As
palavras de ordem podem transformar-se em imensa bactéria social,
dependendo do contexto, especialmente essas mais agressivas como
“abaixo o presidente”, “abaixo a revolução”, “morte à
burguesia”, “é proibido proibir” e “Brasil, ame-o ou
deixe”.
Há outras que, como exceção,
tornaram-se parte da sociedade como um todo, tais como “ordem e
progresso” e “quem for brasileiro me siga”, inscrevendo-se na
nossa história. Entranharam-se no inconsciente coletivo ao correr do
tempo, sem contestação.
As palavras de ordem que
emburrecem a consciência individual normalmente são fabricadas por
partidos políticos, sindicatos, fações sociais segregadas, falsos
líderes que são dotados de palavras bonitas, mas vazias de
conteúdo, com intenções do poder em determinados campos ou em toda
uma nação, região ou todos, como os ditadores.
Até mesmo aquelas que hoje
fazem parte da nossa história como “independência ou morte”,
trazem um germe de agressividade, mas sem intenções tão malignas
quanto possam parecer. Algumas têm o poder da metáfora:
“independência ou morte” significa a morte da pátria como
entidade política que já existe, em vista de leis de outros países,
sejam colonizadores ou não. A morte significaria muito, para
muitos, mas não exatamente a sangria, a guerra intestina ou civil.
As passeatas, os movimentos
de rua têm levado milhares e milhares de pessoas a protestarem ao
fazem moção de apoio a algum acontecimento, fato ou pessoa,
normalmente levando os jovens a abraçarem essas “ideias” ou
“sentimentos” coletivos prefabricados. Na maioria são criações
interesseiras de grupos que não querem deixar de aninhar-se no poder
ou a ele querem subir, mas sem nenhum programa. Os programas que
acomodam as palavras de ordem são mentirosos, fofos e falsos. Ou
jamais trarão consequências permanentes e serão capazes de
formar um verdadeiro cidadão, aquele que entende perfeitamente os
direitos humanos, sabendo que cada direito exige um dever.
Lembro de uma frase de ordem
do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958) assim
expressa: “morrer sim, matar nunca”, quando desbrava as matas de
dentro (Amazonas, Acre e Mato Grosso), traçando os limites do país
e pacificando os índios, para depois trazê-los à civilização. Um
conteúdo humanitário.
Mas, como se vê, há
palavras de ordem para todo movimento coletivo sem conteúdo
humanitário. Escritas nos muros e nas casas chamadas da “burguesia”
como sinônimo dos ricos, pregando que o mundo pode ser igual
economicamente para todos. Como? Se as pessoas são todas desiguais?
Palavras de ordem religiosas. As religiões, quase sempre, são
criadoras de mitos, como a imprensa (a grande mídia), como os
artistas que não conseguem satisfazer seus instintos senão ferindo,
matando, e se matando na droga e nas festas sem fim.
Já
que falamos de palavras de ordem, alinhamos mais outras: “o povo
acordou” (povo é uma palavra amorfa, como classe, como
partido).“Vem contra o aumento” “vem pelo reajuste”… “Vem
pra rua…” “Que coincidência, não tem polícia, não tem
violência”. Ai que mentira boa, tão bom se fosse verdade,
afirmaria a respeito desta última. Há países, se não me engano a
Suécia e outros escandinavos. São assim. Dignos de elogios por
causa da democracia e da paz, do mínimo de violência.
Acontecem algumas saudáveis
como “saia do sofá, venha protestar sem vandalismo”, “olha que
legal, o Brasil parou e nem é Carnaval”. E mais e mais: “Fora
Sarney”, fora todos os políticos corruptos. Mas o que quer dizer
corruptos? Muitos e muitos dos que participam, jovens estudantes ou
não, não sabem, não entendem, são ignorantes. São milhares e
milhares. A contagem da Polícia: mais de 250.000 participaram da
manifestação numa noite em São Paulo, daqueles que acontecem no
Rio, em Belo Horizonte, em todas as capitais do Brasil, inclusive nas
grandes cidades do interior. Às vezes há manifestações a favor e
contra. Todas com palavras de ordem. É o bem contra o mal ou
vice-versa?
De
cá, dizem os políticos: “É a voz das ruas”. Sim, mas nem
tanto. E os que não vão a manifestações? Cabe lembrar sempre as
palavras de Rui Barbosa de Oliveira (1849-1923): “Na
terra onde os meninos bancam de doutores, os doutores não passarão
de meninos”.
Mas
não é o único pensamento que queremos apresentar como final de
nossa peroração. É do filósofo Olavo de Carvalho, tido como
defensor da direita, conservador. Ainda existem esquerda x direita, a
não ser nos quarteis, quando os recrutas fazem marcha? Quem
efetivamente é conservador ou liberal? E a palavra revolucionário
como é que se situaria?
O
jornalista, escritor e filósofo Olavo de Carvalho publicou um livro
muito instigante, de nome “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, Editora
Record , Rio, 2016, já em 20a.
Edição, onde começa assim:
“Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Não dei crédito a esta patacoada nem mesmo quando jovem, eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebano, o temor do isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentir-se iguais e aceitos pela maioria cínica e autoritária, à disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas”.
“Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Não dei crédito a esta patacoada nem mesmo quando jovem, eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebano, o temor do isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentir-se iguais e aceitos pela maioria cínica e autoritária, à disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas”.
Se
alguém quiser contestar, que o faça. Eu prefiro pensar.
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