quarta-feira, 6 de junho de 2012

FRANCISCO MIGUEL DE MOURA - ENTREVISTA A SI MESMO

Entrevistado: Francisco Miguel de Moura (Chico Miguel)
Entrevistadores: Ele mesmo e alguns leitores imaginários

1 – Quem é Francisco Miguel de Moura?
      
R – Francisco Miguel de Moura sou eu, como disse o poeta Mário Quintana, a uma repórter apressadinha. Falando sério, eu sou um bancário e de cuja atividade sobrevivi e depois me aposentei. Mas concomitantemente tenho sido e sou o escritor Francisco Miguel de Moura, também conhecido por Chico Miguel.  Na verdade, ninguém é, apenas existe e resiste, está sendo. Somos um e muitos ao mesmo tempo.

“Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, 
Mas um dia, afinal, eu toparei comigo.” 

Assim bem como poetizou Mário de Andrade. Mas, na linguagem comum, que é a de toda entrevista, sou um homem pequeno (baixo), poeta e feio (só me faltou ser preto), de família pobre, mas considerada de classe média pela origem, costumes e educação. Meu pai era professor e minha mãe dona de casa.  A partir de 1938, saindo de Jenipapeiro (Francisco Santos, hoje) para outros lugares do município de Picos – eu tinha cinco anos – ele começou a viver de lecionar, era mestre-escola. Durante o tempo anterior em que ele lutava sem sucesso com atividades agrícolas, criei-me praticamente sem tomar leite e exposto aos vermes, disenterias e outros males que afligem as crianças, sem remédio, salvo as “meizinhas” que minha mãe preparava com ajuda de parentes e vizinhos. Literalmente, comi o barro (terra) que o diabo amassou quando era menino e digo, sem me envergonhar, que passei fome. O alimento era pouco e sem substância: feijão, farinha e carne seca apenas pra temperar a panela. Se sou forte e sadio é por conta da genética e por ser o primeiro filho do casal Miguel Borges de Moura e Josefa Maria de Sousa – os primogênitos são muito favorecidos, dizem.

2 – Você disse quem foi quando criança. E depois?

R – Sou escritor, repito, por minha própria conta, visto que para ser escritor não é necessário título nem concurso, muito menos pistolão na político e no Estado.  A partir de dezembro 1966, quando publiquei meu livro de estréia, “Areias”, com prefácio de Fontes Ibiapina – há quase 50 anos – conscientizei-me de que seria escritor enquanto me houvesse condição financeira para bancar as edições. Essa eu tinha, era funcionário do Banco do Brasil por concurso, de 1956, tendo assumido em 2 de março de 1957, em Picos (um sábado de Carnaval (naquele tempo os bancos abriam aos sábado). Acabara de cursar o 2º ano do Ginásio, em Picos.

3 – Como você conseguiu estudar, se era filho de família tão pobre e do interior?

