segunda-feira, 14 de março de 2016

PORQUE NÃO ME ORGULHO DO MEU PAÍS

Chico Miguel*                     

        Poderemos ser, um dia, um “grande povo” como nos apelidou o Imperador D. Pedro II - num rasgo do amor à pátria e da qual foi expulso pelo grupo de militares que proclamou a República? Olhem, leitores, como começamos muito mal: com um golpe de estado.
         Poderemos dizer que “nosso povo é muito bom”, quando:
       1 – Observarmos os bons costumes: não furtar, não roubar, não mentir, não enganar, não ferir (mesmo com palavras) nem matar ninguém.
       2 – Quando, no trânsito, nas estradas e nas ruas, sejamos amáveis, cordiais, delicados, respeitando a integridade do ser humano, a vida e a liberdade de ir ou vir pelos caminhos da lei.
        3 - Quando ajudarmos o pobre, o necessitado, o menos possuído, os deficientes, os idosos, sem esperar nenhuma recompensa (nem “muito obrigado” – nem, imaginem, trocar esmolas e favores por voto).
      4 - Quando participarmos da escola dos nossos filhos, ensinando-lhes que aprendam o que é bom: natureza, ciência, justiça, obediência aos professores e colegas dos seus colegas, com respeito, sem nem pensar o que é “bulling”, imagine fazê-lo.
        5 – Quando nos convencermos de que a melhor maneira para o respeito à pessoa humana mais pobre é “não dar o peixe, mas ensinar a pescar”.
        6 - Quando soubermos manifestar nossas opiniões sem ferir a honra de ninguém, inclusive pela imprensa – mas criticarmos veementemente o mal que aconteça a um ou a muitos, na sociedade.
        7 - Quando estivermos convencidos de que somente o trabalho produz; a natureza também produz, mas é necessário o trabalho do homem para o seu aproveitamento racional e a preservação do meio-ambiente.
        8 – Quando soubermos amar a natureza e respeitá-la, pois que é obra de Deus, como também nós somos.
        9 – Quando soubemos que a religião é uma tendência da alma, cada um pode seguir a sua e saibamos escolher aquelas que não ferem nenhum dos princípios humanitários e civilizados.
        10 – Quando nos conscientizarmos de que toda “ideologia” é interessada em convencer os incautos, mostrando-lhes apenas um pedaço da verdade, o qual possa usá-lo para o bem ou para o mal: ela seda e cega, e vale-se do seu conteúdo para ferir os princípios consagrados pela sabedoria dos antepassados, desde os chineses até os hebreus, e por estes, até nós.
         Há mais, muito mais para completar o elenco das principais maneiras de agir e das coisas que devemos fazer e saber fazê-las. Noutros momentos iremos referir a muitos deles de forma bem clara e com paciência sempre.
         É claro que o país assim desejado é quase impossível. Mas, se pelo menos a grande maioria da população brasileira fosse assim, viveríamos num mundo melhor. Garanto-lhes que não teríamos guerras, não teríamos tantos presídios, tantos hospitais – instituições que às vezes não funcionam a contento ou não funcionam mesmo. Teríamos muitos lugares de lazer (salas de música, de cinema, de dança e de espetáculos divertidos), muitas e boas escolas e universidades (e assim seria eliminado o ENEM e &, isto é outras entidades desnecessárias, cuja finalidade é massacrar a juventude).
Não haveria falta de emprego, todos estariam trabalhando nos seus lugares por mérito – nunca por pobreza, cor ou outra qualquer forma de discriminação, pois esta não existiria na consciência e na prática da cada um.
         Todos os que trabalhassem, na iniciativa privada ou não, teriam seus direitos de aposentadoria, saúde, escolas, etc. resguardados - pois não haverá país feliz sem produção de riqueza e de ciência – o agente pode ser de propriedade privada ou pública, na medida democrática.
Todos, sendo iguais perante as leis e desiguais perante a natureza e os desígnios de Deus, como somos, poderiam viver numa democracia onde os direitos e os deveres correspondentes imperassem, não apenas por direito natural, mas pela defesa de todos os cidadãos ameaçados – o que muito raramente poderia acontecer.
         Por isto, num país assim não haveria necessidade de muitos advogados (pois haveria poucas leis), juizes, polícia, exército... Pois todos seriam soldados da pátria, todos seriam fiscais da lei e dos costumes.
         Haveria, num país assim, muito mais médicos, mais cientistas, mais professores, mais cientistas, mais harmonia, inclusive das famílias (esposo/esposa, filhos e aderentes).
Num país assim, existiria mais saúde, porque a tranqüilidade reinava. Haveria mais tempo para leitura silenciosa, para a poesia, para a música seletiva, para as festas caseiras, para os passeios pela natureza, etc.
         Este país anda longe de ser o nosso Brasil. Pesa-me dizer, mas não somos um país civilizado. Basta uma pequena observação: num país civilizado não se veria lixo espalhado pelas ruas, becos e calçadas, até no meio das praças, shoppings e salas de recepção de aeroportos. Já não falo nos jardins e quintais das próprias residências.
         É claro que este país não é o Brasil. E pode existir um país assim, como há no primeiro mundo. Mas o Brasil sempre está “mostrando sua cara suja ao mundo”. E não tem vergonha disto. No setor política e administração pública, para que escândalos maiores do que está acontecendo com a “Operação Lava Jato”? Pra que coisa mais suja do que o “Mensalão”, aquela agora vigente e este visto há pouco tempo, ainda no começo deste governo de tantos partidos e tão mal continuado? Quem pode orgulhar-se de um país como este?
                                   
                          (Artigo publicado no jornal "O Dia", 12-03-2016)
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  * Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras

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