sábado, 21 de junho de 2014

TROVAS PARA REFLETIR

Francisco Miguel de Moura*

“Quem vive só do futuro / e esquece a vida que passa, / descobre claro no escuro / que fez projetos de graça”. Começo com esta trova de uma grande trovadora que o leitor vai logo saber quem é, pelo menos um pouco. Foi-me uma grande surpresa receber o livro da trovadora Maria Thereza Cavalheiro, de São Paulo, que tem o título deste artigo “TROVAS PARA REFLETIR”.
Primeiramente, porque não sou considerado trovador e depois porque não conhecíamos por outra forma. Vamos refletir sobre a palavra TROVA. O que é uma trova? O que é um trovador? No Brasil há grandes poetas que foram também trovadores e trovadores que são poetas: Aldemar Tavares, Félix Aires, Rodolfo Cavalcanti, Vasques Filho, Cecília Meireles, Olavo Bilac e tantos outros. Mas acostumou-se a chamar de trovador àquele que apenas faz trova. E o faz assim porque quer. Tem capacidade de fazer outros tipos de poema, mas se realiza mesmo é nos quatro “setessílabos”, com rimas entrecruzadas, quase sempre encerrando um pensamento, quando não também um sentimento. Creio que, a meu critério, já expliquei o que é uma trova. Agora, passemos a palavra à trovadora Maria Thereza Cavalheiro, pois seu livro mencionado traz também um verdadeiro tratado sobre o gênero poético, após mostrar suas belíssimas quadras, quadrinhas e cantigas (outros nomes mais modernos da trova): 

“Fazer trovas não é difícil. Do ponto de vista formal, esta é a mais simples das composições metrificadas. Basta saber contar as sílabas poéticas e ter inspiração e certo talento. Mas é difícil um grande trovador, ou trovista, nascer feito. Ele se aprimora com o exercício, com o estudo de obras conceituadas, com o aumento do vocabulário e – o que é muito importante - com o perfeito domínio da língua. (...) A trova deve ser a expressão da alma do povo, em linguagem simples, concisa e sonora. Simplicidade, porém, não é vulgaridade. A trova é o fácil/difícil, porque tudo que é muito fácil tende a cair no banal, no lugar comum. Então o difícil/fácil é criar algo novo dentro da simplicidade que deve caracterizar a trova”. 

Mas fiquemos por aqui, pois quando a citação é muito longa, o leitor murmurará: - Este cara não sabe escrever, se soubesse escreveria o que sabe e não ficava copiando os outros. É verdade, a citação é apenas um chamamento para a obra. É o que fiz agora, querendo dizer que quem quiser saber mais procure o livro de Maria Thereza Cavalheiro, “TROVAS PARA REFLETIR”, Edição da Autora, São Paulo, 2009, e saberá tudo ou quase tudo, além de poder saborear 180 trovas das melhores que já se fez neste país. Ela é uma “expert” na trova, com certeza, mas não só na trova: mas na análise literária da espécie, visto que é também crítica literária e uma extraordinária professora. Sua leitura me agradou muito. Não sou trovador, mas já fui premiado num concurso, em São Paulo, por umas trovas que escrevi sobre o Sesquicentenário do Brasil, as quais perdi – e nós sabemos que a recuperação é muito difícil, talvez impossível, se não foram publicadas. Daí porque os livros são importantes, os jornais são importantes para fixar o que os poetas escrevem e deixam para a posteridade.  E por falar em jornais, quero agradecer, também, à senhora trovadora Dª Maria Thereza Cavalheiro, o envio do simpático “JORNAL RADAR”, da cidade de Apucarana-PR, edição de outubro de 2013, onde a autora mantém uma coluna de divulgação poética e divulga não somente as suas produções, mas também a de muitos/as companheiros/as da arte.

 Em carta que me mandou, Maria Thereza Cavalheiro confessa ter 85 anos, sem nenhuma reclamação do tipo que fazem os idosos (lá vai o eufemismo que a modernidade inventou para não venerar a velhice). Portanto, conclui-se que é uma pessoa saudável e feliz, generosa e cavalheira até no nome. E aqui me dá uma vontade danada de citar pelo menos um trechinho da amável cartinha datada de 1º de junho de 2014, onde me agradece o livro de“50 poemas escolhidos pelo autor”, enviado por mim – “que li devagar como quem aprecia os licores. É um livro muito original. Diz as coisas como ninguém as disse antes. Mescla filosofia e lirismo numa linguagem diferente. E também sabe ser simples quando trova o tempo”.

 Mas eu quero mesmo é repetir, pela pena do escritor Péricles Eugênio da Silva Ramos, presidente da Academia Paulista de Letras, o que disse sobre a autora de “TROVAS PARA REFLETIR”, antes de ser publicado o livro: “Na arte difícil da quadrinha, Maria Thereza Cavalheiro atingiu o magistério. Onde é preciso ter sensibilidade, aguda percepção das relações entre as coisas e o espírito de síntese, ela assenhoreia tudo isso. Lê-la é aspirar o perfume de um fruto”.

De modo geral, nós brasileiros não gostamos de refletir. A leitura de trovas é uma boa oportunidade para pensar mais um pouco do que pensamos. Em primeiro lugar, não cansa por ser uma das mais curtas e simples formas de poesia, na língua e na literatura portuguesa; depois, é fácil de decorar e fácil de ser interpretada; e a tudo isto, junte-se o lirismo - a música de entrada para que o pensamento se abra lentamente para a vida e os seus percalços, para o amor e os seus enleios, para a sociedade e os seus contrastes. 

Finalmente, seria justo fechar este artigo-crônica sobre a trova como começamos: - com uma trova de Maria Tereza Cavalheiro. E a escolhida foi esta: “Há sempre o dedo de Deus / na flor, no inseto que voa... / No bem que chega, no adeus, / no gesto de quem perdoa”.

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Nota: A foto da Autora foi "roubada", seu próprio blog, na internete.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, nascido no Piauí, reside em Teresina, bela Capital do seu Estado, tão esquecido quando é para receber aquilo que lhe é devido pelo Governo Federal, no entanto lembrado quando é cobrar impostos até o último ceitil dos seus cidadãos e fazerem piadas e deboches. 

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