terça-feira, 17 de abril de 2018

IMPORTÂNCIA DA POESIA NA FORMAÇÃO DA JUVENTUDE (Ontem e hoje)


Francisco Miguel de Moura*
         
Que belo e importante tema!  O poeta e cantor-compositor José Solon de Sousa, dono desta festa, me põe de “saia justa”! Não me considero exemplo pra ninguém, se é que fui em outros tempos e lugares. Mas, “lato sensu”, todos nós somos exemplos, mesmo porque somos o que os outros fazem de nós, num sentido saudável da socialidade. E, não sendo orador, a aproveito-me do meu conhecimento de vida e poesia, de letras e artes, desde minha formação, para tecer essas palavras de apoio à juventude de hoje, na experiência de minha juventude de antes. Mas coloco uma coisa que não deve existir:  separação entre jovens e velhos, visto que certamente ambos se aproveitam dessa convivência e ambos aprendem muito com ela.
          Quando era jovem (criança e adolescente, e até depois), gostava de conversar com as pessoas mais velhas, porque elas são sábias, embora não de uma sabedoria atualizada, mas de um saber guardado pelas gerações. Dessas pessoas aprendi a respeitar todos com a mesma urbanidade e gostar das crianças e de jovens, escolhendo como amigos aqueles que mais me pareciam no caminho do bem, não aquele bem quieto, mas aquele tipo que procura manter-se atualizado e fazer suas opções mais corretas na vida. Me dei bem. Em Picos, aonde passei parte de minha juventude, alicercei meus caminhos para a vida. Não me recordo de que houvesse alguma pessoa (nem jovens, nem velhos) naquela época, que não me quisesse bem e me apontasse o melhor caminho. Chegado em Picos, eu já trazia o cabedal da minha educação doméstica como a educação escolar, pois que meu pai era professor e foi quem primeiro me guiou no caminho da minha formação. Nem todos têm como eu tive, esta fortuna: educação no lar juntamente com o aprendizado da escola. Nem todas as crianças e jovens tiveram a minha. E por aí que eu pego: Os professores devem ser respeitados como os pais. Sem a devida educação doméstica ninguém irá muito longe. Infelizmente, o que observamos atualmente é este divórcio entre a educação doméstica e a escola: Os pais, cuidando só do seu umbigo, deixam os filhos ao desdará.  Ou seja, diante de uma tevê, com um celular na mão, sem ter quem lhes prepare sequer um “dever de casa” – tudo ficando por conta de uma serviçal - pessoa que, pelo comum, não tem instrução e nem a necessária educação doméstica, pois que nem casa nem família possui, a coitada. São problemas  originários das revoluções sociais lá de fora (lembremos a França de 1948) e o próprio Brasil da Ditadura Militar, lá por outros problemas, cujos disparates exportam (o caso mais explícito é a imitação aos americanos em tudo de pior que têm), da cozinha à escola, do trabalho às diversões (música, cinema, tevê, etc.).  Esta última influência é recebida pela “mídia” que, na maioria das vezes, nos leva a enganoso entendimento do mundo.  Ignorando-se o conhecimento do passado pela história, cujo início começa em casa e vai para a escola, com o professor e os livros, deu no modo como vivemos hoje. E, assim, temos que enfrentar esses problemas.
          “Voltando à vaca fria”, expressão dos antigos, antes de eu haver chegado à cidade de Picos, já havia recebido minha educação fundamental. Agora enfrentaria a sociedade, os problemas financeiros e a continuação do estudo. Foi, então, quando tracei o novo roteiro que teria de seguir: Viver respeitando professores e colegas na sala de aula e lá fora, ensinar aos que não sabiam tanto quanto eu, tolerar algumas chateações que, sem dúvida, acontecem entre colegas, lembrava do Hino do Brasil, cantado diante da escola, em grupo, antes de adentrar a sala de aula, no tempo vivido no interior. Em dentro da escola, respeitar os superiores e colegas. Do “bulling” de hoje sempre houve ameaças, mas os culpados eram castigados severamente. Com já havia aprendido a ler e escrever, lia muito, passava noites à dentro lendo livros emprestados, quando também escrevia os primeiros poemas. Lembrava sempre de recitar nas sabatinas, quando para isto era designado, ou mesmo na praça e até nos bares, como muitas vezes fiz em Jenipapeiro/Angico Branco/Santo Antônio e em outras localidades por onde passei. Foi em Aroeiras que aprendi um belo poema de autoria de Olavo Bilac, que ainda conservo na memória. Vale bem recitá-lo, neste dia festivo, tão importante para a comunidade de Jaicós quanto para o médico-poeta Dr. José Solon de Sousa, fundador desta Casa de Cultura cujo nome é homenagem a sua genitora:  - “O’ mamãe, quando dormimos / Todos, num sono profundo? / Há mesmo almas do outro mundo / Que aos meninos aparecem? // - Não creia nisto, é tolice, Fantasmas são invenções / Para dar medo aos poltrões.../ Não houve ninguém que os visse. // Não há gigantes nem fadas, / Nem gênios perseguidores, / Nem monstros aterradores, / Nem princesas encantadas. // As almas dos que morreram / Não voltam à terra mais, / Pois vão descansar em paz / Do que na terra sofreram. //Dorme com tranquilidade, / Nada receia meu filho / Quem não se afasta do trilho / Da justiça e da bondade”.
          Este é um exemplo edificante, sem dúvida. Na juventude é que se aprende as primeiras lições da vida, repito. Os jovens são tão importes na edificação da vida futura, principalmente quando se apoiam nos que já viveram e sabem quanto custa o mundo. Todos nós, jovens e idosos, somos construtores do futuro, uns pelo que estão aprendendo, outros pelo que  ensinam e pelo modo de viver e  comunicar-se.  O ensino, sem os exemplos, de nada se aproveita. Respeitemos os jovens com os exemplos diários e teremos uma juventude sadia e forte.
