domingo, 16 de agosto de 2015

CHEIROS DE TERESINA - Crônica inédita


Pelos 163 anos de nossa Verde Capital
Francisco Miguel de Moura*


           Parabéns!
           Teresina, menina, cajuína.
       Teresina com rima ou sem rima, é uma riqueza sem par.
       
         Seu perfume desperta a mente para o amor, para os amores. Seja de rosa, cravo, jasmim ou de manjericão, seja de mato agreste, seja de planta plantada nos jardins e ruas da cidade.   Mesmo os piores cheiros nos levam a pensar em algo que conhecemos, em acontecimentos que nos passaram, em músicas que foram ouvidas, em lugares que foram gravados na memória.
        Sinto os cheiros de minha cidade: mato verde na época chuvosa e até na primavera quando os pau-d’arcos “fuloram” em roxo e amarelo. Não há visão melhor do que essa, nem cheiro mais agradável do que o cheiro dos ventos gerais de junho e julho, estendendo-se até agosto, especialmente quando se sobe o rio Parnaíba de canoa ou o atravessa para Timon. Mas também quando deitamos na varanda de nossas casas, diante dos quintais e jardins. Ainda existem jardins e quintais verdes nesta Cidade Verde. É o milagre do amor de seus filhos.
         Como nos tempos das rodas da Praça Pedro II, com saudade sinto o cheiro das meninas, moçoilas, das moças, enfim das mulheres passeando no Teresina Shopping e no “Riverside”, com os mais variados risos. E me abebero da poesia do hoje, esqueço as tristezas e contrariedades do ontem, e começo a sentir-me feliz por viver. Porque perfumes de mulher, seja namorada ou amiga, conhecida ou desconhecida, se confundem com os de Teresina. Teresina foi menina, hoje mulher. E como passaram os anos, sua feição como cidade transforma-se em metrópole, com suas virtudes e seus defeitos. Restam ainda uns restos do centro, da Frei Serafim e de uns poucos bairros como a Piçarra e a Vermelha.
        Mesmo assim desfigurada, gosto de você, onde tenho morada desde 1964. Mas, conhecia de antes. Do tempo do seu centenário, quando cantei em versos. E de antes ainda, de passeio e de viagens a serviço. Ai, Teresina, do tempo em que se podia sentar na calçada até meia-noite, jogar conversa fora com os vizinhos e visitas, pegando os ventinhos das 9 horas da noite, que correm da serra e do mar distante!  Ventos que Fontes Ibiapina apelidava de o “parnaibano”. Como era bom, até bem pouco tempo, tomar sorvete na Avenida ou na Praça Pedro II, depois de assistir ao filme do Cine Royal ou uma peça no Teatro 4 de Setembro. Gosto de Teresina como quem gosta de sorvete de goiaba, abóbora, bacuri, caju e manga, de todas as frutas que nos enfeitam, nutrem e engordam, enfim. Gosto da cajuína, hoje registrada como bebida genuinamente do Piauí. Gosto de Caetano Veloso porque fez aquela canção que ficou famosa no mundo inteiro, oferecida a Torquato Neto, o poeta desta cidade, pois  nasceu e viveu aqui menino e parte da juventude, por isto cantou-a, cantou-a e se encantou.
          São tantos os cheiros que trescalam e nos enchem as narinas e os ouvidos que ficamos tontos.  Assim, podemos beijar e abraçar, os nossos e os que chegam. Aqui não há ninguém de fora, todos os que ficam são nossos. Vejam o poeta Hardi Filho, que veio do Ceará, hoje um dos piauienses mais legítimos; o cronista Deusdeth Nunes (Garrincha), cearense que certo dia teve a tentação de voltar para Fortaleza: arrependeu-se; logo estava de volta pra nossa santa Teresina. Há muitos cearenses que ficam aqui por adoção.  São os feitiços que somente as mulheres têm. Toda mulher tem seus feitiços. Teresina tem seus mistérios, seus encantos. Quem a conhece bem? Não posso dizer que a conheço, posso afirmar, sim, que me perdi um dia no Parque Piauí e, para me localizar e encontrar o que estava procurando, tive que me valer do celular e pedir a minha secretária o endereço e o telefone da pessoa. Teresina é grande demais. E é certo que aqui faz calor, especialmente nos b-r-o = bró. Mas, quando alguém se queixa do clima, costumo dizer:
       – Vocês já imaginaram como seria uma Teresina menos quente?    Estaria cheia de paulistas e cariocas, amazonenses e goianos, mineiros e gaúchos, trazendo outros cheiros.
         Prefiro mil vezes os perfumes já conhecidos: não terei o trabalho de ficar buscando que tipo e que flor está me trazendo o ar.
       - Vem de onde?
        - Não vem, é daqui mesmo. É nosso! – Talvez tenha essa resposta.
       -  Bairrista?
       - Bairrista, não! Dobre a língua! Sou cidadão teresinense porque quis. E continuo querendo, vivendo  amando a cidade de Saraiva, minha e sua, caro. Portanto, nesta aniversário estamos também de parabéns.
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*Francisco Miguel de Moura, brasileiro, picoense de Jenipapeiro (hoje Francisco Santos - PI), prosador e poeta, há 51 anos teresinense adotivo, oferece esta crônica-poesia saída do fundo do coração.

Um comentário:

regina ragazzi disse...

Parabéns para Teresina e Parabéns para você com essa linda homenagem à ela!! Abraço!!!

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