terça-feira, 22 de maio de 2018

HERCULANO MORAES DA SILVA FILHO - CRÔNICA


            

Francisco Miguel de Moura * 
Membro da Academia Piauiense de Letras
           
       Não sei como começar esta pequena crônica sobre o amigo e confrade da Academia Piauiense de Letras, Herculano Moraes, falecido à tardinha do 17 de maio de 2018, em Teresina - PI, com 75 anos de idade, vítima de um câncer do pulmão.  Ainda com um peso no coração, sinto-me atarantado em escrever sobre o querido amigo de muitas batalhas literárias:  A primeira, na fundação e existência curta do CLIP-Circulo Literário Piauiense, de cuja entidade vieram para a APL, em ordem de entrada, ele, Herculano Moraes, Hardi Filho e eu. A segunda foi sua surpreendente entrada na Academia Piauiense de Letras, por ser ainda muito jovem e não ser aquele o costume do sodalício. A terceira foi quando ele concorreu à presidência da Academia Piauiense de Letras, onde ocupava a cadeira nº 18, patroneada pelo Marquês de Paranaguá e ocupada anteriormente por José Félix Alves Pacheco e José Burlamáqui Auto de Abreu. Tinha as qualidades necessárias para ganhar e não ganhou. Mesmo assim continuou com sempre, com urbanidade e laboriosamente ajudando nos trabalhos da “Casa de Lucídio Freitas”, que tanto amava, onde atualmente era o Secretário Geral.
          Dizemos que Herculano era ainda relativamente jovem, a guiar-nos pela média de vida dos 74,9 anos – taxa do IBGE – para a longevidade média do brasileiro. E ainda mais porque, nos tempos modernos, graças aos avanços da Medicina e de outas ciências congêneres, a média já deve andar por mais primaveras. Por meu estado de saúde, tomando medicamentos controlados para dormir, não pude ir velar seu corpo, por isto pedimos perdão a sua atual esposa, agora viúva, professora Maria Nilza Moraes.  E, ainda assim, aconteceu que, nas duas noites seguidas a sua morte, quase não dormia, dormi mal. Porém, imediatamente ao saber de seu falecimento, eu e minha esposa, D. Maria Mécia Morais Moura, rezamos a Deus pela sua alma para que lhe conceda a paz e a felicidade da vida eterna, destinada aos eleitos para o Reino dos Céus.
          Herculano era um tipo calmo, amigo, sem apego aos bens da terra, exceto, as artes e a literatura, lutando pela liberdade de palavra e opinião:  quer como jornalista, quer como poeta, dedilhando seus versos simples, mas sinceros e bens cuidados ou contando a história dos escritores piauienses vivos e mortos.   Nesse trabalho, abraçou tantas causas boas, entre elas, a da implantação da literatura piauiense, como matéria obrigatória, nas escolas de todos níveis, inclusive nas universidades. Esta era uma das suas notórias discussões. No CLIP – Circulo Literário Piauiense – foi o seu presidente. Como jornalista o divulgou o quanto pode. Ninguém no Piauí fez tantos movimentos literários a favor da literatura, da poesia e dos poetas, também dos artistas de outras áreas artísticas de modo geral. Andamos por este Piauí, de norte a sul, de São Raimundo Nonato a Parnaíba, de Barras a Luzilândia, Picos, Valença e Amarante, por exemplo, em caravanas ou em grupos pequenos, fazendo festivas, recitais, palestras, simpósios. Fundador de diversas Academias regionais, entre elas citemos a Academia de Letras do Vale do Longá e a Academia de Letras do Médio Parnaíba.
          No meu livro “Literatura do Piauí”, 2ª edição, em 2013, editado pela Universidade Federal do Piauí, destinei um capítulo para divulgar a “Geração do Novo Milênio”. O nome é criação do próprio Herculano Moraes. Contando com a participação de dezenas de integrantes da mais nova geração lítero-cultural e representantes da geração anterior, na “Conferência das Gerações”, Herculano Moraes presidiu o encontro que reunia dezenas de intelectuais, no próprio auditória da APL, para o debate do que significa ser escritor, no novo milênio, século XXI.  Teve uma vida toda dedicada à literatura. Sem esperar muito para si: não era egoísta como outros. Era um líder, falando à juventude dos seus sonhos e das lutas pela liberdade e justiça. Não acredito que tenha deixado inimigos, mesmo campo literário, onde surgem os inimigos gratuitos. Menino do interior, aqui se fez com muita luta, estudando e trabalhando, escrevendo, falando e lendo os melhores autores. Redator desinibido, de linguagem simples, seus artigos e crônicas pelo jornal eram lidos com alegria e simpatia, pois que os destinava ao povo. Tudo isto sem descer à linguagem chula dos que querem ser popular imitando os erros e cacoetes do populacho. Seus poemas são de uma clareza meridiana, mas sempre com o toque de quem trabalha a palavra e sabe bem que só o amor e as amizades convêm ser divulgados e elogiados. Como político, foi um líder, primeiramente estudantil, na luta por seus direitos e no sagrado dever de estimulá-los ao estudo, fazendo com que as vidas mais duras progredissem até o alcance dos grandes sonhos. Depois foi vereador e Secretário de Estado, levando seus dotes de jornalista a mais outros cargos, que os executava a contento.  Quis o bem, fez o bem, viveu pobre, mas rico de poesia e de sonhos, e graças aos seus sonhos muito realizou. E poderia ter feito mais. Porém Deus o chamou, deixando-nos imorredoura saudade.
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* Francisco Miguel de Moura, poeta e ficcionista do Piauí, mora em Teresina - PI e é membro da Academia Piauiense de Letras (APL), cadeira nº. 8, patroneada pelo poeta J. Coriolano (José Coriolano de Sousa Lima. 

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