R – Filho de família pobre, sim, repito – tão pobre que houve um tempo em minha casa que simplesmente não havia colher para se comer o feijão e o pirão. Então, eu, menino “industrioso”, inventei e fiz umas colheres de pau até que meu pai pode comprar uma mobília metálica e pratos de alumínio (antes eram de barro) e com elas nós levávamos a comida do prato para a boca.  Mas, voltando a sua pergunta de como consegui estudar. Aprender a ler, escrever e fazer as quatro operações de conta não foi difícil, o velho não me ia deixar analfabeto, sendo ele o mestre-escola mais afamado de toda a redondeza de Picos e outros municípios vizinhos. Com sete anos aprendi as primeiras letras, estudei com ele até os 14 anos e daí fui trabalhar na mesma profissão dele, ser mestre-escola nas casas mais distantes, nas populações mais pobres porque pagavam mais barato a mim do que a meu pai. Foi pouco tempo, dois anos mais ou menos. Em 1957, meu pai arranjou-me outro emprego: de balconista, caixeiro, na loja de tecidos de Izaac Batista de Carvalho – o homem mais rico do povoado Santo Antônio (Rodeador, como era chamado, na época). Fiquei dois anos, mudei para Jenipapeiro (Francisco Santos, hoje), trabalhei com Areolino Joaquim da Silva, outro grande comerciante da época, mais dois anos e pouco. Já era rapazinho, pensava em sair daquele lugar, ir para Picos, faltava apenas uma oportunidade. Publiquei um poema no jornal de Picos, depois outro; Almeida Guimarães, meu amigo e de meu parente Abraão Conrado da Costa, levou-me para a casa desse parente até então desconhecido meu. De sua generosidade e da família ganhei casa, comida, roupa lavada; ele me arranjou trabalho num Cartório, depois na Delegacia de Polícia (fui Escrivão, durante dois anos) e foi assim que cheguei ao segundo ano do Ginásio. Resta dizer que passei em primeiro lugar no exame de admissão ao ginásio (uma espécie de vestibularzinho) e nos anos seguintes. Meus estudos regulares praticamente que foram encerrados ali, pois a Escola de Comércio já foi feita à noite. E os demais (Faculdade e Pós-graduação) serviram apenas como ilustração do que já havia conseguido. Na Escola Técnica de Comércio formei-me como Contador, bom para minha carreira bancária. Naquele tempo esse curso tinha status de superior. Com tantas leituras que eu tinha feito, com o apoio de seu Samuel Portela, Agente de Estatística de Picos, que me franqueou sua excelente biblioteca, praticamente era um escritor formado, faltava apenas publicar o livro.

4 – Quais foram as suas leituras? Como aconteceram se o meio era pobre de livros, jornais, revistas?

R - Em Francisco Santos – PI (Jenipapeiro) e nos demais povoados onde moramos realmente livro era coisa difícil, em nossa casa havia somente dois. Lembro de um “Dicionário Enciclopédico da Língua Portuguesa”, de Simões da Fonseca, e também de uma “História Natural”, já sem capa, que descrevia os reinos animal, vegetal e mineral. Uma riqueza. Não sei bem onde meu pai conseguiu. Dentre os parentes de minha mãe, irmãos e primos, havia poetas que escreviam á mão suas composições chamadas cantigas e décimas, as quais eram decoradas e recitadas pelas pessoas do “Curral Novo”, lugarejo da fazenda Jenipapeiro, onde nasci.  Mas, na escola, os livros de português e gramática traziam páginas de prosa e poesia. Os livros de leitura, a partir da primeira série, continham poemas de Olavo Bilac, Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias e outros. Meu avô paterno, Sinhô do Diogo, era dado à leitura e à escrita. Tinha livros dos poetas românticos e histórias de amor e de lutas como “Carlos Magno e os Doze Pares de França”. Esses aí eu devorava todos. Era uma leitura aleatória, certamente.Foi só a partir de quando eu entrei para o ginásio que li danadamente, de manhã, de tarde e de noite: Humberto de Campos, José de Alencar, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Joaquim Manuel de Macedo, Visconde Taunay e outros, incluindo clássicos franceses. Em poesia, depois dos românticos vieram os parnasianos e os simbolistas: Augusto dos Anjos era o mais festejado. E em seguida, Manuel Bandeira, Drummond e companhia, todo do Modernismo.  Eu já começava a escrever em prosa, ainda não pensando em publicar, lembro que em “Santo Antônio” (Rodeador), na “Loja de Isaac Batista de Carvalho”, junto com as embalagens de tecidos, vinham jornais velhos de Recife e eu os recolhia com carinho para lê-los todos e imitar suas matérias, seu artigos, suas crônicas.

5 – O que está lendo agora?

