ASSIS BRARASIL (1932-2021 – GRANDE
ESCRITOR
Francisco Miguel de Moura*
Francisco de Assis Almeida Brasil, nome
completo do grande escritor brasileiro, nascido em Parnaíba-PI, provavelmente
em 18 de fevereiro de 1932 e falecido em 28 de novembro de 2021, em sua
residência em Teresina, pois mudara para a nossa “Cidade Verde” já há alguns
anos. Mas, como é sabido, no Rio de Janeiro (RJ), fez toda sua carreira
literária.
Depois de uma cirurgia no fêmur, por causa de uma queda
acontecida em casa, o coração de Assis Brasil disse “não” a esta vida e foi
morar, agora, na eternidade, junto ao Deus da vida, da beleza e da sabedora, da
paz e do amor, onde certamente foi bem recebido.
Formado em jornalismo e literatura, Assis Brasil participou,
com outros grandes nomes como Mário Faustino, da grande imprensa literária
daquela época, no Rio. Lembramos do famoso “Suplemento Literário do Jornal do
Brasil”, o mais importante para literatura. Assis Brasil era dinâmico, laborava
também em diversos órgãos da imprensa carioca. No começo fez profissão de
jornalista, mas depois continuou a escrever para muitos outros jornais e
revista, inclusive a famosa revista “O Cruzeiro”. Atuante desde a
escola, até profissionalizar-se escritor. Na verdade, a profissão dele foi
sempre a de escritor, poucos brasileiros tentaram isto, muitos terminaram por
desistir, enquanto procuravam um emprego, deixando a literatura como “bico” ou
brincadeira de fim de semana.
Conheci o escritor Assis Brasil, pessoalmente, no Rio de
Janeiro. Numa de minhas muitas viagens à “Cidade Maravilhosa”, já por indicação
dos escritores Francisco Venceslau dos Santos e Rosa Kapila, ambos escritores
piauienses residentes no Rio, justamente originários do Jenipapeiro como eu.
Tomando-lhes o endereço, chegamos (eu e Mécia) ao apartamento do escritor Assis
Brasil. Na época ele morava num sítio, o apartamento era o seu escritório. Ele
estava trabalhando, dedilhando sua máquina de escrever, só não lembro a marca.
Uma mesa e alguns livros, nada mais, se não me engano não havia cadeira para visitantes,
ficamos de pé, o local me pareceu um pouco empoeirado. Ele parou e nos atendeu
prontamente, mais ou menos por uns 20 minutos: Falamos sobre o Piauí, ele sobre
seus projetos e eu um pouco do porquê viera ao Rio e também de meu trabalho
literário no Piauí. Já nos conhecíamos de livros cartas, certamente. No final,
ele pegou um livro de suas histórias infantis e nos ofereceu. Daí por diante, nossa
correspondência e troca de obras foi constante. Outro momento importante foi
quando ele veio lançar o romance os “Bandeirantes”, que a academia
patrocinou e eu fui o seu apresentador. Não tenho data, mas o trabalho foi
publicado no jornal, não me lembro se “O Dia” ou em outro órgão onde
costumava publicar meus trabalhos semanais.
Na Academia Piauiense de Letras, ocupou a cadeira nº 36,
patroneada por Francisco de Paula Fontenele Araújo. Lembro que quando ocorreu a
sua inscrição para concorrer à vaga, outro candidato forte, o Professor José
Ribamar Freitas, da Universidade Federal do Piauí, entrou na disputa. Nós, eu, o
Hardi Filho e o Herculano Moraes, arregaçamos as mangas e saímos em busca de
votos para ele, visto que, morando ainda no Rio, não tinha como fazer isto. E
ele saiu vitorioso, como realmente devia, pois àquela altura já havia publicado
boa parte de sua grande obra, até ali melhor representada pela “Tetralogia
Piauiense”, composta por quatro romances, um deles “Beira Rio, Beira Vida” –
pelo qual recebera um almejado prêmio nacional.
Seco de palavras, mas rico de sentimentos, é como eu
consegui entendê-lo como pessoa humana. Conhecendo-o como escritor, passei a
ler muito mais e publicar artigos e ensaios nos jornais da imprensa do Piauí e
do Brasil, onde quer que eu conseguisse. Um outro trabalho crítico que
publiquei na “Revista Vozes”, de Petrópolis, abril de 1985, nº. 3, foi
sobre o romance “O Aprendizado da Morte”, obra muito forte focalizando
do começo ao fim a personalidade de Olga, uma pessoa marcada para morrer de
câncer.
Como profissional da literatura, vejo-o através de sua
seriedade e honestidade, de profundo conhecedor da alma humana, sempre
preocupado em mostrar que “A vida não é real” (nome de um dos seus
livros), mas só será entendida, pelo menos em parte, através da ficção, da
poesia e do amor a tudo que eleva o homem. Isto está na sua majestosa
construção de vida e trabalho. Romancista de grande poder criador, crítico de
alta sapiência, entregando-se a arte, não tendo filhos nem mulher. Elegeu,
assim, os escritores, poetas e leitores como sua família. Não tinha inimigos,
só amigos, mesmo quando criticava alguma obra de um suposto desafeto.
Conservava sempre o autor como uma pessoa digna, embora não houvesse, no seu
modo de ver, feito obra de grande valia. Ele sempre disse não confundir
amizades nem inimizades, quando tratava de analisar a obra.
Por último e porque o momento nos incita, terminamos com uma sábia e santa manifestação do Pe. Tony Batista, após sua morte: “Não nos acostumamos com a morte. Temos sempre dificuldades de lidar com a morte mesmo sabendo que mais cedo ou mais tarde seremos abraçados pela irmã morte. Hoje o nosso Assis Brasil passou para o outro lado da vida. Hoje ele já tem consciência de que a morte não é a última palavra, mas sim a vida que passa pela morte. O grão precisa morrer para poder viver na sua plenitude. Assis Brasil vive a eternidade, onde já não existe a dor, nem o pranto, nem mesmo a velhice. Deus é tudo nele. Se a sua imortalidade era uma convenção, agora é verdadeira porque ele já contempla a face do Pai. Hoje estive no seu velório e no silêncio pude perceber a grandeza desse homem franzino grande homem.”
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*Francisco Miguel de Moura, poeta, romancista, contista, cronista e crítico de arte e literatura. Mora em Teresina, a Cidade Verde, porque quer e porque gosta.
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