Francisco Miguel de Moura *
Membro da Academia Piauiense de
Letras
Não sei como começar esta pequena crônica sobre
o amigo e confrade da Academia Piauiense de Letras, Herculano Moraes, falecido à
tardinha do 17 de maio de 2018, em Teresina - PI, com 75 anos de idade, vítima
de um câncer do pulmão. Ainda com um
peso no coração, sinto-me atarantado em escrever sobre o querido amigo de
muitas batalhas literárias: A primeira,
na fundação e existência curta do CLIP-Circulo Literário Piauiense, de cuja
entidade vieram para a APL, em ordem de entrada, ele, Herculano Moraes, Hardi
Filho e eu. A segunda foi sua surpreendente entrada na Academia Piauiense de
Letras, por ser ainda muito jovem e não ser aquele o costume do sodalício. A
terceira foi quando ele concorreu à presidência da Academia Piauiense de
Letras, onde ocupava a cadeira nº 18, patroneada pelo Marquês de Paranaguá e ocupada
anteriormente por José Félix Alves Pacheco e José Burlamáqui Auto de Abreu.
Tinha as qualidades necessárias para ganhar e não ganhou. Mesmo assim continuou
com sempre, com urbanidade e laboriosamente ajudando nos trabalhos da “Casa de
Lucídio Freitas”, que tanto amava, onde atualmente era o Secretário Geral.
Dizemos que Herculano era ainda relativamente jovem, a
guiar-nos pela média de vida dos 74,9 anos – taxa do IBGE – para a longevidade média
do brasileiro. E ainda mais porque, nos tempos modernos, graças aos avanços da
Medicina e de outas ciências congêneres, a média já deve andar por mais
primaveras. Por meu estado de saúde, tomando medicamentos controlados para
dormir, não pude ir velar seu corpo, por isto pedimos perdão a sua atual
esposa, agora viúva, professora Maria Nilza Moraes. E, ainda assim, aconteceu que, nas duas
noites seguidas a sua morte, quase não dormia, dormi mal. Porém, imediatamente
ao saber de seu falecimento, eu e minha esposa, D. Maria Mécia Morais Moura,
rezamos a Deus pela sua alma para que lhe conceda a paz e a felicidade da vida
eterna, destinada aos eleitos para o Reino dos Céus.
Herculano era um tipo calmo, amigo,
sem apego aos bens da terra, exceto, as artes e a literatura, lutando pela
liberdade de palavra e opinião: quer
como jornalista, quer como poeta, dedilhando seus versos simples, mas sinceros
e bens cuidados ou contando a história dos escritores piauienses vivos e mortos. Nesse
trabalho, abraçou tantas causas boas, entre elas, a da implantação da
literatura piauiense, como matéria obrigatória, nas escolas de todos níveis,
inclusive nas universidades. Esta era uma das suas notórias discussões. No CLIP
– Circulo Literário Piauiense – foi o seu presidente. Como jornalista o
divulgou o quanto pode. Ninguém no Piauí fez tantos movimentos literários a
favor da literatura, da poesia e dos poetas, também dos artistas de outras
áreas artísticas de modo geral. Andamos por este Piauí, de norte a sul, de São
Raimundo Nonato a Parnaíba, de Barras a Luzilândia, Picos, Valença e Amarante,
por exemplo, em caravanas ou em grupos pequenos, fazendo festivas, recitais,
palestras, simpósios. Fundador de diversas Academias regionais, entre elas
citemos a Academia de Letras do Vale do Longá e a Academia de Letras do Médio
Parnaíba.
No meu livro “Literatura do Piauí”, 2ª edição, em 2013, editado
pela Universidade Federal do Piauí, destinei um capítulo para divulgar a
“Geração do Novo Milênio”. O nome é criação do próprio Herculano Moraes. Contando
com a participação de dezenas de integrantes da mais nova geração
lítero-cultural e representantes da geração anterior, na “Conferência das
Gerações”, Herculano Moraes presidiu o encontro que reunia dezenas de
intelectuais, no próprio auditória da APL, para o debate do que significa ser
escritor, no novo milênio, século XXI. Teve
uma vida toda dedicada à literatura. Sem esperar muito para si: não era egoísta
como outros. Era um líder, falando à juventude dos seus sonhos e das lutas pela
liberdade e justiça. Não acredito que tenha deixado inimigos, mesmo campo
literário, onde surgem os inimigos gratuitos. Menino do interior, aqui se fez
com muita luta, estudando e trabalhando, escrevendo, falando e lendo os
melhores autores. Redator desinibido, de linguagem simples, seus artigos e crônicas
pelo jornal eram lidos com alegria e simpatia, pois que os destinava ao povo.
Tudo isto sem descer à linguagem chula dos que querem ser popular imitando os
erros e cacoetes do populacho. Seus poemas são de uma clareza meridiana, mas
sempre com o toque de quem trabalha a palavra e sabe bem que só o amor e as
amizades convêm ser divulgados e elogiados. Como político, foi um líder,
primeiramente estudantil, na luta por seus direitos e no sagrado dever de
estimulá-los ao estudo, fazendo com que as vidas mais duras progredissem até o
alcance dos grandes sonhos. Depois foi vereador e Secretário de Estado, levando
seus dotes de jornalista a mais outros cargos, que os executava a
contento. Quis o bem, fez o bem, viveu
pobre, mas rico de poesia e de sonhos, e graças aos seus sonhos muito realizou.
E poderia ter feito mais. Porém Deus o chamou, deixando-nos imorredoura
saudade.
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