quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O QUE SÃO PRECONCEITOS E DISCRIMINAÇÃO?

FRANCISCO MIGUEL DE MOURA*
                        
      Todos nós sabemos o quesão  “preconceito” e o que é a discriminação. Esta é a parte melhor. A segunda é a pior: É que todos nós temos um, mais de um,    ou muitos preconceitos contra alguma cousa ou alguém. E esta última parte é a mais grave, porque, em nossa Constituição, está escrito no art. 3°, item IV, como sendo o um dos seus objetivos fundamentais: “promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, e quaisquer outras formas de discriminação”.  

         Minha argumentação aponta o fato de que, se não houvesse preconceitos, em nossa sociedade (como nas demais), não haveria necessidade da lei.  Claro que ela existe, temos preconceitos porque somos humanos, dotados da faculdade de pensar. Pensar é bom, mas nem sempre pensar por pensar nos humaniza. Devemos pensar com o propósito de justiça e amor, virtudes que parecem contrárias, e não são. Uma leva à outra. Essas virtudes se aprendem em casa, vendo as ações retas de seus pais. O que se aprende na escola é muito menos do que isto, embora seja muito bom, desde que a escola seja excelente. Começa a aprender-se a viver em sociedade, em conjunto, uns suportando os outros, quebrando quinas do individualismo que todos os homens carregam consigo. Aqui me parece que uma pergunta está querendo espirrar: - E por que as crianças não têm preconceito? Poderia responder que é porque elas ainda vivem no mundo do sonho, das fantasias, não percebendo a realidade nua e crua das diferenças, sejam pequenas ou grandes. Para elas a terra é azul e plana, aberta como o horizonte e os céus.

          Mas vamos ao dicionário, o famoso “pai dos burros”, palavra que traduz uma infeliz discriminação contra aqueles que têm menos conhecimentos, menos capacidade intelectual. Busquemos a palavra “preconceito”, pois “discriminação” é, segundo pensamos, quando o preconceito já desceu à prática de alguma ação correspondente. O “Mini-Aurélio”, 7ª ed., muito usado nos colégios do curso fundamental e médio, diz: “1. Idéia preconcebida. 2. Suspeita, intolerância, aversão a outras raças, credos, religiões, etc.”.

         Como vimos, os preconceitos não se restringem apenas às pessoas de cor negra e aos pobres e miseráveis: estendem-se também aos amarelos: estendem-se também aos feios, aos defeituosos, aos velhos, e por aí vai. Por isto, sabiamente, nossa Constituição, depois de declarar os mais discriminados nominalmente (raças, cor, idade e sexo), acrescenta: “e quaisquer outras formas de discriminação”.
Como evitá-las? Somente através da lei? Seria um mundo de leis atos jurídicos para encharcarem mais o volume dos códigos que já possuímos. O Brasil, se não é o país que mais possui leis, seguramente é dos que mais as possui. As nações latino-americanas são pródigas em leis, sem prestaram atenção a que a lei sozinha não modifica a sociedade. É necessário lidar com a educação, só a educação educa (parece tolice dizer isto, mas, no caso brasileiro, não). Acreditar que um lei ou decreto obriga a pensar diferente é tão enganoso quanto pensar que se pode distribuir sem produzir. Quem produz educação é a escola, é a elevação do conhecimento e da sabedoria, a começar da educação doméstica.  E aqui se fazem leis até contra a palmadinha. Aqui uma sugestão, que pode parecer tola: Talvez fosse melhor que se fizesse uma lei que obrigasse os pais a freqüentarem escolas para os pais, assim como os motoristas do trânsito estudam essas leis e prestam conta delas. Embora muitos ainda as descumpram. Foi a educação doméstica que lhes faltou, a verdadeira, a essencial. Também não é pra menos, porque a moral social está destroçada na base – a família, a gênese. Ela embarcou numa tal de revolução sexual e noutras para as quais a “mídia” lhes empurra. Assim foi gerado um pandemônio de ligações e desligações entre pais, mães, filhos, etc. Pode parecer preconceito falar sobre isto e não favoravelmente tal como anda a carruagem. Não importa que se casem nesta, naquela ou naquela outra religião ou apenas no juiz, também não importa a nomenclatura. O que importa é o essencial – a promiscuidade - que começa muito cedo, nas escolas e universidades, praticada pelos moços e mocinhas e continuada na vida adulta. A promiscuidade é uma decadência, uma coisa tribal, primitiva. Aí não há preconceito de cor, nem de nada. Enquanto a natureza faz sua parte criando o HIV, a ciência tenta vacinas que nunca deu certo. De qualquer forma a pessoa foi destroçada. Que será da família?

         Votando ao tema inicial, vejo a separação entre brancos e negros que começa a processar-se por causa das leis restritivas ao acesso à universidade pelo critério do mérito. É como se quisessem tirar um atraso de 400 anos dentro de uma ou duas décadas, para chegar a uma igualdade ilusória – visto que todas as criaturas são desiguais. É querer frear a naturalidade da lei que se processa na miscigenação de brancos e pretos, sem nenhum problema, desde a era da escravidão até agora. Os brancos de hoje não têm culpa do que os passados fizeram. Edita-se, assim, a fábula de de La Fontaine, “O lobo e o cordeiro”. Todos já sabem, não vou repeti-la. Apenas encerro dizendo que os antigos não sabiam tudo, mas sabiam quase tudo. Sabiam, portanto, que a razão é sempre do mais forte, nas sociedades primitivas. Mas estamos lutando para que a nossa não volte à estaca zero.

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*Francisco Miguel de Moura – Escritor, Membro da Academia Piauiense de Letras, da UBE-São Paulo e da Associação Internacional de Escritores e Artistas - Toledo (USA).   

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