segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019


JOSÉ RIBAMAR GARCIA – “CONTOS SELECIONADOS”
                                                           
Francisco Miguel de Moura*
            
Acabo de ler o livro “Contos Selecionados”, de José de Ribamar Garcia, e a primeira frase que me vêm à mente - minha verdade e a verdade de muitos outros escritores e críticos piauienses e nacionais – é esta:  Garcia, o Autor, a cada dia se torna mais desenvolto ao escrever seus contos. Sai livro, entra livro, e ele se consagra como contista da melhor estirpe, pois certamente pode ser colocado entre os melhores do mundo literário atual.
            “Contos Selecionados” é um modelo de livro que deve ser adotado em os todos os cursos de letras nas universidades do Brasil.  O que escritor, pessoalmente, tem de baixote - permito-me falar assim, por causa de nossa grande amizade - sobreleva-se ao escrever, naturalmente aproveitando sua vivência da infância no Piauí e na do Rio de Janeiro, onde reside há muito tempo. Faço a comparação com a figura do baixote Rui Barbosa, dentro da área de cada um, pois Ribamar Garcia é também advogado, grande advogado no Rio, o que não é pouco.  Levemos em conta o perigo e as dificuldades que os cariocas, nascidos ou adotados, têm que suportar, na conturbada “Cidade Maravilhosa” em virtude das ameaças constantes dos chefes e gangues da droga, que espalham a cada dia, mais mortes, mais assaltos, mais todo tipo insegurança e desconforto pela cidade, não somente nos bairros e morros.
            Por isto e por sua capacidade intelectual e sábia, o contista  Ribamar Garcia aproveita tudo o que um espirito iluminado pode aproveitar das mais difíceis circunstâncias, jogando na transfiguração de sua arte aquilo que há de mais sublime, mais generoso e mais humano, sem bancar vaidade nem orgulho, acolhendo todas as ocasiões para presentear os amigos e confrades da Academia Piauiense de Letras, com sua oferta de boa literatura. Boa é pouco: Ótima literatura! Morando na Capital Cultural do país, onde editou a maioria de seus livros, entre crônicas, romances e contos, naturalmente lá suas joias são entregues aos habitantes pelas livrarias e bancas distribuidoras.
            Como não sou mais aquele crítico do passado e hoje escrevo apenas umas “croniquinhas”, além dos meus poemas, vamos rapidamente a uma análise, mesmo que superficial, da obra  Contos Selecionados”: Escolhemos “Calma, Jorge” – a 6ª estória do livro – por ser muito bem humorada, com diálogos rápidos e plausíveis entre os personagens Luís, Jorge e Dr. Almeida,  entrando na história também o “eu” do narrador. Mas um conto supostamente na primeira pessoa, de forma que em muitas passagens pode enganosamente tratar-se de uma história que o autor conta e não uma história em que o “eu” aparece apenas para contá-la. Isto é complexo para quem escreve e para quem lê. Difícil, mas não confuso.  Ribamar Garcia dispõe desta habilidade, que é, diga-se de passagem, de mestre. Escrever sobre livro de contos é difícil, porque são muitas peças a analisar. Mas, nesta obra, Ribamar Garcia não mostra dificuldade, porque, não obstante serem selecionados, formam um bloco único do modo de criar do Autor. Mostrando um pequeno trecho, os leitores naturalmente vão entendê-lo. Trata-se de um diálogo entre dois personagens, ainda na primeira página do conto “Calma, Jorge”:  
             “– E aí, Jorge, já se reformou? – indaguei.
              - Que nada, ‘tava tudo acertado, mas surgiu um capitão que jogou areia no meu prato.”
             Com todos os artifícios permitidos a um bom contista, não é difícil entendê-lo, além de ser de excelente bom humor. Ou seja, nada amargo, mesmo que seja. Jorge é um daqueles enrolões que faz tudo para sair ganhando, como é normal no brasileiro comum, e assim no carioca. Ou estou enganado?
            Que os leitores tirem a dúvida, lendo, não somente este como outros como o “O Justiceiro” e “O Diabo Louro”, por exemplo. Os leitores hão de ver que se trata de um bloco, contando sempre e agradando a quem gosta de alta literatura, onde o conto tem seu lugar de destaque, pois que nasceu antes do romance, quando o homem primitivo acendia a fogueira e passava a contar histórias fabulosas para os outros companheiros. Histórias de caçadas, de pescaria, de mil e umas formas de viver e sobreviver.
            O contista Garcia transforma os ditos populares, como os citadinos, em horas deliciosas de sabedoria que não têm preço. Porque nem tudo que se conta é mentira, nem tudo é verdade. Na maioria das vezes é inventado. No caso de Garcia, no livro “Contos Selecionados”, a reinvenção é sua forma predileta, transformando o que é vida, em exemplos ora sérios, ora de bom humor.  Palmas para ele e para quem venha a ler seus contos, assim também para o seu insigne prefaciador, Cunha e Silva, que não deixa por menos na sua profunda análise.
_____________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta e ficcionista, mora em Teresina-PI e já teve o gosto de morar no Rio de Janeiro, nada ignorando do que vem de lá nem no que vai daqui. Aliás, tem até muitas coisas guardadas para suas próximas crônicas.


3 comentários:

Franklin Morais Moura disse...

Muito interessante. Vou procurar conhecer. Sempre fui fan de contos.

CHIICO MIGUEL disse...

Obrigado, Franklin. Mas não é um conto, é apenas um crônica.

CHIICO MIGUEL disse...

Aliás, /Franklin você está certo, eu fiz uma crítica sobre o livro de contos denominado "Contos Escolhidos", de José Ribamar Garcia. Eu possuo o livro, posso emprestá-lo. Ok?

Minha crônica é a postagem posterior, mas da mesma data: diz muito a respeito de meus amigos e daqueles que eu pensava serem, mas não são. Por isto, o título "Encontros e desencontros".

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