quinta-feira, 21 de junho de 2018

PROFESSOR SANTANA (1926-2018) – CRÔNICA DE SAUDADE


Francisco Miguel de Moura*
 Poeta e ficcionista

                                       
          A morte do Prof. Santana, como era bastante conhecido, não nos causou surpresa, visto que vinha convalescendo há muito tempo, em virtude de um AVC que o levaria a anos de cama. Um como que alívio do seu sofrimento junto aos familiares, acadêmicos e a uma legião de amigos, eis o que nos repassam essas primeiras horas do infausto ocorrido. Ainda me encontro atrapalhado, angustiado ao iniciar esta crônica. Não era o que queríamos. Gostaríamos, sim, de vê-lo viver com saúde, alegria e disposição de luta – como o fez sempre – pelas nobres causas: a educação, a ciência, a economia, a filosofia e a cultura, com aquele vigor que só os fortes têm.  Longe das canseiras da terra, terá o merecido descanso junto aos eleitos de Deus. Conheci o Prof. Santana desde quando fez uma palestra para os alunos da Faculdade Católica de Filosofia do Piauí (FAFI), ali na Praça Saraiva. Era uma época de grande sofrimento no Brasil, anos da Ditadura Militar de 1964. Mas sua fala dirigia-se à ciência econômica e à cultura. Num determinado momento, eu quis pedir-lhe aparte para retrucar alguma coisa que me parecia ilógica, mas fui desestimulado pelo colega Antônio José Medeiros. E ele fez bem. O Prof. Santana era inquestionável, não que não fosse democrata, mas conduzia verdades com clareza que era impossível não aceitar. Saber, segurança, palavra fácil, conhecimento profundo do que pregava – não havia ser contestado, mas apenas arguido – pois seu tom era o do saber, dos saberes: filosofia, economia, sociologia, história, tudo tecido numa voz que impressionava. Depois, passados alguns anos, a ditadura havia ido embora, ele já acadêmico da APL e eu ainda não. Encontramo-nos numa livraria. Conversa amena e agradável. Era uma pessoa cheia de vida. Quando me tornei acadêmico, lá também soube da sua fama, e a esta altura já o havia lido sua primeira obra, que versava sobre a Economia Piauiense. Passaram-se mais uns anos e ele foi eleito Presidente da Academia. E eu fui convidado a secretariá-lo. Fez o que pôde, dentro das funções e possibilidades, contando com o apoio dos demais confrades. Nas batalhas para angariar financiamentos dos projetos, eu o acompanhava, com prazer. Foram muitas publicações, entre as quais uma série de revista (chegando aos 10 números) que contemplavam a vida e a obra dos maiores escritores e homens de cultura do Piauí, até então sem a devida divulgação. A “Revista da Academia” estava em atraso: Dois números tiveram sua edição, além de livros e conferências na passagem do milênio 2000-2001. Terminado o seu mandato, convidou-me a para ser seu substituo. Caso estivesse disposto a concorrer, teria o seu apoio. Mas eu declinei do pedido, uma vez que iria concorrer com o eminente Des. Paulo Freitas.  Membro do Conselho Estadual de Cultura, no cargo de Vice-Presidente, assumia a Presidência, e nessa mínima ocasião assumiu a batalha pela recuperação do prédio da Biblioteca Estadual. Realizou “in loco” mais de uma sessão com o Diretor, professores e alunos. Finalmente conseguiu, a muito custo, que o Governo do Estado cuidasse do que devia ser cuidado imediatamente.
          Leitor, encaminhei esta matéria mais para o lado pessoal de minha convivência com ele. Eu e o poeta Hardi Filho, visitávamos em sua casa, amigos íntimos que éramos. Convivência agradável, inclusive de nossas esposas com Dª Magnólia, seu amor de toda a vida. Aliás, com a morte de Dª Magnólia, ele sofreu bastante. Na minha visão, desde o passamento de sua companheira ele nunca mais foi o mesmo. Sua alegria, que era permanente, fugiu, e sempre que tomava a palavra, pronunciava seu nome com a reverência de sentimentos que outrora não expressava, por parecer ser uma personalidade inclinada mais para o racional que para os sentimentos. Mas sempre demonstrou admirar os poetas. Era um nobre no sentir quanto no pensar. Outros, que escreveram sobre o Prof. Santana, já apontaram os cargos que ocupou e as medalhas recebidas, que foram muitos, por merecimento. Diante disto, permito-me copiar parte do que escrevi sobre ele, no livro “Literatura do Piauí” (2013), colocando-o no pórtico do capítulo entre a geração Meridiano e a do CLIP:  Raimundo Nonato Monteiro de Santana nasceu em Campo Maior (PI), em 1926. Formado em Direito e Economia, professor emérito, autor de “Introdução à Problemática da Economia Piauiense” (1957), “O Desenvolvimento Econômico Nacional na Teoria Econômica Geral” (1959) e “Evolução Histórica da Economia Piauiense” (1964) – uma brilhante inteligência e grande vontade de contribuir. Deu sua parcela na evolução do panorama cultural das décadas de 1950/1960. E continuou publicando obras suas e dos outros, organizadas por ele: “A Nova Realidade-Mundo” (1997-1998), resultantes de cursos e conferências na Universidade Federal do Piauí, na Universidade de Brasília, na Escola Superior de Guerra e no Colégio Interamericano de Defesa (Washington-EUA). Mais ainda: Continuou laborando nesse terreno, reuniu inteligências e especialidades e propiciou edições coletivas, sob sua direção, entre as quais “Piauí: Formação, Desenvolvimento, Perspectivas” (1995) e “Apontamentos para a História Cultural do Piauí” (2003). Portanto, o Professor Santana não morreu: baixou à terra no dia 15-06-2018, mas subiu ao céu dos homens de bem e da nossa memória.
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*Francisco Miguel de Moura, membro da Academia Piauiense de Letras e da Academia de Letras da Região de Picos. Mora em Teresina (PI).

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