1.
Naquela casa obscura, entre livros e luzinhas, um homem vive só. Só não sabe bem até quando, pois, à noite, se levantam os poetas ora mortos e vêm todos visitá-lo.
Bandeira, Cabral, Drummond, Quintana, todos se acomodam no sofá e confabulam com aquele homem de quarenta e poucos anos cuja vida não tem poesia.
Porém, quando toma da pena e, com seus eternos companheiros, começa a escrever, toda a casa se agiganta, os livros viram pássaros e as luzinhas viram estrelas.
2.
No canto do olhar do poeta, existe uma gota que não caiu, uma lágrima de estimação. Poética, essa lágrima só se verte quando um verso bem bonito vem à luz.
Outro dia, de esguelho, de rabo de olho, flagrei o poeta chorando. Ele, é claro, mais que nunca, disfarçou, mas suas lágrimas mancharam sua camisa cor de não sei.
Tenho a impressão de que essa lágrima é quem sustenta seu olhar poético e que ele só a derrama quando quer. Por isso, talvez, nem todos os poemas sejam clássicos.
3
Não, não é o poeta que vive ao léu, mas suas mãos. Aquelas que ele dera à palmatória do mundo desde os tempos príncipes da Criação. Aquelas que acarinham.
Sólidas e insólitas, rubras e anis, suas mãos vão espalhando auroras onde antes só havia sombras. Se bem que as mãos do poeta também podem ser vis, atrozes, vãs.
Com as folhas de seus versos, o poeta envolve os sonhos e os devolve à humanidade. Essa mesma que se rende às mãos do poeta, que só querem ser amadas.
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*Olivaldo Junior é prosador e poeta, mora em Mogi Guaçu, São Paulo. Esta matéria foi enviada por e-mail de Teresinka Pereira, em 20 de outubro/2019, comemorando o Dia da Poesia. No Brasil, entretanto, comemoramos a Poesia na data do nascimento de Castro Alves em 14 de abril. Não tem importância. Valeu a penas. Olivaldo Jr. é um grande prosador e poeta, como bem desonstram os textos acima (FMM)
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