Fritz Miguel Morais Moura**
Apresentação
do livro – “Minha História de Picos”
Prezados senhores, senhoras e senhoritas (e outros que
não se sintam cumprimentados). Bom dia!
Nesta linda manhã de Sábado estamos aqui reunidos para receber das mãos do
escritor, e meu pai, Francisco Miguel de Moura sua obra de pesquisa e resgate
da memória do município de Picos, onde nasceu e viveu, tendo suas raízes bem
firmadas e nunca esquecidas, mesmo depois de haver ganhado o mundo com sua
literatura.
Falar de “Chico Miguel” (como prefere ser chamado)
deveria ser fácil, pois o conheço a 50 anos, como filho, tenho muitas histórias
não contadas sobre nossa convivência familiar. É escritor completo, entende do
assunto, como se diz no popular, escreve de tudo, desde cartas, postagens em sites
e blogs, matérias de jornais e muitas outras faces da arte de escrever. Além de
crítico de literário é especialista em crítica de arte. É grande a minha
responsabilidade, aqui hoje, apresentar nesta solenidade este Imortal da
Academia Piauiense de Letras.
E afirmo a todos, não há como separar o homem, pai de
família, trabalhador e o escritor. Escreveu de várias e diferentes formas suas
histórias, seus sentimentos, sua vida vivida. Sempre foi, para mim, um homem
que admiro na sua dimensão de pai, mas também como exemplo de vida e de profissionalismo,
aprendi com ele valores como ética, caráter e dignidade. Um homem que vai muito
além de um escritor reconhecido internacionalmente.
O Poeta (como sempre se definiu) é um escritor completo,
escreve poesias, contos, crônicas, romances e crítica literária, que pode ser
acompanhada pela leitura de dezenas de suas obras publicadas. Já fez muito pela
literatura do Piauí e ainda tem muito mais a fazer. Escreveu, e escreve ainda
hoje, em jornais e revistas, em algumas foi editor, além de escritor, como a “Revista Cirandinha” (de 1977 a 1984).
Por um tempo ficou responsável pela “Revista
Cadernos de Teresina” (depois de 1984), da “Fundação Cultural Monsenhor
Chaves”.
Tive a honra de participar, em minha mocidade, de
diversas de suas obras, como ilustrador ou fazendo as capas de suas
publicações. Fiz capas e ilustrações das revistas “Cirandinha” e “Cadernos de
Teresina”, as capas dos livros: “Por
que Petrônio não ganhou o céu”, “Rebelião
das Almas”, “Ternura” (em sua primeira edição); e o inédito “Itinerário para passar a tarde”. Também
produzi diversas ilustrações em seu livro em homenagem ao meu avô “Miguel Guarani, mestre e violeiro”.
Ativista cultural e literato, criou juntamente com
Herculano Morais e Hardi Filho o CLIP – Circulo Literário Piauiense e a União
Brasileira de Escritores no Piauí juntamente com Magalhães da Costa, Fontes
Ibiapina, Tarciso Prado e O. G. Rego de Carvalho. Foi radialista com o programa
“Panorama Cultural” na Rádio Clube,
de divulgação da música popular brasileira e da poesia. Lembro-me de ter
recitado, aos nove anos de idade, uma poesia, no programa.
Sobre estes gigantes da cultura e da literatura
piauiense, que eu considerava muitos deles como se fossem meus tios, pela
proximidade que tinham com nossa família, temos algumas histórias não contadas.
Por exemplo, o teatrólogo Tarciso Prado ficava muito preocupado quando o papai
me levava para o “Teatro 4 de Setembro”, enquanto eles dirigiam ensaios ou
simplesmente conversavam sobre poesia e outros assuntos afins, eu corria e
brincava pelo teatro, entrando em todos os seus cantos e recantos, às vezes me arriscando
em peraltices. Histórias nunca esquecidas.
Inovador, trouxe para o Piauí a Poesia Concreta, menina
dos olhos da moderna poesia brasileira do final do século. Crítico literário,
escreveu diversos livros sobre as obras de outros escritores, a mais famosa
delas – “Linguagem e Comunicação em O. G.