Continuei lendo muito, durante toda a minha vida de bancário e prossegui depois da aposentadoria. Agora, acabo de ler “Passagem para a Índia”, de E. M. Forster, um autor inglês clássico. Tomei contato com ele ainda na Faculdade Católica de Filosofia do Piauí (FAFI), nos anos 1970, porém através de “Aspectos do Romance”, livro singular sobre a teoria do gênero, que me deu uma visão superior sobre o que é e como é feito o romance.  E foi ele que me influenciou a escrever meu segundo livro “Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho”, Artenova, Rio, 1972, que me deu nome nacional como crítico, digo assim porque foi resenhado na obra “A História da Crítica no Brasil”, de Wilson Martins, nosso maior crítico literário, recentemente falecido.  Mas, pegando o fio de sua pergunta, acrescento, atualmente não estou lendo muita coisa. Depois dos 70 anos, a leitura vai reduzindo-se a dois ou três livros por ano. E estou de romances. Porque livros de informação, história, biografias, memórias, crítica a gente lê sempre, e muito. Poesia, contos e crônicas também, porque se gasta menos tempo.  Outrora, mania de crítico, toda leitura minha era anotada. Hoje já não preciso fazê-lo porque não tenho intenção ou necessidade escrever sobre o assunto. Antes de “Passagem para a Índia”, li “A Vagabunda”, de Gabrielle Colette, cujas anotações ainda conservo, mas nada escrevi, nem um pequeno artigo. Entretanto, sobre “Ana Karenina”, fabuloso romance de León Tolstói, no ano de 2007, escrevi e publiquei um alentado ensaio que foi publicado na revista “Literatura” então editada em Fortaleza. Sobre educação e leitura, já em 2011, após ler e anotar várias obras sobre o assunto, escrevi outro alentado trabalho, recentemente publicado na revista “Presença”, nesta Capital.

6 – Porque você, o Herculano Moraes e o Hardi Filho resolveram criar um movimento literário chamado CLIP (Círculo Literário Piauiense)? Fale sobre você e sobre o movimento literário.

R – Falar sobre o CLIP tomaria muito tempo, mas vamos resumir nalgumas linhas. No final de 1964, eu chegava a Teresina, vindo de Itambé, interior da Bahia. Aqui encontro Hardi Filho, poeta de fôlego, que havia ganhado, com o livro "Cinzas e Orvalhos", um Concurso Literário promovido pela Prefeitura de Teresina – concurso que não mais se repetiu durante anos e anos – cujo certame fora julgado por uma comissão de acadêmicos da Academia Piauiense de Letras. Também fui apresentado a Herculano Moraes, que fazia um programa na “Rádio Pioneira de Teresina” e também publicara um livro. Já conhecia o teatrólogo Tarciso Prado, por ser meu colega de Banco, assim como O. G. Rego de Carvalho. E também Fontes Ibiapina, escritor famoso, picoense como eu, com quem falávamos sobre literatura e poesia. Ele me animou a publicar “Areias” e me deu o prefácio. Era 1966. Três poetas, com livros publicados, partimos para o movimento, onde agrupamos cerca de 20 pessoas, todas comprometidas com a literatura, o jornalismo, o teatro ou outro setor artístico. Fundamos o CLIP (Círculo Literário Piauiense), com estatuto, diretoria, sessão de instalação no “Teatro de Arena”, com presença de autoridades de vários setores. Fizemos recitais, um jornal (o CLIP nº 1), reuniões aos domingos, durante um ano, lançamentos de livros, encenação de peças de teatro, entrevistas nas rádios, etc. Ele surgiu quando aqui não havia nada em literatura: A Academia inativa, o movimento “Meridiano” desarticulado pela ausência de Paulo Nunes, H. Dobal, Afonso Ligório, O.G. Rego de Carvalho (este voltaria primeiramente, mas já doente, ficou algum tempo em tratamento de saúde). É preciso explicitar que não éramos contra nada, antes pelo contrário, a favor de tudo que fosse cultura e arte: revigoramento da Academia, criação da Secretaria de Cultura, reedição de concursos literários, etc. Como nada acontecia, por causa dos dilemas políticos (e perseguições policiais) da Ditadura, lá por 1973 fundávamos a União Brasileira de Escritores do Piauí (UBE-PI), tendo à frente, Magalhães da Costa, já praticamente incorporado ao CLIP, pois vinha publicando contos desde os anos 1960, no Almanaque da Parnaíba, e publicaria “Casos Contados”, em 1970. Outro nome famoso que assinou o estatuto do CLIP foi o romancista Castro Aguiar, que arribou para o Rio e lá ficou fazendo carreira jurídica.  Os reflexos do CLIP seguem visíveis através de seus membros: Herculano Moraes, editando a “Visão Histórica da Literatura Piauiense”, Francisco Miguel de Moura lançando “Pedra em Sobressalto” e mais tarde a revista “Cirandinha”. Hardi continuava publicando seus livros de poesia e depois o ensaio "Poesia e Dor no Simbolismo de Celso Pinheiro", anexando antologia de poemas inéditos. Tudo isto prova que não fomos contestadores ordinários. Nem isto não livrou de alguns dos sócios serem presos e outros chamados à Polícia Política (DOPS). Contestávamos a ditadura dos militares e também o vácuo da literatura, uma espécie de doença longa, quase morte. Não deixamos que isto acontecesse, num período tão conturbado, como o dos anos 1960/70 e seguinte, da vida social, cultural, econômica e política do Brasil, consequentemente do Piauí.

