Francisco Miguel de Moura*, escritor,
membro da Academia Piauiense de Letras
Grande
é o dia e grande é o nome do romance de Jailson Klein, nascido em Santo Antônio de
Lisboa (PI) e residente há um bocado de anos na grande cidade São Paulo, onde se
formou em Letras e Literatura, já levando consigo outros estudos de quando
residiu em Salvador-BA. “Salomão Grande” é grande até no número de personagens
porque tem como fulcro uma família de dez irmãos, sendo ele próprio o
ais novo, pois o autor lida com todos eles no seu relato. Jailson, terceira geração da linhagem miguelina (referindo-se a meu pai e seu avô, Miguel Borges de Moura), leva consigo as lembranças de menino e adolescente e ali as expõe em ficção. Doravante, Jailson será reconhecido como uma das grandes vozes do romance, neste Brasil, não apenas de sua região, pela força do seguro e singular estilo, letra de quem leu grandes autores como Machado de Assis, Guimarães Rosa e Jorge Amado, por exemplo, e pela grande capacidade narrativa, fecundada por pontos históricos, pois outro grande esteio do romance é a festa da elevação do povoado Rodeador a cidade, saindo de sua submissão a Picos, graças à força de Isaac Batista de Carvalho e Justino Batista de Carvalho – dois vereadores que fizeram assento na Câmara Municipal de Picos, além de outros ilustres moradores do povoado. A data é importantíssima para o personagem Saló, Salomão Grande, assim como o desejo de morar na cidade, que o pai não aceita nem ao menos comenta. Falei em Guimarães Rosa, por causa do estilo singular de Grande Serão: Veredas, não que Jailson o imite ou imite qualquer outro escritor. Seu material é virgem e a escrita, o estilo, também.
ais novo, pois o autor lida com todos eles no seu relato. Jailson, terceira geração da linhagem miguelina (referindo-se a meu pai e seu avô, Miguel Borges de Moura), leva consigo as lembranças de menino e adolescente e ali as expõe em ficção. Doravante, Jailson será reconhecido como uma das grandes vozes do romance, neste Brasil, não apenas de sua região, pela força do seguro e singular estilo, letra de quem leu grandes autores como Machado de Assis, Guimarães Rosa e Jorge Amado, por exemplo, e pela grande capacidade narrativa, fecundada por pontos históricos, pois outro grande esteio do romance é a festa da elevação do povoado Rodeador a cidade, saindo de sua submissão a Picos, graças à força de Isaac Batista de Carvalho e Justino Batista de Carvalho – dois vereadores que fizeram assento na Câmara Municipal de Picos, além de outros ilustres moradores do povoado. A data é importantíssima para o personagem Saló, Salomão Grande, assim como o desejo de morar na cidade, que o pai não aceita nem ao menos comenta. Falei em Guimarães Rosa, por causa do estilo singular de Grande Serão: Veredas, não que Jailson o imite ou imite qualquer outro escritor. Seu material é virgem e a escrita, o estilo, também.
“Salomão Grande” é um livro verdadeiro,
conquanto seja ficção. Aliás, um romancista inglês moderno, o escritor Ian
McEwan, que publicou livros interessantes, verdadeiros best-sellers como “Inocente” e “Serena”, da linha policial e de espionagem, declara que: - “Todos os romances são de espionagem, pois
os romances investigam o que deixamos em segredo, o que resguardamos na
intimidade. Em qualquer relacionamento há coisas que escondemos, que não
dizemos diretamente. Estamos todos envolvidos no controle da informação”. E
é verdade, pois só na ficção conseguimos dizer nossas verdades secretas e
outras verdades das nossas ações no tempo e do espaço.
Localizar seu livro de ficção fundo
na terra foi um golpe de mestre nesses críticos meia-tigela, que descarregam
todo o seu veneno apelidando os escritores dessa região de regionalistas, pois que
eles só querem saber do endereço ou dos endereços do autor, e nada do que dizem
as suas falas, na maioria das vezes profundas, com uma simplicidade incrível
como o faz Jailson Klein. E ser simples não fácil, num país de bacharéis como o
nosso. E ser simples é experimentar a sabedoria da linguagem poética, saborosa
e viva – encontro da comunidade com o próprio autor. Não lembro bem qual foi o
autor, se o grande Leon Tolstói que disse que “se queres ser grande, comece em sua aldeia”, cujo pensamento aqui
cito de memória.
Os aspectos principais da construção
de um bom romance são o tempo, os
personagens e os acontecimentos (a história, o relato). O tempo não existe, é uma criação do
romancista, no jogo de xadrez de colocação e movimentação dos personagens. De
forma que não se admite mais, na modernidade, um romance direto, com começo,
meio e fim, sem os distanciamentos estéticos de forma e linguagem, como flash-back e tantas figuras e manobras
que alinham e desalinham os tempos
históricos e psicológicos. O
romance é escrito para leitores vivos e inteligentes. De forma alguma não é um
sedativo para dormir.
Por essas e outras razões é que a ficção não exige
apenas a compreensão. A ela juntem-se a emoção, o prazer (ou a raiva) e outros
sentimentos. Enfim, tudo o que possa ajudar na fruição da obra de arte e na
leitura do mundo, pelo leitor – ele também que, a seu modo, se encontrará ali.
