quarta-feira, 18 de maio de 2011

A DESORAS - 3 NOVOS SONETOS

A DESORAS
           
                 Francisco Miguel de Moura*

                     1
Desengonçado e magro de dar dó,
Filho de mãe tão linda como a lenda
Da bela e a fera, o pai fora encomenda.
E por irmão, ninguém... Vivia só.

Mas conseguiu crescer, ficar melhor
Nos seus modos, na fala e no semblante.
Na mocidade, um jovem elegante,
Dominava os salões com seu calor.

A herança do berço era a madrinha,
Que o educou em tudo que convinha,
Tanto era o amor que o cego nem queria.

Querido era das moças, seus tesouros,
Todas vinham queixar-se já em choros,
Por causa das paixões sem companhia.

                       2

Não pressentiu, da vida, o passar leve
Por entre os olhos, sem lhe ouvir os passos,
Buscando amigos e os melhores laços
Donde o ouro pudesse chegar breve. 

Não pressentiu que tal matéria inscreve
Apenas cinzas nos anseios vãos,
Que os poderes sem alma valem “nãos”
Se o corpo pesa, se a cabeça é neve.

Desanimado, o mundo ficou velho,
Os jovens sabem mais e dão conselho
E as ciências desmentem salvação.

Bambas as pernas e crescido o abdômen
Somem as glórias entre os dedos do homem
Porque o amor morreu de inanição.

                       3

Voltar ao seu passado é um desatino,
Não há vidas passadas, nada muda
Nem reencarnação nenhuma ajuda,
Há de cumprir todo homem seu destino.

Quem já nasceu existirá sem fim,
A criação é eterna, a vida escorre
Como um rio... Que importa que a dor torre
Cabeça e membros, coração e rim?

Ser rico ou pobre, ser bonito ou feio,
Ser negro ou branco, ter melhor esteio
Onde deitar-se e dominar seu “eu”...

Nada muda um milímetro do eterno,
Pode subir ao céu, cair no inferno,
Não passa o homem de outro Prometeu.

                                          The. 21/5/2010
 ________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro,mora em  Teresina,Pi, publicou mais de 30 livros. Está preparando sua obra incompleto, agora os poemas inéditos, para comemorar seus 50 anos de poeta em letra de forma, visto que sua estreia se deu com o livro Areias, 1966

2 comentários:

Antonio José Rodrigues disse...

"As paixões humanas, como as formas da natureza, são eternas."
Léon Bourgeois
Abraços

carmen silvia presotto disse...

Bom para estar aqui contemplando os teus sonetos, uma riqueza lírica, em forma e conteúdo... comprovando, a mim, que temos que seguir prometeicos já que o eterno é um tempo sublime.

Um beijo.

Carmen.

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