7 – Você escreve poesia e prosa, experimentando todos os gêneros, é um polígrafo como foram muitos autores brasileiros e piauienses. Por que esse fenômeno? Um gênero não atrapalha o outro?

R – Quando estou escrevendo poesia é só poesia, escrita e leitura. Até terminar aquele projeto poético. Quando escrevo prosa, a mesma coisa. Os projetos são os livros. Quando preparo o projeto de um romance, só leio romance, só escrevo sobre romance, posso até assistir a filmes, porém que sejam adaptados de romances. É assim. E não acho que atrapalha nada. Não sei se vocês acreditam: sou de gêmeos e os geminianos gostam da variedade, canso-me muito se só faço um tipo de coisa. Creio que aí está a razão da minha atividade tão prolífica na literatura. De um projeto para outro descanso, porém continuo trabalhando, acredito, porque o nosso inconsciente é imprevisível e incalculável. Com a crítica acontece o mesmo. De certa forma, a crítica esteriliza a criatividade. É preciso ter cuidado, técnica e competência. Apenas a crônica se dá bem com a poesia, parece-me que pela proximidade do “eu” poético, quase sempre presente na crônica ligeira, de cada dia. Cronista e poeta são atividades muito próximas, de muita ligação.
                    
8 – Dentre todos os gêneros literários, você prefere qual?

R – Está claro que é a poesia. Escrevo infinitamente mais poemas que qualquer outro gênero.  Sem a poesia o mundo estava perdido. Eu não poderia existir sem ela, e acredito que nem ela sem mim (Que modéstia, hem?!). Explico: sem minha poesia o mundo ficaria incompleto. Pena que o mundo que de mim toma conhecimento é tão pequeno! Mas esta é outra história.

9 – Onde você encontra tanta inspiração? Ou não crê nisto? E se você não se considera um escritor profissional e escreve tanto, por que não pára escrever?