Rego de Carvalho”, apresentado
pelo amigo e escritor, Dr. Celso Barros, na noite do lançamento, na Faculdade
Católica de Filosofia do Piauí (FAFI). Foi reverenciado por diversos escritores
de renome nacional e internacional, entre os quais citamos, aqui, o poeta
Carlos Drummond de Andrade, que fez a apreciação através de cartas do próprio
punho enviadas e publicadas no livro “Fortuna
Crítica de Francisco Miguel de Moura”, - publicação que reúne as principais
críticas de outros autores sobre sua obra.
Na “Livraria do Nobre”, meu pai reunia-se com os mais
diversos escritores do Piauí, sempre nas manhãs de sábado, mas também em
edições especiais nos fins de tarde, e conversavam sobre literatura. O escritor
Cineas Santos apelidou esses encontros de “Clube do Silêncio”. Vários
escritores o procuravam para ouvir seus conselhos e orientação. Daquela época,
se me lembro bem, todos os já citados e outros como Rubervam du Nascimento e Elmar Carvalho povoaram a minha
existência, na infância e adolescência.
Nascido no interior de Picos - povoado Jenipapeiro, hoje município
de Francisco Santos - onde trabalhava no comércio até transferir-se para Picos,
com o fim de fazer o curso ginasial. Estava
nos seus 18 anos. Em Picos, sem emprego, foi morar na casa do parente, o Sr.
Abrão Conrado, até então um desconhecido que passou a conhecer através do amigo
Sebastião Nobre Guimarães. Este amigo foi responsável pela sua primeira
publicação – O poema “Teu Valor”,
publicado no jornal “Flâmula”, dos estudantes
do ginásio. Começa aí as suas andanças
deste escrevinhador, o Sr. Abrão arrumou para Chico Miguel, o emprego de Escrivão
de Polícia. Assim, estudava e trabalhava até que passou no concurso público
para o Banco do Brasil, em 1957 (ia fazer 24 anos). A partir de então morou no “Picos
Hotel” até casar-se com Dona Mécia (minha mãe), companheira de caminhadas e
aventuras desta vida, até hoje.
Agora lança este livro, mais uma de suas facetas, a de historiador.
Esta é uma obra de pesquisa e resgate da memória do município de Picos, onde
nasceu e viveu, misturando histórias contadas, pesquisadas e vivenciadas. Vai
na contramão da crença popular de que quando aumenta nossa idade, diminui
nossas lembranças; ele está provando que têm mais memória são aqueles que
viveram mais, aqueles que tem histórias vividas para contar.
Segue alguns pensamentos do nosso
querido Chico Miguel, ainda inéditos:
“Tudo é provisório,
mas Deus permanece coerente e contraditório”.
“Uma prova da
indiferença nossa é que, apesar de tantas revoluções, o homem continua o mesmo”.
“Jesus fez o
milagre da multiplicação. Quando os homens foram dividir o milagre, então houve
guerra”.
“Livro inédito não tem nome. O
batismo é a letra de forma”.
“Quem tem boca, vai a Roma, e
arruma”.
“Existem dois mundos: o escrito e o
não escrito, segundo Ítalo Calvino: Eu pertenço ao primeiro mundo, onde me sinto bem longe dos analfabetos”.
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*Discurso pronunciado no Auditório
da Academia Piauiense de Letras, Teresina, Piauí, em 25-8-2018.
**Fritz Miguel Morais
Moura, filho caçula do escritor Francisco Miguel, é Professor Universitário com
formação em Administração, Economia, Arquitetura e Urbanismo.
4 comentários:
O pai é fera com sua magnifica obra literária e você também irmão, principalmente pelo discurso.
Parabens aos dois , pai e filho , pela memoria e inteligencia e que tudo se multiplique para a nova geracao dessa familia.
Pelos vossos frutos o conhecerei! Nobre Francisco Miguel, cujos filhos propagam a boa obra, servos fiéis na construção do Reino de Deus sobre a Terra. Deus abençoe essa família!
Obrigado, meu filho Fritz, por tudo. Melhor não poderia ser. Obrigado também a todos q visitam e visitarão meu blog.
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