HARDI FILHO - HOMEM SIMPLES, POETA PROFUNDO.
Crônica
Francisco Miguel de Moura,
escritor, membro da APL.
A mim ainda
estou me perguntando: Por que é tão difícil falar das pessoas mais amigas, mais
íntimas, logo após a sua morte? Para mim e para os que o conheceram Hardi
Filho, sobretudo os que com ele conviveram, quer literariamente, quer
amigavelmente, quer de ambas as formas, é difícil. Estou quase empacado, quando
lembro de uma viagem a Luzilândia, a mais recente, para um daqueles agradáveis
encontros literários. Ninguém conversava muito, nossos diálogos eram de poucas
palavras. Ganhei dele um presente, naquela viagem, que ainda guardo como
recordação. Assim, acredito que seu espírito irá com a gente, em todas as
viagens literárias que fizermos. Grandes amigos, a amizade juntou também nossas
famílias, desde os primeiro contatos. Os piauienses, daqui para o norte (até
Parnaíba), daqui para o leste (até Picos), daqui para o oeste (até Oeiras), ou
onde estivéssemos, muitos o conheceram.
E em mais lugares estaríamos se fôssemos convidados. Em Picos, com o
nosso conhecimento e nosso trabalho, ajudamos os escritores locais fundarem a
Academia de Letras da Região de Picos. Noutras cidades fizemos movimentos junto
à juventude estudantil interessada e discursos que eram aulas nas quais
ensinávamos o que sabíamos ensinar: a entender o mundo e a sociedade, ler e
pensar. Publicou mais de duas dezenas de livros. Poderia ter publicado muito mais,
se corresse atrás das entidades culturais. Achava que era obrigação dos setores
culturais e educacionais divulgarem os artistas, da pena ou do pincel, de todas
as áreas, pois os artistas são uns servidores permanentes do povo, da
sociedade. Penso que ele não morreu,
embora o tenha visto estirado num esquive, esperando a hora do sepultamento,
para a última viagem. Na minha memória e na minha saudade ele estava de viagem,
mas voltaria. Amigo tão calado quanto pensativo, com a sabedoria de vida que
tinha aprendido a duras penas, tornara-se um ser desprendido das coisas
materiais. Era o poeta do amor e das coisas simples. O livro “Teoria do Simples” não tem nada de
poesia simples. O simples duraria a vida inteira e mais ainda, certamente, a
outra vida. Mas muitas vezes, sem
entender o mundo e os homens (quem os entenderá?), bradava contra situações
críticas como a dor física e as dores da alma. É bom registrar que foi o único
poeta que escreveu um livro exclusivamente de amor, para Adélia, sua mulher, a
cujo livro acertadamente deu o nome de “Adélia”. Por falar em último, nós dois, somos os
últimos poetas a escrever um livro em parceria: “Tempo contra tempo”, nos finais do século XX, publicado a nossa
custa, por insistência minha, para marcar a entrada do novo milênio. A
escritora Rejane Machado, do Rio, escreveu um excelente ensaio sobre o “Tempo contra tempo”, que vai publicar
num livro reunindo seus melhores ensaios e artigos, por editora de lá,
noticiou-me há poucos dias. A Academia fez vista grossa sobre o trabalho,
sequer fizemos lançamento, também a edição foi de 300 exemplares apenas.
Francisco
Hardi Filho estudou, interpretou e poetizou exaustivamente o sofrimento humano.
E assim se tornou o poeta, um poeta maior logo no seu primeiro livro “Cinzas e Orvalhos”, premiado em
concurso da Prefeitura Municipal de Teresina. Procurou alinhar-se ao coro dos
que observavam e sentiam as dores do mundo, aos grandes sonhadores como Celso
Pinheiro e Da Costa Silva. Nas horas de revolta, como Augusto dos Anjos, bradava
qual o mar violento. Sempre foi poeta, mais que prosador. Mas são crônicas do
jornal são impecáveis. Sua vocação de poeta veio das entranhas. ”Somos assim predestinados”, dizia o
poeta J. G. de Araújo Jorge.
Porém, morrer?
Hardi Filho é um daqueles que, na minha concepção simplista, não morrem.
Afirmei na chave de ouro de um soneto que “o
que existiu há sempre de existir”.
É minha crença na eternidade O que foi, é. Hardi não morreu, ao contrário, são
daqueles que vivem como Da Costa e Silva. E justamente era sua a cadeira do
Príncipe dos Poetas do Piauí, na Academia Piauiense de Letras. Andamos por aí,
semeando e divulgando poesia. O prof.
Luiz Romero Lima, que nos conduzia a várias cidades deste Piauí, sabe disto.
Ele tem que ser divulgado, agora mais do que nunca, agora e sempre, para
compensar o seu desprendimento. Hardi Filho não vendia poesia, ele dava,
achando acertadamente que o maior presente e o maior bem que poderia acontecer
na vida de relação das pessoas era ler, e ler poesia. Andando sempre juntos,
desde o começo, as famílias nos acompanhavam nos almoços, nos clubes, nos
banhos de cachoeira, nas praias... Fundamos o CLIP, revigoramos a UBE-PI (eu
lhe pedia que me acompanhasse, me ajudasse, pois sabia que ele não faltava e
que a sua ajuda era valiosa). Viemos para a Academia, onde já se encontrava
Herculano Morais, estávamos os três contentes, contando vitória, que o CLIP
estava ali reunido. Requisitados, vínhamos receber os colégios que visitam a
Academia. Era uma festa falar à juventude estudiosa, aos professores tão
dedicados e mal pagos. O CLIP estava e
está na Academia. Nada se acaba. Hardi terminou sua tarefa aqui na terra, mas
continuará onde estiver – no céu, acreditamos – pois o outro lado da vida é
também vida: A morte é apenas um episódio sem graça, mas tão rápido quanto o
nascimento.
Creio, como
Aléxis Carrel, o sábio francês, que “Deus
não iria criar-nos tão inteligentes e
perfeitos como criaturas, para depois transformar-nos em cinzas e nada mais”. Como
o tempo, produto dele, não morreremos nunca, totalmente. Nossa alma sabe disto.
Que o poeta Francisco Hardi Filho, amigo certo, escritor limpo na língua e no
pensamento, bom pai de família, benemérito da sociedade, descanse em paz dos
sofrimentos deste mundo.
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Anexo necessário:
Eis alguns dados biográficos para os
pesquisadores do futuro: Francisco Hardi Filho nasceu em Fortaleza (CE), em
05-07-1934 e faleceu em Teresina (PI), em 27-03-2015. Funcionário público
federal (IBAMA), recebeu o titulo da Assembléia Legislativa o título de Cidadão
Piauiense. Membro da Academia Piauiense de Letras, cadeira nº 21, membro da
UBE-PI e o CLIP, de cujas entidades foi fundador, Secretário do Projeto
Petrônio Portela, entre outras funções públicas e culturais
Filho de Francisco Braga
Hardi e Maria de Lourdes Hardi, Francisco Hardi Filho casou-se com Adélia Gomes
Parente, na Igreja de Massapé, em 04.01.1956. O extinto deixou viúva, já
mencionada, 7 filhos: Renaud, Hardeli, Francélio, Hardilne, Rochele, Ralisson e
Hardiane, mais 16 netos: Mariana, Juliana, Caio, Alan, Hugo, Roberta, Davi,
Sara, Inaê, Rafael, Rallison, Isabela, Guilherme, Lucas, Lívia, e um bisneto:
Vitor.
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