente: –
Intrépido e audacioso, lutou, venceu, realizou-se.
(Lido no programa radiofônico “LIRAS SINFÔNICAS”, Rádio
Pioneira de Teresina, em 10 de maio de 1967, das 9,30 às 10 horas).
Autoria e locução de Herculano Moraes).
_______________________
*Herculano Moraes poeta e jornalista, membro do Círculo
Literário Piauiense (CLIP).
Nenhum comentário:
Postar um comentário