Francisco Miguel de Moura*
Minha
grande amiga, escritora e crítica de meus poemas, a quem devo uma das melhores
apresentações de “Pedra em Sobressalto”, além de outros artigos sobre
meus livros posteriores a 1974, faleceu no dia 31 maio de 2019, justamente
quando eu ainda estava lendo seu belo livro de ficção, titulado de “O Outro
Lado das Coisas”, publicad0 pela All Print, São Paulo, 2019.
Senti enorme pesar, por sua morte. Ela sempre foi minha
amiga desde a publicação do seu livro de contos “A Dimensão das Pedras”,
pelo Diário de Notícias/INL, 1969. Assim não sei como começar esta crônica de
saudade. Sempre que eu e Mécia, minha esposa íamos ao Rio, e não foram poucas
vezes, ela nos convidava para almoçar em seu apartamento com a família, ou nos levava
a algum restaurante, do Leme, onde morava. Nossa amizade como escritora já
existia quando a conhecemos pessoalmente.
Daí vieram as visitas a festas e locais de cultura e em
casa escritores já famosos ou que eram sempre presentes na imprensa e nas
livrarias. Indo a Niterói, algumas vezes, conhecemos a cidade e seus muitos
poetas e escritores, com os quais nos contactaríamos depois, por escrito. Sim,
lembro de uma visita à casa de Maria Moura da Costa, descendente de família
nordestina como Rejane Machado. Lembrando bem Maria Moura da Costa esteve em
Teresina, onde passou um mês em minha casa, a qual tive o prazer levá-la à TV
Clube de Teresina.
São muitas lembranças. Vou guardando muitas cartas da autora,
seus livros e agora este livro “O
Outro Lado das Coisas”. Para Rejane, fiz-lhe o prefácio do seu excelente
romance “Informação a um Desconhecido”, publicado no ano 2000. Em
2010, veio outro muito bom romance de título inquietante, “Réquiem para
Mário”, mais ou menos na época em que estivera Teresina, ela e seu filho,
músico, onde passaram mais de uma semana em nossa residência. Em um sábado levei
Rejane Machado a visitar nossa Academia de Letras, onde foi saudada pelos acadêmicos,
numa bela e agradável manhã, quando aconteceu pequeno diálogo animado, entre
ela, Assis Brasil e Herculano Moraes, ela muito versada em história e crítica
literária, debateu sobre a Literatura Brasileira atual e o que seria. Eu fiquei
do lado de minha amiga Rejane Machado. Se pesquisarmos as atas da APL,
encontraremos esta questão colocado, indicando sua presença à Academia.
Em “O Outro Lado da Vida”, recebido antes de Rejane
Machado falecer, leio um seguro modo de ver as coisas, assim conduzindo seus
leitores a pensar que o outro lado da coisa é o outro lado do outro, o outro
lado do mundo. Mostrar em ficção como isto se explica, ou pelo que expõe, é
propósito dela, numa escrita limpa, quase conversa, onde os personagens são
sofredores, não por causa do mundo externo, material, mas por causa do “outro”.
Sei que era uma pessoa torturada por suas ideias e por seu padrão de vida
dividido com seu consorte, um abastado mineiro, aportado ao Rio. Dissonâncias
mais que consonâncias. Mas justo dentro deste ambiente criou seus filhos muitos
amados, lembro aqui a mais velha, Elisa, que casara com um piauiense de nome
Francisco e apelidado de Chicão, daí a dedicatória a mim, do seu exemplar de “O
Outro Lado da Coisas”: “Para meus queridos Chicão e Mécia, com minhas saudades”.
Digo isto, porque o marido, o padre,
doutor, são constantes em seus tipos, duelando os motivos que a levaram ser uma
grande escritora, uma apreciadora inigualável da música, especialmente a clássica
e também de tantas outros coisas como formar-se em letras (e formou-se), e
ainda a falta de tempo para escrever, pois extremamente dedicada a seus filhos.
Era também uma excelente pesquisadora da História Geral do Brasil e da
Literatura, nesta espécie, uma excelente crítica, com muitos estudos em
profundidade e que não foram ainda publicados. Assim, recebeu o primeiro lugar,
num concurso sobre famoso escritor baiano, prêmio que lhe foi conferido pela
Academia de Letras da Bahia - bastante divulgado em todo país, sendo concorrentes
nomes importantes da Literatura Brasileira.
Rejane Machado publicou seu primeiro livro de contos, em
1973, com o título de “Dimensão das Pedras, pela Ed. Cátedra, quando
ganhou o prêmio “Fernando Chinaglia”, porém já antes fora premiada pelo “Diário
de Notícias” /INL, Rio, 1969, na categoria contos. Era a época do chamado “boom” da
literatura brasileira, especialmente no gênero contos, que se espalhou por todo
o Brasil, abrangendo poesia, romance, crônica e critica, daí nascendo inúmeros
jornais e revistas: Era a chamada “imprensa
alternativa”. No Piauí tivemos, entre outros, a revista “Cirandinha” e
o jornal “Chapada do Corisco”.
Finalizando, reafirmo que a escritora
Rejane Machado está entre os melhores prosadores brasileiros do período em que
viveu e trabalhou com galhardia, com imensa criatividade e estilo forte e rico,
em todos os livros, sempre com exposição clara e vibrante para expor sua
realidade em ficção.
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Francisco Miguel de Moura
é Acadêmico da APL, cadeira nº 8, poeta e prosador brasileiro, mora em Teresina, PI.
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