Depois da leitura de um bom romance não há quem permaneça o mesmo. No romance
de Jailson os personagens são muitos como já disse no início: - irmãos, primos,
tios, vizinhos, namoradas, meninos de brincadeira, trabalhadores, o pai, a mãe
e aqueles meio-personagens que chamarei de “símbolos” da terra, como Isaac Batista,
Arlindo Cipriano (que nós conhecemos como Arlindo Supriano), Paschoal Silva, João
Cirilo, Quinel, Candinho de Mariano, Pedro Vicente, Manoel Senhor e tantos
mais. Eles simbolizam a família, a infância, a adolescência e a amizade (quando
não a desavença, o ódio, como a família Medeiros toda). Alguns marcam apenas um
tempo histórico, outros um tempo da memória do personagem-autor, o próprio
Saló. Não quero nem devo dar nenhuma dica de leitura, porque isto que faço não
é uma resenha. É apenas uma impressão de leitura. Outros alcançarão coisas que
não alcancei, em vista da variedade de situações narradas em cerca de 300
páginas, bem escritas e bem editadas. Se se contam alguns errinhos é porque em
toda publicação acontece. Não há livro perfeito. Como não há nada perfeito.
Diz-se que só Deus tem a perfeição.
Há também teóricos do romance que
dizem que escrever um romance não é difícil, a dificuldade maior é
terminar. Tanto é assim que muitos
romances célebres ficaram sem término. O caso mais típico é “O
Processo”, de Kafka. Aliás, uma
forma de terminar o romance é não terminá-lo. Dizem outros que a leitura do
último capítulo é dispensável, que até o penúltimo o autor já disse tudo. Eu
não caí nessa esparrela, diante da leitura de Jailson, não pude comprovar essa
afirmação, pois fui lendo até terminá-lo, com aquela sensação de que algo mais
iria acontecer. E aconteceu... Quem quiser comprovar, que faça como eu. Mesmo
porque eu tinha que falar, escrever, e de certa forma julgar sua obra, nesta
apresentação. Eis que tenho obrigação, na minha trajetória de crítico (pelo que
sou conhecido no Brasil inteiro, depois da publicação de “Linguagem e Comunicação em O. G.
Rego de Carvalho”, Rio, 1972), de nunca escrever uma
linha sobre obra que não tenha lido inteira, lido e às vezes relido. Meu
caráter e minha criação (educação doméstica) me mandam que assim o faça, e isto
é o que recomendo para todos os que se metem a apresentar obras literárias ou
escrever artigos e resenhas. Em resumo: consciência e ética.
As ações e os acontecimentos que o
autor narra se deram no tempo histórico de um dia, o dia 9 de abril de 1964 – data
em que o personagem narrador se torna de maior, completa 18 anos, ganha uma
camisa Volta ao Mundo e uma calça de brim Tropical, objetos de seu desejo e sua
grande alegria. E naquele mesmo dia o povoado Rodeador se torna Santo Antônio
de Lisboa (PI), ganhando autonomia como município. Há referência ligeira a
outras datas, 1961, por exemplo. Mas
todas ficam por conta da criação do autor: pensamentos, sonhos, visões em
festas, viagens, falas dele e dos outros, pois que também Jailson é um
autêntico manejador do diálogo dos seus personagens. Usando aqui o tempo psicológico, de que fala E. M. Forster, ele faz direitinho o leitor entrar para o mundo dos contrastes:
infância x adolescência; a morte (real) e a vida; a roça (mato) e a cidade;
Jandira x Isabel; a família dos Grandes x a família dos Medeiros. Enfim, é um
mergulho nessas questões pungentes, nessa luta constante dos homens, em
sociedade, para que as diferenças sejam apenas diferenças e não guerra, para
que a paz seja uma constante, o reino dos ricos e dos pobres.
Para finalizar, digo que eu, que fui
um morador de Santo Antônio do Rodeador, num tempo bastante afastado do tempo
histórico de Jailson, bem que me lembrei de muitas coisas e, mais ainda, me
senti ali vivendo como filho de Mestre Miguel, como empregado de Isaac Batista,
como amigo de Manoel Senhor e seus filhos e filhas, de Arlindo Cipriano e sua
família, como sofredor de uma paixão como a de Saló por Jandira, que só foi
curada pelo tempo. Bem que eu gostaria de ter escrito este romance de Jailson
Klein.
__________________________ Teresina-PI, 14/7/2012.
Bibliografia:
Klein, Jailson. Salomão Grande, um dia simples de, Life
Editores, Campo Grande-MS, 2012.
Moisés, Massaud. Dicionários de Termos Literários,
Cultrix Ltda. – São (SP), 1988.
Forster, E. M. – Aspectos do
Romance, Editora Globo, Porto Alegre – RS, 1969.
Moura, Francisco Miguel de. Linguagem e Comunicação em
O. G. Rego de Carvalho – Editora da
Universidade Federal do Piauí (EDUFPI), 1997, 2ª edição.
McEwan, Ian. Citado por Jerônimo Teixeira, in Revista Veja, nº 27(4.7.2012), em resenha do romance “Serena”,
resenha, pg.122.
2 comentários:
Meu querido amigo me perdoa a falta contigo,pois tenho viajado muito a trabalho.
Como sempre meu respeito por sua pessoa e meu contentamento.
Espero suas poesias com ansiedade.
Um grande abraço e muita luz
rachelrocha77@yahoo.com.br
Visite lindo mesmo, de letra de imagens. Muito obrigado por tantos poemas tão sensuais, que até dão vontade de.... (não pense maldade, dão vontade de fazer outros iguais.
Abraços carinhosos
francisco miguel de moura
29/o7/2012
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