          Mas, hoje, parece haver uma contradição entre jovens e velhos. Somente parece. Quem não se orgulha dos seus pais, dos seus avós quando alcançam? Quem não se orgulha da terra que lhe deu o berço? Apenas com o exercício da lógica, chega-se à aproximação e à distância entre as duas idades. Assim foi que Rui Barbosa, a “Águia de Haia”, num dos seus famosos discursos, assegurou-nos que “na terra em que os meninos campeiam de doutores, os doutores não passarão de meninos”. Precisamos meditar sobre isto.
          Hoje, os meninos querem saber bem manejar os instrumentos que a técnica e a eletrônica lhes oferecem, e o fazem com muita rapidez, por isto costumam menosprezar os mais velhos, os idosos, palavra usada normalmente com certo desdém pela mocidade. Não digo todos, há sempre exceções que não fazem a regra. Generalizar é o maior defeito de quem escreve ou fala. A frase vem muito a propósito do que pretendemos dissertar: A educação na juventude, através da escola, da arte especialmente da poesia e da música. Vemos, hoje, muitas coisas que afastam os jovens dos velhos, que iludem os jovens para caminhos que são mais que descaminhos.  O bom caminho fica somente para poucos. Exclui aqueles que caem na vida das drogas e dos seus aproveitadores – chefões e vilões do narcotráfico - que, mesmo presos, enchem a “burra” dos políticos sem escrúpulos e sem nenhum caráter, para fazer suas campanhas eleitoreiras e gerar a enorme corrupção que vemos e vivemos. 
          Depois dessa peroração, enumero, no meu entendimento, as principais coisas que afastam a juventude do bom caminho:
          1 – A “mídia”, que, se por um lado traz o benefício das comunicações mais rápidas através da internet e por meio de celulares e outras “estrovengas, afastando os jovens da boa literatura, da melhor escola, do lirismo e simbolismo da poesia e da música, enfim de todas artes, eis que caem na anti-arte, a“art-pope”. Não há art-pope, o que há é massificação, emburrecimento do espirito. Está provado que a boa música e a melhor poesia (e não o rock e outras que tais) são verdadeiros elementos que retardam o envelhecimento e curam muitas doenças: depressão, mal de Alzheim e câncer, as mais conhecidas e sofridas pela população mundial.  Mas, não somente os jovens e os medianos: Os velhos sem noção, querendo ser menino, embarcam numa canoa furada. Pelo amor de Deus não acreditem em tudo da mídia... A mentira é mais sedutora do que a verdade e anda mais rapidamente.
          2) - A fraqueza dos pais, porque dão toda a liberdade às crianças e principalmente aos adolescentes, querendo, assim, libertar-se dos seus compromissos com a sociedade e com a Divina Majestade, o Criador. Eles entregam seus filhos ao mundo, sem aqueles princípios morais e éticos, os quais só se aprendem com o exemplo. Se os pais não dão o exemplo, quem vai dar? O mundo, a mídia? Assim, a juventude de hoje, possuidora de um mundo moderno de tantas maravilhas, foge pela tangente das farras, das bebedeiras, para as facilidades e a corrupção que lhes estragam vida, para toda a vida. E muitos mais vão morrer de um “tiro perdido”, porque devem um naco de droga, porque adquirem-na ao distribuidor e não lhes pagam, dos que enfim, não acreditam na vida e terminam assassinados pela polícia ou por algum dos seus comparsas. Não esquecer que a estatística de suicídio, por parte dos jovens das grandes cidades, é alarmante. Uma geração inteira está sendo esvaziada por causa desses males do mundo social e sociável.
          Mas nem tudo está perdido. Há muito a aproveitar do mundo moderno. Com parcimônia os velhos vão-se adaptando às modernidades e as escolas, desde a fundamental até a universidade, estão cheias, mesmo que, muitas vezes, as condições ambientais e a dos mestres não sejam bem melhores como se deseja. Particularmente, eu digo que estudar, ler poesias, decorar poesias, ouvir música muito me ajudou a chegar aos 85 anos. Conclamo a todos os idosos que, como eu, façam estes exercícios diariamente, e terão uma vida mais longa e mais saudável. Também, mais paciência e condição de aprender com os jovens e ensiná-los a vida, a história, a família, a paz, o respeito humano, patrioticamente votando nos melhores homens para dirigir nosso Brasil verde-amarelo-e-azul, com ordem e progresso sempre.
          Para finalizar, recito um soneto denominado “A Escola”, autoria do professor e historiador Basílio de Magalhães (1874-1957) – uma lição de amor, paz, trabalho e gratificação aos mestres e alunos:

         “A Escola é o foco de onde a luz radia, / A luz que aclara o tempo e as nações: / Ora é luz que descanta, é cotovia; / Ora é centelha de revoluções! // Por onde é que o soldado balbucia / O nome Pátria, que enche os corações? /Onde é que nasce o Amor? Onde a Poesia? / Onde a mais santa das aspirações? //Na Escola irrompe, em solidário afeto, / O altruístico e elevado sentimento, /Graça ao fogo da paixão repleto, // Das lavas do vulcão do entendimento: //- “É que há mais luz nas letras do alfabeto // Que nas constelações do firmamento”.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta, cronista, contista, romancista e crítico de literatura e de artes, reside em Teresina, Capital do Piauí. End. eletônico: franciscomigueldemoura@gmail.com

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