OZILDO E SEU “JORNAL QUINZENAL”
Nós, humanos, somos fascinados pelos porquês. Assim somos
desde crianças. Neste início, faço uma espécie de apresentação do autor, embora
sabendo que Ozildo Batista de Barros não precise dela, pois é um picoense de
quatro costados. Mas, tal como eu, que escrevi uma obra sobre a história de
Picos até os anos 1960, ele agora no seu “Jornal Quinzenal”, sem a intenção de
fazê-lo, escreveu a nova história de Picos. O autor deste “Jornal Quinzenal”
e eu nos encontramos em Teresina, justamente nos anos 1970, do século XX. Ele como comerciante (tinha uma firma de
prestação de serviços); eu, como bancário do Banco do Brasil. Mas o que fez a
nossa aproximação e perseverança dos encontros foi o fato de sermos picoenses e
ambos também dados às letras, poetas pra valer. Como eu editava a “Revista
Cirandinha”, convidei-o para participar da publicação. Daí engrossou
nossa amizade, que vai até hoje e espero que prossiga muito tempo, muito além
deste prefácio. E, lendo-o agora, vejo
que seu “Jornal Quinzenal” contém
dados imensuráveis, guardados por Ozildo nos inúmeros recortes de jornais do seu tempo, sobre uma
das mais significativas e progressistas cidades do Piauí, a qual capitaliza
toda uma região rica e próspera onde o autor sempre militou, quer na cultura,
quer na política, quer na vida social.
Quando recebi seu convite para prefaciar este
“Jornal Quinzenal”, fiquei orgulhoso de vê-lo, mais uma vez, com mais uma obra
de talento, tão necessária quanto surpreendente. Picoense das Abóboras, homem que
não tem medo de dizer a verdade, “doa ela a quem doer” – desculpem-me o lugar comum
- ele faz o que diz e diz como fazê-lo,
de repente e sempre muito bem feito. Prova é a matéria incluída neste jornal
que se torna livro: artigos, contos, crônicas, poesias, notícias de um passado
não muito distante e que continua. É como que se retornasse, tal como sua
crônica sobre a censura. Neste ponto, não há como não me lembrar de que, ainda
recentemente, um artigo meu foi censurado por jornal onde sempre colaborei
desde os meus tempos da universidade.
Assim, li o “Jornal Quinzenal” de cabo a rabo. E
nele não há nada que se diga que não é verdadeiro, necessário e urgente. Veio
em boa hora. Certamente terá muito sucesso de leitura e crítica. E isto é para
que os picoenses e outros leitores de além da região se lembrem e se
conscientizem de que é preciso abrir os olhos e moverem-se para o trabalho de
recuperação do tempo perdido, assumindo a visão diária das verdades aqui
expostas. Contesto os que dizem que não se aprende nada com a história. Eu
continuo pensando o contrário: A história ensina muito, desde que seja lida e
bem lida. E tudo o que passou é história, desde que registrado e bem registrado
como este “Jornal Quinzenal”
Poeta de grande valor desde o princípio, mais ou menos
filiado ao concretismo “moderno” e livre de incongruências, porque valoriza
especialmente a palavra, dei-lhe o prefácio ao seu livro “Etc & Tal”,
um prefácio interessante para um senhor livro, que veio para ficar. O poeta e o
livro.
Agora, seu “Jornal
Quinzenal”, que deve agradar a muitas pessoas que fizeram culturalmente
aquele tempo em Picos, como o autor Ozildo Batista de Barros e o poeta Gilson
Chagas, e outros como é o caso de Jonas Luz, derrubando as barreiras do atraso
e da repressão, eis que ficou demonstrado pelo jornal mimeografado “Voz do Campus”,
a partir do nº 0l, de 08-12-1972, movimentando-se quase sem liberdade de
pensamento, mas guardando os fatos e intercalando-os com poemas e dados históricos e campanhas, debaixo da
organização Campus Avançado de Picos da UFGO (Universidade Federal de Goiás).
Sem falar que ele (“Voz do Campo”) deu início à chamada “literatura
do mimeógrafo”, na região, neste sentido, acompanhando Paranaíba, onde ela
primeiro surgiu no Piauí. A chegada desse órgão em Picos foi um avanço muito
grande, apesar dos osbstáculos. Obstáculos estes enfrentados pelos estudantes
picoenses daquela época. Ali, digamos
assim, nascia o poeta e político Ozildo Batista de Barros, que, num futuro não
muito distante, se tornaria advogado, diga-se de passagem, um dos melhores da
Região de Picos, quiçá do Piauí.