R – Espera aí, esta quase afirmação da pergunta me ofende. Escritor é para escrever, pintor para pintor, músico para tocar e cantar todo dia e sempre, enquanto não morrerem fisicamente. Eu escrevo a vida (com ou sem inspiração), escrevo para viver, não para ganhar dinheiro. A maior recompensa do escritor é ser lido (e comentado).  Tenho uma família – graças a Deus, bem criada e unida – e há 50 anos vivo com minha mulher, mãe de meus filhos, que me dá a tranquilidade de produzir literatura. Ela é uma dona de casa exemplar, inteligente e preocupada com o governo da casa e da família. Tudo isto junto me faz feliz. Lutei, sofri e sou um vencedor. E, se há alguma coisa que se chame inspiração, esse fenômeno espiritual vem do sofrimento íntimo e do conhecimento da vida dos que sofrem, da vida que vivemos e sonhamos, do mundo que ganhamos e ajudamos a construir. Minha poesia é minha e de todos, é do tempo e para todos os tempos. Eu e o Hardi Filho nos podemos considerar “Poetas do Tempo” – escrevemos juntos um livro com o título de “Tempo contra tempo”. E até mais: "de todos os tempos." Não nos faltou inspiração. O que é inspiração? É trabalho, consciência, inteligência, amor, bondade, e também teimosia, obstinação, busca da perfeição, mesmo sabendo que há enorme distância entre o ideal e a concretude. Não chegaremos a ela, a perfeição, sem a bondade. Recentemente escrevi um poema com o título “Deus”, simbolicamente difícil de ser explicado. O poema é este:
                   
  “Desejos de mandar num deus
  nem preciso nem grande,
  nem miúdo ou menor do que eu:
 - Que também me mande.

Que não seja demônio
nem venha tolamente despido:
- Seja um bom anjo, suponho.

Ser um deus não-homem,
quebrar a jaula dos pobres em espírito
e matar de desejos das coisas (enganos).

Deus da minha impotência.”

Não vou negar que tenho aquela ânsia de imortalidade de todo homem, essa ânsia é a base espiritual que me leva a produzir arte, “livros, livros à mão-cheia”, para que, no futuro, alguém que m leia algum verso meu saiba que eu vivi e deixei alguma lembrança, além da que fica pelos filhos, netos, bisnetos...  Mas a história passará? A eternidade não passará?  Quem sabe? Sou meio agnóstico, graças a Deus. Sou um católico histórico. Admiro Jesus Cristo como a nenhum outro irmão, mas não me submeto a dogmas. Como escritor, sou livre.  Admiro Sócrates como o poeta São Francisco de Assis, meu santo protetor. 

10 – Mas, a respeito de Deus, que todos nós invocamos, você tem algo mais a dizer?

R – Conto uma anedota que dá bem a idéia de que os ateus e agnósticos não têm vez, não tem plena liberdade de expressão. Um dia Jorge Amado e Paulo Coelho, hospedados no mesmo hotel, coincidentemente entre outros escritores menos conhecidos, batiam um “papo” daqueles bem conhecidos entre os intelectuais. A certa altura, um do grupo levantou-se e perguntou a Paulo Coelho se ele acreditava em Deus.
         - Acredito, sim. Quem não acredita?
         - E você, grande Jorge Amado, acredita em Deus?
         O autor de “Gabriela, Cravo e Canela” e “Terras do sem Fim” remexeu-se na cadeira, olhou para os lados e, finalmente, falou:
          - Bem, acreditar eu acredito, não sei é se ele acredita em mim.
          Foi uma gargalhada só.
    Mas, concluindo a pergunta: - Mesmo os descrentes têm necessidade de Deus. A todos os homens chega a hora em que Deus é necessário. Aceita-se a sua grandeza quando nos conformamos com a origem de nossa finitude.

11 – Mas você sonha? E com o que sonha? Qual o seu grande sonho?

