terça-feira, 5 de abril de 2022

 

                             

                                                Foto   de Chico Miguel

                                LYGIA FAGUNDES TELLES (1929-2022)  
                                                   

                    Francisco Miguel de Moura, membro da APL.

          A grande escritora Lygia Fagundes Teles faleceu em 03 de abril de 2022, em São Paulo, com 99 anos de idade. Considerada a “Dama da Literatura do Brasil”, nasceu em São Paulo, aos 19 de abril de 1923, e teve uma trajetória maravilhosa de escritora. De família importante, era também era lembrada como uma das mulheres mais belas do seu tempo, do nosso tempo. Quarta filha do casal Durval de Azevedo Fagundes e Maria do Rosário Silva Jardim de Moura, cuja família residira, durante vários anos, em outras cidades do interior do estado. Lygia Fagundes Teles acostumara-se, desde cedo, a ouvir histórias contadas pelos pajens e por outras crianças. Em pouco tempo, mais ou menos a partir de 1931, começa a criar suas histórias e as fixava num caderninho escolar.  Seu primeiro livro publicado aconteceu em 1938, às expensas de seu pai, e chamou-se “Portão e Sobrado”.

          Mas prometo que não vou estender-me sobre sua biografia. Nem citar suas obras, que são muitas. Li seus belos contos em cerca de quatro livros, entre contos e romances. Ela tornou-se, em breve, uma contista respeitável, insuperável, posso dizer.  Li também seus romances, que não foram poucos. Quero citar seus dois principais livros: “Antes do baile verde”, que pelo visto seria uma seleção de contos, e o romance “Ciranda de Pedra”, que foi levado a tevê como novela.

          Seu estilo, tanto no conto como no romance, é clássico e moderno, simples e convincente, traçando a alma dos personagens, seus conflitos, minuciosamente, numa linguagem depurada, a qual, não obstante os detalhes mais finos, jamais cansam o leitor. Ao contrário, chama-os a prosseguir até o fim, em desenlaces nem sempre previstos. Porém, silenciosamente, tal como a narrativa se encaminhara.

          Lygia Fagundes Telles tinha assento na Academia Brasileira de Letras e foi ela a primeira mulher brasileira a ser indicada ao Prêmio Nobel. Ganhadora de tantos prêmios valiosos, de várias instituições, culminou com o grande “Prêmio Camões de Literatura”, de Portugal.

          Relendo, arquivos de artigos já publicados antes, sobre Lygia Fagundes Telles e sua vasta obra, aqui vai o início e o fim de um deles,  publicado na imprensa do Piauí, sobre o seu romance “Ciranda de Pedra”, talvez o mais festejado.   Antes, como disse, já havia lido o seu famoso e formoso “Antes do Baile Verde”, composto por belos contos, em forte estilo, onde a habilidade na condução da ação dos personagens se sobressai. Li-o ainda numa edição de 1970, com seu belo autógrafo para mim, ao que respondi com o meu “Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho”, também com meu autógrafo.

          Seu romance “Ciranda de Pedra”, fora editado, em 1938, e continuou sendo reeditado, tal como seus livros de contos, ganhando fama aqui e fora do Brasil, e, talvez por isto, tenha sido levado ao público em forma novela pela tevê.  A principal personagem do romance é Virgínia, e assim começa:       “Virgínia subiu precipitadamente e trancou-se no quarto.  Abre a porta, menina, ordenou Luciana do lado de fora. Virginia encostou-se à parede e põe-se a roer as unhas, seguindo com o olhar, uma formiguinha que subia pelo batente da porta. Se entrar aí nessa fresta, você morre! Eu te salvo bobinha, disse em voz alta.”  Por estas poucas frases, já se nota a celeridade da frase, a explosão dos sentimentos das duas personagens, quando entram em cena.

          Não é possível mostrar mais, principalmente para os que, como eu, leram o romance mais famoso de Lygia Fagundes Teles.   Até quem apenas assistiu à novela produzida pela Rede Globo, exibida no horário das l8 horas, de 18 de março a 14 de abril de 1981, cujo cenário é São Paulo em 1940, deve ter notado a desenvoltura das personagens (digo assim, porque a maioria são mulheres) e a significativa marca de uma escritora, envolta com os problemas mais instigantes de uma família, justo a que dançava a tal “ciranda de pedra” da imagem levantada pela autora, desde o nome da obra até sua finalização.   Mas, para terminar, tenho o prazer de transcrever uma das cartas que mandei à autora, datada de 05-10-2007:

          “Fiquei contente em saber que, merecidamente você recebeu o “Prêmio Camões de Literatura”.  Você merece nossos louvores, nossa alegria.

          E esses institutos e instituições deviam ver sua obra com mais carinho para poder coroá-la com mais e mais frequência. Você bem merece o maior, o “Nobel de Literatura”. Não seria tão bom que isto acontecesse ao Brasil e a uma mulher?

          A Academia Brasileira de Letras ainda não propôs? Custa tanto?

          Abraço afetuoso de seu leitor e grande admirador”.

                      Francisco Miguel de Moura

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