terça-feira, 24 de maio de 2011

SOLIDÃO, SOLEDADE

SOLIDÃO, SOIDÃO, SOLEDADE 
" O homem é um ser sozinho. E é tal a consciência da solidão, que busca em desespero a companhia ideal, para morrer acompanhado."
                  Maria Helena Ventura
                   in "  Cidadão Orson Welles"

Francisco Miguel de Moura*

Não sei quantas vezes já escrevi sobre o tema. Solidão é um assunto recorrente na literatura brasileira, talvez em todas as literaturas ocidentais. Meu comentário lembra, de propósito, o título de um livro de contos de Autran Dourado, “Solidão, solitude”, no qual, com grande variedade e propriedade, o autor trata do problema através de diversos personagens e situações. Ele demonstra, na sua sabedoria, que a solidão é um estado de espírito constante no homem: falta de amor, falta de carinho, falta de familiares, falta de algo com quem o solitário possa comunicar-se. Ou desesperança. Ou depressão, o que, neste caso, chega a ser doença, uma doença da alma. E “a alma”, segundo o filósofo Jean-Paul Sartre, “é uma criação simbólica da mente humana”.  Outros escritores também já concordaram com o existencialista e publicaram livros e mais livros sobre o tema, sejam crônicas, contos ou simplesmente artigos de jornais. Raquel de Queiroz tem um romance com o mesmo nome do de Autran Dourado. 

A solidão não parece ser apenas um sentimento humano. Observando bem, alguns animais também padecem do mal. Chegam a morrer de tristeza, especialmente se ficam presos.  No homem, a solidão nasce com ele, cresce com ele e o acompanhará a vida inteira. Sentimento verdadeiro do homem, talvez o mais radicalmente humano. O homem sofre, o homem se constrói e nessa construção é indispensável toda a sua força, toda sua afirmação, independente de sua gênese.  Ninguém nasce com algo que não possa ser mudado, no desenrolar da vida em sociedade.  Os atos intersociais são importantes, tal como a solidão - a outra face oculta do homem. E só esta certamente o tornará original e seguro. 

Não esqueci a pergunta que, desde o início, me fiz: - Por que sente solidão o homem moderno? E também o leitor deve estar formulando outra pergunta: - A partir de quando, no desdobrar da história, o homem começou a sentir solidão? Antes da caverna e por isto se tornara um grande caminheiro, migrante?  Ou foi um acontecimento demorado?  Decerto, o movimento fizera do hominídeo um homem.  Movimento é vida. Para encontrar alimentos, mais caminhar.  Enquanto assim procedia, o cérebro se avolumava. Andar, correr, gritar, caçar, eis os primeiros verbos. Parece que a solidão foi aparecendo quando o homem já não tinha mundos a explorar ou perdia seus limites.  A solidão será uma doença da modernidade?  Nosso homem primitivo não tinha tempo para filosofias, pensar não era o seu forte, especialmente sobre coisas acima da matéria comum. Cantar - verbo que veio depois - ele aprendeu com a solidão, para espantar seus males, como dizemos hoje. E para espantar os males da solidão o homem procura o outro para um dialogo, uma troca de idéias, ou para simplesmente dizer o que sente, o que deseja, o que fez. Mas também é um fato que o homem, não obstante o avanço do seu cérebro, não aprendeu a comunicar e expressar-se humanamente. Primeiro, tem medo de declarar quem é, ou acredita que é. Na verdade, ninguém é: - Nós estamos sendo, vivendo, fazendo. Segundo, porque não se conhece o outro. Ninguém conhece ninguém. Assim, somos os eternos solitários, sempre mendigando atenção, sofrendo por não ter a quem transmitir seus anseios. Fazer é o verbo que completa o homem, daí por que os artistas são mais felizes do que o homem da massa. Este, apela para a religião, a quem se entrega, às vezes mal. Dogmatiza-se, perdendo sua preciosa liberdade. Aquele, pensa e se libera para mais ações, para poder entregar-se às grandes causas da humanidade. Mas, quanta poesia nasce pela sugestão da palavra solidão!  Quantas obras de arte pictórica, quantas obras arquitetônicas, quantas obras em todas as artes!  A solidão visceral do homem não é um sentimento negativo. Apenas quando passa a ser uma fraqueza integral, torna-se uma doença que merece ser cuidada, com médico, meizinha, trabalho e diversão. 

___________
*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, redidente em Teresina, PI, já publicou cerca des de 30 obras, sem contar com algumas reedições. Bancário aposentado, professor,cursou Letras na Universidade Federal do Piauí e fez pós-graduação em Crítica da Arte, na Univerdade Federal da Bahia, Salvador.

Um comentário:

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Prezado Francisco, sou levado pelas minhas experiências como psiquiatra a dizer que a solidão só adoecimento quando é uma inibição que nos impede de encontrar com o outro; porém, muitos que nunca a suportam, assim, vivem para nunca estarem consigo. A poesia e a literatura é a solidão que se devém artee nos coloca numa conexão como outro-infinito.
Abraços com carinho, jorge bichuetti
do blog utopia ativa
www.jorgebichuetti.blogspot.com

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