R – Como todo homem, como todo poeta, meu sonho de toda a vida foi ser um escritor conhecido. Conhecido já sou, pelo menos em Francisco Santos-PI, minha terrinha, em Picos – a cidade maior daquela região – e penso que em alguma outra parte do Piauí: Teresina, nossa Capital, onde me estabeleci em 1964, com a pretensão de ficar para sempre. E fiquei. Aqui construí e publiquei minha obra, aqui vivi e vivo por escolha. E não saberia viver longe do Piauí. Mas eu gostaria não somente de ser conhecido pelo publico em geral como de ser estudado nas escolas, nas universidades. Além disto, pergunto: Qual o escritor que, pelo menos uma vez na vida, não sonhou com um grande Prêmio, o seu Nobel (como muito dinheiro para não se preocupar financeiramente para o resto da vida)? Mas, embora possa parecer blague, repito aqui, como disse em meu discurso ao assumir a cadeira nº 28, da Academia de Letras da Região de Picos (ALERP), cujo patrono é meu pai – Mestre Miguel Borges de Moura (Guarani): “Considero que hoje estou recebendo o meu prêmio “Miguel”, pois não é pouco meu pai e eu sermos reconhecidos nesta região, reconhecimento coroado no mérito de figurar na galeria de sócios desta Casa.” (palavras guardadas apenas na memória e que aqui tento reproduzir o sumo do que falei naquela solenidade).

12 – E para terminar este “papo”...?

R – “Papo” de literatura não termina nunca. Mas, por enquanto, agradeço aos entrevistadores virtuais e anônimos e às centenas leitores também do mesmo gênero, pela paciência e por esta oportunidade em que me suportam que eu fale de mim, sobre e mim e sobre a Literatura, lembrando que sou colaborador das duas melhores revistas do Piauí, “Presença” e “Cadernos de Teresina” desde os primeiros números. Também do vetusto e glorioso “Almanaque da Parnaíba”, onde esporadicamente colaborei, não esquecendo muitas outras revistas e jornais da Europa e dos Estados Unidos, que por serem muitas, deixo de mencionar o nome de cada.

E tem mais este parágrafo, com destaque: - Explico que me sinto otimamente bem, nascido no Piauí, terra dos gloriosos poetas Da Costa e Silva e H. Dobal. E nas atividades culturais, literárias atuais, não esqueço que me é uma glória também ser amigo e companheiro de poetas como Hardi Filho, Elmar Carvalho, Altevir Alencar e Herculano Moraes, falando sobre os que estão vivos e têm assento na Academia Piauiense de Letras. Porque O. G. Rego de Carvalho, Assis Basil e Fontes Ibiapina são destaques em qualquer parte, na prosa. Como é chegado o fim da entrevista (não vista, não ouvida, mas certamente que vai ser lida), peço-me licença para terminar com o fecho do meu soneto “Confiteor”:
                                                
De nada do que fiz eu me arrependo:
de ter amado até quem não me amava,
de ter falado um pouco do que entendo,
de ter ganhado o pouco que eu ganhava.

Da rotina bancária, eu me fartava,
só pensando comigo o que eu fazia...
Quanto papel e tinta que eu gastava,
para o lixo, depois. Era o meu dia!...

De nada que antes fiz peço perdão
e, pro futuro, eu peço ao coração,
sossego e  amor... Do resto eu me defendo.

Nem dos pecados feitos, tão diversos,
de nada, nada, eu hoje me arrependo,
e muito menos de ter feito versos.
    
            Não é lapidar para uma boa ocasião como esta, meus interlocutores silenciosos?
                                        
                                                                                               Francisco Miguel de Moura
                                                                                                    Teresina, 05/06/2012





                

              

2 comentários:

Anônimo disse...

Se arrependimento matasse
não teríamos este belo soneto
não teríamos o último verso
por que no fim o que importa
é o poema
mesmo que se tenha vivido
muitos outros
o poeta é quem escreve o manuscrito
é que deixa o verso escrito
é quem escreve o epígrafe
na face da morte
ela leva o corpo
a alma vai embora
mas o poema fica
e mesmo que navegue
muitos anos numa garrafa
verde
num oceano azul
um dia alguém o encontra
e o poeta ressuscita.

Luiz Alfredo - poeta

ROSIDELMA FRAGA disse...

Você não existe, Chico!
Entrevistar a si mesmo é fantástico. Um Narciso refletindo-se no espelho da vida e da arte, a fim de causar inveja em qualquer um dos deuses e mortais. Abraço amigo poeta.

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