quinta-feira, 30 de agosto de 2018

FRANCISCO MIGUEL DE MOURA – PAI E ESCRITOR*


 Fritz Miguel Morais Moura**


                  

             Apresentação do livro – “Minha História de Picos”
                                                                                
            Prezados senhores, senhoras e senhoritas (e outros que não se sintam cumprimentados).  Bom dia! Nesta linda manhã de Sábado estamos aqui reunidos para receber das mãos do escritor, e meu pai, Francisco Miguel de Moura sua obra de pesquisa e resgate da memória do município de Picos, onde nasceu e viveu, tendo suas raízes bem firmadas e nunca esquecidas, mesmo depois de haver ganhado o mundo com sua literatura.
            Falar de “Chico Miguel” (como prefere ser chamado) deveria ser fácil, pois o conheço a 50 anos, como filho, tenho muitas histórias não contadas sobre nossa convivência familiar. É escritor completo, entende do assunto, como se diz no popular, escreve de tudo, desde cartas, postagens em sites e blogs, matérias de jornais e muitas outras faces da arte de escrever. Além de crítico de literário é especialista em crítica de arte. É grande a minha responsabilidade, aqui hoje, apresentar nesta solenidade este Imortal da Academia Piauiense de Letras.
            E afirmo a todos, não há como separar o homem, pai de família, trabalhador e o escritor. Escreveu de várias e diferentes formas suas histórias, seus sentimentos, sua vida vivida. Sempre foi, para mim, um homem que admiro na sua dimensão de pai, mas também como exemplo de vida e de profissionalismo, aprendi com ele valores como ética, caráter e dignidade. Um homem que vai muito além de um escritor reconhecido internacionalmente.
            O Poeta (como sempre se definiu) é um escritor completo, escreve poesias, contos, crônicas, romances e crítica literária, que pode ser acompanhada pela leitura de dezenas de suas obras publicadas. Já fez muito pela literatura do Piauí e ainda tem muito mais a fazer. Escreveu, e escreve ainda hoje, em jornais e revistas, em algumas foi editor, além de escritor, como a “Revista Cirandinha” (de 1977 a 1984). Por um tempo ficou responsável pela “Revista Cadernos de Teresina” (depois de 1984), da “Fundação Cultural Monsenhor Chaves”.
            Tive a honra de participar, em minha mocidade, de diversas de suas obras, como ilustrador ou fazendo as capas de suas publicações. Fiz capas e ilustrações das revistas “Cirandinha” e “Cadernos de Teresina”, as capas dos livros: “Por que Petrônio não ganhou o céu”, “Rebelião das Almas”, “Ternura” (em sua primeira edição); e o inédito “Itinerário para passar a tarde”. Também produzi diversas ilustrações em seu livro em homenagem ao meu avô “Miguel Guarani, mestre e violeiro”.
            Ativista cultural e literato, criou juntamente com Herculano Morais e Hardi Filho o CLIP – Circulo Literário Piauiense e a União Brasileira de Escritores no Piauí juntamente com Magalhães da Costa, Fontes Ibiapina, Tarciso Prado e O. G. Rego de Carvalho. Foi radialista com o programa “Panorama Cultural” na Rádio Clube, de divulgação da música popular brasileira e da poesia. Lembro-me de ter recitado, aos nove anos de idade, uma poesia, no programa.
            Sobre estes gigantes da cultura e da literatura piauiense, que eu considerava muitos deles como se fossem meus tios, pela proximidade que tinham com nossa família, temos algumas histórias não contadas. Por exemplo, o teatrólogo Tarciso Prado ficava muito preocupado quando o papai me levava para o “Teatro 4 de Setembro”, enquanto eles dirigiam ensaios ou simplesmente conversavam sobre poesia e outros assuntos afins, eu corria e brincava pelo teatro, entrando em todos os seus cantos e recantos, às vezes me arriscando em peraltices. Histórias nunca esquecidas.
