SE HÁ MILAGRES
FRANCISCO MIGUEL DE MOURA
Não ter nada de seu em que pegar,
Comer restos e sobras nos lixeiros
E murmurar o’ Deus, porém distante,
Ser relógio de si, não se quebrar,
Viver como se o mundo fosse alheio
A todo sofrimento, ao desespero
Da fome.
Virar o mundo-cão contra a cabeça,
Amar a todos como irmãos,
Pedindo pelo pão, pelo abrigo...
E dormitar na chuva e se molhar.
Esperando...
E se alguém levanta o olhar de pena,
E não lhe traz seque um gole d’água,
Pelo que vê de sujo e emagrecido...
O Deus que abraça tudo está distante.
E devagar
Levanta e deita à sombra
De uma árvore que tomba
Enfraquecida.
A esperança acaba e a fé não vem,
Quando precisa que lhe venha o amor
E ainda assim sonhar como ter fé.
A fé e o amor são dois milagres
Se há milagre ainda sobre a terra.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro
*Francisco Miguel de Moura, poeta,
este desconhecido
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