quarta-feira, 5 de novembro de 2014

BRASIL, DESORDEM E REGRESSO: CORRUPÇÃO

*Francisco Miguel de Moura
                Escritor


        Nenhum ser humano viveu sem sentir solidão, sem procurar a solidão em algum momento de sua vida, seja num canto afastado de sua casa, num beco imundo de rua, numa cela, ou em liberdade como um cidadão. É a nossa irresistível individualidade que nos chama, pois ninguém é completo nem livre como queria o escritor Jean Paul Sartre, criador do existencialismo. Conforme teoria recente, do médico e psiquiatra Augusto Cury, também precisamos da conversa com os outros, do “burburinho da cidade”. Por isto o mundo hoje é essencialmente citadino, ao contrário do passado onde a solidão era mais degustada. Pensando mais um pouco, os que gozaram das maravilhas de ser “matuto”, viveram em contato com a natureza, acham ter vivido um “paraíso perdido”. Vivemos juntos e sós, participamos da sociedade para mostrar quem somos, é a necessidade urgente da nossa solidão, ouvindo a dos outros. Mas ninguém vive a solidão alheia, a doença, a dor, a fome e o desamparo.  É uma metáfora, ou metonímia o que dizem as teorias literárias de que os poetas sentem a dor do outro. O poeta Fernando Pessoa, no seu pensamento e palavreado, nos enfiou esta fantasia: “O poeta é um fingidor / finge tão completamente / que chega a fingir que é dor / a dor que deveras sente”.

       Mudando da poesia para a prosa, disse o escritor Augusto Cury, já mencionado: “Um profissional de saúde mental deve saber que jamais tocará ou sentirá minimamente a dor do pânico ou da depressão de um paciente”. Nosso pensamento é um comunicador virtual. E é neste sentido que sou incrédulo da comunicabilidade. Cada homem fala para si, vive para si e mais ninguém. O amor é a única coisa que aproxima as pessoas, mas, até o amor é interesseiro. Vivemos de troca. O comércio é troca. A esmola é troca. O favor é troca. O pensamento é troca para o encontro do social. Todos querem contar a sua história.  É por isto que todos somos sujeitos da história, fazendo a nossa própria história. Quem não tem história não é nada. Até os moradores de rua, quando não completamente alienados, contam a sua história, tem necessidade de contar quem foi na vida, o que fez, o que deixou de fazer, o que pretende...“Precisamos nos mostrar porque é assim que legitimamos nossa presença no mundo”, escreveu o cronista Gilmar Marcílio, que também é psiquiatra e psicólogo, em seu livro “O mundo é o que é”. Tudo o que fazemos é para nos mostrar, somos individualistas, egoístas, carentes, somos pobres e ricos, pretos e brancos, feios e bonitos. Mas, sobretudo, somos um complexo de corpo e alma. Somos cheios de problemas. E se alguém diz “eu não tenho problema” – na verdade, este é um grande problema. 

        Depois de falar no individualismo precisamos atravessar um rio desconhecido e chegar ao outro lado da questão: a sociabilidade. Por mais que nos mostremos solidários, caridosos, por mais que mostremos os “nossos bons propósitos”, aflora lá dentro o desejo de ser indivíduo. Ser bom individualmente é uma coisa, ser bom através do estado, do dinheiro dos outros, de uma instituição, é outra muito diferente. Qual o interesse maior que o move? Lembro de uma brincadeira de quando eu era menino. Andávamos normalmente em par, um fazendo companhia ao outro. No “jogo de castanha”, o mais sabido (não o mais sábio, sábio é santo, é exceção), depois de ter ganhado todas as castanhas, diz ao perdedor: “Olhe aqui, não fique triste não, nós vamos continuar o jogo, vou dividir o que ganhei entre nós dois”. E partiu para a divisão, assim: “Duas pra mim, duas pra você, duas pra mim”, e recomeçava: “duas pra mim, duas pra você, duas pra mim” até terminar. Era o mesmo que dizer: “Quem parte e reparte fica com a melhor parte”. Assim são os políticos, os líderes, os promotores ou donos das associações de caridade, etc. 
        A sociedade é exímia criadora de ilusões (as utopias): o estado, a democracia, o socialismo, o capitalismo, o comunismo. As mais cruéis são as tiranias, as ditaduras, quer de direita, quer de esquerda, quer socializantes, quer não socializantes. O próprio filósofo de “O capital” e criador do “Materialismo histórico”, base para a utopia do socialismo científico (comunismo), o filósofo Karl Marx, não acreditava em nenhum estado e dizia que, naquela época e naquele país (Rússia), era necessário o poder despótico (a ditadura), mas isto seria apenas por “um momento” salvador. Sua aspiração era a autogestão, e consistia em que cada pessoa gerisse a si mesmo e os bens que lhes fossem necessários. Não pensou que, assim, voltaríamos uma sociedade primitiva. Ele não acreditava nos discursos dos ditadores nem dos democratas. Achava que eles pregavam “boas intenções”, mas escreveu que “o caminho do inferno está todo pavimentado de boas intenções”.

      Após tantas revoluções, cruentas ou não, sobraram as utopias e aquele burburinho das cidades que nos fez cidadãos com deveres e direitos para com o estado e suas instituições. E ele, através da publicidade barata, comprada, corrompida, nos envolve, nos torna neuróticos, ocupa o nosso cérebro com ideologias interessadas em enterrar nosso “eu”, aquele sujeito que deve comandar nosso pensamento e promover nossa história verdadeiramente. Mas o ‘eu” foi substituído pelas mentiras dos chefes, pela falta de caráter deles, que ouvem o que lhes interessam, deixando o povo, cidadãos e cidadãs, à mercê de qualquer aventureiro e falso condutor. Só há um internacionalismo: É o do capital. E os países, como seus costumes, são castigados. Por isto há tantos Napoleão, Hitler, Mussolini, Getúlio, Chavez, Fidel, Morales entre outros vivos e mortos.

           Só Jesus Cristo nos salvará deles.

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*Francisco Miguel de Moura – Escritor e membro da Academia Piauiense de Letras,sócio da IWA - International  Writers and Artists International - Estados Unidos.

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