Ozildo Batista de Barros, com seus projetos que pareciam
mirabolantes para aqueles que estavam acostumados a jogar os problemas do
município para debaixo do tapete do esquecimento, escrevia, fazia discursos, com
sacrifício foi eleito vereador da cidade e, por descuido “deles”, chegou a
presidir a Câmara de Vereadores. Mas não era somente isto que Ozildo fazia. Sua
ação como escritor se estendia à impressa, principalmente a de Picos, mas
ocorrendo em jornais de mais longo alcance, existentes em Teresina. Escrevia
panfletos, publicava livros, falava e mais falava bem, por que é bom de
discurso. Sua voz vibrou longe. Praticamente sem sair da terra, pois deve ter
residido apenas 2 ou 3 anos em Teresina, mas sempre com um pé lá e outro cá. Tempo suficiente para ganhar fama em parte do
Estado, senão em todo. Falaram que Ozildo Batista de Barros tem apresentado, em
suas manifestações políticas, projetos mirabolantes para região, o que não é verdade.
Ele mostrou que a viabilidade tal como foi feito com as águas do São Francisco,
também seria possível, necessário e urgente que se fizesse a transposição das
águas da “Barragem do Guaribas”, em Bocaina, por lugares nunca pensados, como
está num dos seus artigos deste jornal, ou seja, através de um canal que levaria a água da
dita Barragem, contornando a Serra dos Jacus, perenizando os riachos do
“Engano” e o do “Brejo”, tornando toda a região da Sussuapara um celeiro
produtivo para Picos, tal como acontece com o
rio São Francisco, na região Petrolina e muito mais além, desde que a
transposição seja completada como prevê o projeto. Mirabolante também não seria transformar a
região de Picos num polo turístico invejável, com a ocupação e a modernização
das serras que há no seu interior, onde há vestígios de civilizações antigas,
tal como o das “Sete Cidades”. E isto ele mostra num dos seus trabalhos
integrantes desta obra
Citarei ainda, entre outros artigos, às vezes semeados de
poemas, crônicas, cartas, citações de obras dos outros como aquele documento do
Dep. Neiva Moreira, que é emocionante. Todos são importantes e fizeram sucesso
na imprensa picoense e também da capital, Teresina, e além do Estado. Mas um ou outro posso destacá-lo aqui, justo
por serem os que mais me tocaram, não por referir-se a mim e a outras pessoas
importantes, como o Des. Magalhães da Costa, o Prof. A. Tito Filho e os poetas Hardi
Filho e Jamerson Lemos, gente de nossa convivência quase diária. Não posso
esquecer a carta do escritor brasileiro, paulistano, Eduardo Maffei, que é um
texto de sabedoria, sofrimento político, de amor e amizade – uma página
indispensável à curiosidade de qualquer leitor. Também não esquecer Elias Prado
Jr. e o bar “Nós e Elis”, onde se juntava a fina flor da poesia e da juventude
política daqueles anos duros, chamados de ferro.
Resta lembrar que Ozildo Batista de Barros, em certo
momento de sua vida rebelde, dizia não ser do mesmo “barro dos Picos”, e sim de
outra olaria. Ora, Ozildo, nós somos do barro bom dos Picos, sim. Os outros,
antes e depois de nós, é que são aqueles do barro ruim, pois racha quando os
pobres artesãos (que são o povo) tentam construir suas obras.
Mas como esquivar-me de apontar, entre os artigos de
vigência histórica eterna, “O 20º Ano da Anistia (1999” e “O eterno
retorno da tortura?” Sim, seria
indispensável. Assim como as crônicas “Hoste, Hóstia, Hostil” e “Pirão
de deputada parida”, onde o cronista excele, isto é, chega ao cúmulo da criatividade
e do bom gosto para nós nordestinos e, creio, para quaisquer leitores de
qualquer parte do país. Só para
finalizar, ainda citamos “No mundo da lua” e “A biblioteca do
Marcos Parente”, monumentos da imaginação, história, sofrimento,
alegria e tristeza juntas. E é disto que se faz o mundo. Por isto, leitores,
não há o que escolher, melhor mesmo é ler todo o jornal. Quem o ler, sairá
fortalecido como eu fiquei.
Teresina, 19 de dezembro de
2020
Francisco Miguel de Moura
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