Foto de Chico Miguel
LYGIA FAGUNDES TELLES (1929-2022)Francisco Miguel de Moura, membro da APL.
A grande escritora Lygia Fagundes Teles faleceu em 03 de
abril de 2022, em São Paulo, com 99 anos de idade. Considerada a “Dama da
Literatura do Brasil”, nasceu em São Paulo, aos 19 de abril de 1923, e teve uma
trajetória maravilhosa de escritora. De família importante, era também era
lembrada como uma das mulheres mais belas do seu tempo, do nosso tempo. Quarta
filha do casal Durval de Azevedo Fagundes e Maria do Rosário Silva Jardim de
Moura, cuja família residira, durante vários anos, em outras cidades do
interior do estado. Lygia Fagundes Teles acostumara-se, desde cedo, a ouvir
histórias contadas pelos pajens e por outras crianças. Em pouco tempo, mais ou
menos a partir de 1931, começa a criar suas histórias e as fixava num
caderninho escolar. Seu primeiro livro
publicado aconteceu em 1938, às expensas de seu pai, e chamou-se “Portão e Sobrado”.
Mas prometo que não vou estender-me sobre sua biografia.
Nem citar suas obras, que são muitas. Li seus belos contos em cerca de quatro
livros, entre contos e romances. Ela tornou-se, em breve, uma contista
respeitável, insuperável, posso dizer. Li
também seus romances, que não foram poucos. Quero citar seus dois principais
livros: “Antes do baile verde”, que pelo visto seria uma seleção
de contos, e o romance “Ciranda de Pedra”, que foi levado a tevê
como novela.
Seu estilo, tanto no conto como no romance, é clássico e
moderno, simples e convincente, traçando a alma dos personagens, seus
conflitos, minuciosamente, numa linguagem depurada, a qual, não obstante os
detalhes mais finos, jamais cansam o leitor. Ao contrário, chama-os a
prosseguir até o fim, em desenlaces nem sempre previstos. Porém,
silenciosamente, tal como a narrativa se encaminhara.
Lygia Fagundes Telles tinha assento na Academia Brasileira
de Letras e foi ela a primeira mulher brasileira a ser indicada ao Prêmio
Nobel. Ganhadora de tantos prêmios valiosos, de várias instituições, culminou com
o grande “Prêmio Camões de Literatura”, de Portugal.
Relendo, arquivos de artigos já publicados antes, sobre
Lygia Fagundes Telles e sua vasta obra, aqui vai o início e o fim de um deles, publicado na imprensa do Piauí, sobre o seu
romance “Ciranda de Pedra”, talvez o mais festejado. Antes,
como disse, já havia lido o seu famoso e formoso “Antes do Baile
Verde”, composto por belos contos, em forte estilo, onde a habilidade na
condução da ação dos personagens se sobressai. Li-o ainda numa edição de 1970,
com seu belo autógrafo para mim, ao que respondi com o meu “Linguagem e
Comunicação em O. G. Rego de Carvalho”, também com meu autógrafo.
Seu romance “Ciranda de Pedra”, fora editado, em
1938, e continuou sendo reeditado, tal como seus livros de contos, ganhando
fama aqui e fora do Brasil, e, talvez por isto, tenha sido levado ao público em
forma novela pela tevê. A principal
personagem do romance é Virgínia, e assim começa: “Virgínia subiu precipitadamente e trancou-se no
quarto. Abre a porta, menina, ordenou
Luciana do lado de fora. Virginia encostou-se à parede e põe-se a roer as
unhas, seguindo com o olhar, uma formiguinha que subia pelo batente da porta.
Se entrar aí nessa fresta, você morre! Eu te salvo bobinha, disse em voz alta.”
Por estas poucas frases, já se nota a
celeridade da frase, a explosão dos sentimentos das duas personagens, quando
entram em cena.
Não é possível mostrar mais, principalmente para os que,
como eu, leram o romance mais famoso de Lygia Fagundes Teles. Até quem
apenas assistiu à novela produzida pela Rede Globo, exibida no horário das l8
horas, de 18 de março a 14 de abril de 1981, cujo cenário é São Paulo em 1940,
deve ter notado a desenvoltura das personagens (digo assim, porque a maioria
são mulheres) e a significativa marca de uma escritora, envolta com os
problemas mais instigantes de uma família, justo a que dançava a tal “ciranda
de pedra” da imagem levantada pela autora, desde o nome da obra até sua
finalização. Mas, para terminar, tenho
o prazer de transcrever uma das cartas que mandei à autora, datada de
05-10-2007:
“Fiquei contente em saber que, merecidamente você
recebeu o “Prêmio Camões de Literatura”.
Você merece nossos louvores, nossa alegria.
E esses institutos e instituições deviam ver sua obra com
mais carinho para poder coroá-la com mais e mais frequência. Você bem merece o
maior, o “Nobel de Literatura”. Não seria tão bom que isto acontecesse ao
Brasil e a uma mulher?
A Academia Brasileira de Letras ainda não propôs? Custa
tanto?
Abraço afetuoso de seu leitor e grande admirador”.
Francisco
Miguel de Moura
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