sábado, 8 de maio de 2021

SE HÁ MILAGRES


FRANCISCO MIGUEL DE MOURA



Não ter nada de seu em que pegar,

Comer restos e sobras nos lixeiros

E murmurar o’ Deus, porém distante,

Ser relógio de si, não se quebrar,

Viver como se o mundo fosse alheio

A todo sofrimento, ao desespero  

              Da fome.

Virar o mundo-cão contra a cabeça,

Amar a todos como irmãos,

Pedindo pelo pão, pelo abrigo...

E dormitar na chuva e se molhar.

               Esperando...

E se alguém levanta o olhar de pena,

E não lhe traz seque um gole d’água,

Pelo que vê de sujo e emagrecido...

O Deus que abraça tudo está distante.

E devagar

Levanta e deita à sombra

De uma árvore que tomba

             Enfraquecida. 

A esperança acaba e a fé não vem,

Quando precisa que lhe venha o amor

E ainda assim sonhar como ter fé.

A fé e o amor são dois milagres

Se há milagre ainda sobre a terra.

_______________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro

 

*Francisco Miguel de Moura, poeta, 

este desconhecido

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