            Inovador, trouxe para o Piauí a Poesia Concreta, menina dos olhos da moderna poesia brasileira do final do século. Crítico literário, escreveu diversos livros sobre as obras de outros escritores, a mais famosa delas – “Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho”, apresentado pelo amigo e escritor, Dr. Celso Barros, na noite do lançamento, na Faculdade Católica de Filosofia do Piauí (FAFI). Foi reverenciado por diversos escritores de renome nacional e internacional, entre os quais citamos, aqui, o poeta Carlos Drummond de Andrade, que fez a apreciação através de cartas do próprio punho enviadas e publicadas no livro “Fortuna Crítica de Francisco Miguel de Moura”, - publicação que reúne as principais críticas de outros autores sobre sua obra.
            Na “Livraria do Nobre”, meu pai reunia-se com os mais diversos escritores do Piauí, sempre nas manhãs de sábado, mas também em edições especiais nos fins de tarde, e conversavam sobre literatura. O escritor Cineas Santos apelidou esses encontros de “Clube do Silêncio”. Vários escritores o procuravam para ouvir seus conselhos e orientação. Daquela época, se me lembro bem, todos os já citados e outros como Rubervam du Nascimento e Elmar Carvalho povoaram a minha existência, na infância e adolescência.
            Nascido no interior de Picos - povoado Jenipapeiro, hoje município de Francisco Santos - onde trabalhava no comércio até transferir-se para Picos, com o fim de fazer o curso ginasial.  Estava nos seus 18 anos. Em Picos, sem emprego, foi morar na casa do parente, o Sr. Abrão Conrado, até então um desconhecido que passou a conhecer através do amigo Sebastião Nobre Guimarães. Este amigo foi responsável pela sua primeira publicação – O poema “Teu Valor”, publicado no jornal “Flâmula”, dos estudantes do ginásio.  Começa aí as suas andanças deste escrevinhador, o Sr. Abrão arrumou para Chico Miguel, o emprego de Escrivão de Polícia. Assim, estudava e trabalhava até que passou no concurso público para o Banco do Brasil, em 1957 (ia fazer 24 anos). A partir de então morou no “Picos Hotel” até casar-se com Dona Mécia (minha mãe), companheira de caminhadas e aventuras desta vida, até hoje.
            Agora lança este livro, mais uma de suas facetas, a de historiador. Esta é uma obra de pesquisa e resgate da memória do município de Picos, onde nasceu e viveu, misturando histórias contadas, pesquisadas e vivenciadas. Vai na contramão da crença popular de que quando aumenta nossa idade, diminui nossas lembranças; ele está provando que têm mais memória são aqueles que viveram mais, aqueles que tem histórias vividas para contar.             
                 Segue alguns pensamentos do nosso querido Chico Miguel, ainda inéditos:
             “Tudo é provisório, mas Deus permanece coerente e contraditório”.
        “Uma prova da indiferença nossa é que, apesar de tantas revoluções, o homem continua o mesmo”.
           “Jesus fez o milagre da multiplicação. Quando os homens foram dividir o milagre, então houve guerra”.
             “Livro inédito não tem nome. O batismo é a letra de forma”.
            “Quem tem boca, vai a Roma, e arruma”.
        “Existem dois mundos: o escrito e o não escrito, segundo Ítalo Calvino: Eu pertenço ao primeiro mundo, onde me sinto bem longe dos analfabetos”.
                                        _______________________________
*Discurso pronunciado no Auditório da Academia Piauiense de Letras, Teresina, Piauí, em 25-8-2018.
**Fritz Miguel Morais Moura, filho caçula do escritor Francisco Miguel, é Professor Universitário com formação em Administração, Economia, Arquitetura e Urbanismo.
                   

4 comentários:

Franklin Morais Moura disse...

O pai é fera com sua magnifica obra literária e você também irmão, principalmente pelo discurso.

Unknown disse...

Parabens aos dois , pai e filho , pela memoria e inteligencia e que tudo se multiplique para a nova geracao dessa familia.

Unknown disse...

Pelos vossos frutos o conhecerei! Nobre Francisco Miguel, cujos filhos propagam a boa obra, servos fiéis na construção do Reino de Deus sobre a Terra. Deus abençoe essa família!

CHIICO MIGUEL disse...

Obrigado, meu filho Fritz, por tudo. Melhor não poderia ser. Obrigado também a todos q visitam e visitarão meu blog.

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