Francisco
Miguel de Moura*
A internet não é um instrumento muito
confiável, porque tudo ou quase tudo ela informa e/ou mostra. E em sendo assim,
lá se encontra o que é bom e o que não presta, deseduca e corrói. Eis minha
visão desse importante meio de comunicação para quem sabe usá-lo. Começando com esta advertência, escrevo, pela
primeira vez, um artigo baseado em trecho que encontrei nela, por acaso, de
autoria do Sr. José Carlos Vilhena Mesquita. Ele comenta sobre José dos Santos
Stockler, filho de pais pobres, nascido em 25-05-1910, na aldeia de Porches, Concelho
de Lagoa, em Portugal, e faleceu em Faro, nos princípios de junho de 1989, com
79 anos. Era casado com D. Maria de Lourdes Martins Santos e pai de José Manuel
Santos, contabilista, que foi Chefe de Redação do jornal “Terra Alagaravia”.
Jornalista
e poeta, José Santos Stockler viveu sempre em Portugal, “um país de maus
políticos, mas de bons poetas”, segundo falava e escrevia Stockler, seu
pseudônimo de jornalista. Ele mesmo foi um bom poeta conforme podemos verificar
pelo que o autor do artigo colocou em seu escrito, como exemplo. Assim, diz
Vilhena Mesquita, como se fosse o próprio Stockler que estivesse falando:
“Se no passado não era possível asseverar o que dissemos
sobre Portugal e seus intelectuais, devido ao inamovismo da ditadura
salazarista, hoje, após vários governos inoperantes e centenas de políticos
incompetentes, ficamos claramente com a ideia de que mais valia sermos um país
de maus poetas. Não o somos, felizmente, para a cultura. Aliás, à semelhança do
que acontecia no passado, a produção intelectual e a cultura continuam a ser
sempre um baluarte de resistência contra a imbecilidade dos que nos governam”.
Em seguida, registro os nomes de
intelectuais consagrados que fizeram parte de sua vivência. Stockler considerava
João Gaspar Simões, Jacinto do Prado Coelho e Adolfo Casais Monteiro, homens de
verdadeira cultura. Mas sua relação de leitura e de vivência é enorme. Lá na
frente foram citados também José Régio, Jorge de Sena, Alves Redol, Eugênio de
Andrade, Ferreira de Castro, Fernando Namora, Manuel da Fonseca, quase todos do
cenário alentejano, que Santos Stockler tanto admirava.
Interrompemos a citação de nomes, que é enorme, para
saborear seu poema “Radiografia”, que muito tem de suas lutas de
escritor:
Na ânsia de calar a voz do grito/ Rebelde que desdenha a
minha dor,/Na luz do meu olhar só anda escrito,/Em letras luminosas, Paz e
Amor!...// Nos lábios trago a húmida expressão/Apenas da linguagem da Verdade,/Essa
voz que alimenta a mãe Razão,/Nascente aonde bebe a Fel’cidade!..//O rosto,
espelho vivo do meu ser,/ A pele que transpira o bem-fazer,/ Retrata,
fielmente, o meu sentir,/ Reflecte, tão-somente, esse viver / Que fora, toda a vida, o meu querer, / Ou
seja, o Mundo Novo que há de vir!
Por que me lembrei
do seu nome, J. Santos Stockler, para uma matéria jornalística? O leitor já deve estar a
perguntar-se – como dizem nossos irmãos portugueses.
Não posso esquecer que ele reproduziu o prefácio de meu
primeiro livro, “Areias” (1966), de autoria de Fontes Ibiapina, em seu jornal "Horizonte Literário", Beira Baixa, Portugal, 03/07/1971. Naturalmente ele tinha correspondência com o Fontes
Ibiapina, ao qual mandou minha obra de estreia, de onde tirou referido
prefácio. Assim, pela primeira vez meu nome de poeta circulou em Portugal.
Assinalemos mais: Que a comunicação de Stockler com o mundo
literário era enorme. O articulista de quem recebi as informações sobre Stockler,
acima mencionado (a quem fico muito grato). Ele dá uma lista quase completa do
seu intercâmbio entre intelectuais e escritores brasileiros e latino-americanos:
Pablo Neruda, João Cabral de Melo Neto,
Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Jorge Amado, Pessoa de Morais,
Salvador Spriu, Félix Cucurrull, José Ledesma e Juan Ruiz Pena, à qual
acrescentamos agora o nome de Fontes Ibiapina, são alguns dos nomes de sua acesa
correspondência. E assim, acreditamos
ter tirado a poeira que se acendeu sobre esse homem, verdadeiramente um dos
jornalistas e escritores de Portugal.
__________________
*Francisco Miguel de
Moura, poeta brasileiro, mora em Teresina, Piauí, Brasil. Já publicou mais der
40 livros e, ultimamente, a sua “Poesia (in Completa”, comemorando os seus 50
anos de escritor, pois que sua estreia se deu 1966, com o livro “Areias”, com
prefácio do já célebre escritor Fontes Ibiapina, também do Piauí e amigo de
Santos Stockler.
NB - Por falta de foto de J. Santos Stockler, à direita está minha foto, autor deste artigo.
NB - Por falta de foto de J. Santos Stockler, à direita está minha foto, autor deste artigo.
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