quinta-feira, 11 de junho de 2009

DISCURSO DE POSSE DE JOÃO ERISMÁ DE MOURA*

CADEIRA Nº 13 DA ACADEMIA DE LETRAS DA REGIÃO DE PICOS-PAUÍ - ALERP
Em Picos-PI, 27/ 8 /2005.
Nesta noite tão alegre, num recinto tão acolhedor, tenho a satisfação de salientar que num período de pouco menos de quatro meses estou assumindo a segunda cadeira numa academia de letras regional. No dia 29 de abril passado, tive a felicidade de tomar assento na Academia Açailandense de Letras, no Estado do Maranhão, como membro correspondente, representando, com muita honra, os Estados do Maranhão, Piauí e Distrito Federal. Coincidentemente, naquele dia era sepultado aqui em Picos o acadêmico Francisco de Moura Barbosa, ocupante da cadeira que a mim será destinada nesta noite.

Neste instante tão significativo da minha vida, ocasião em que estou tomando posse no honroso cargo de Acadêmico na Cadeira nº 13, desta conceituada agremiação literária que tem como Patrono o Sr. Francisco Lopes dos Santos, e seu primeiro ocupante o já mencionado Francisco de Moura Barbosa, solicito uma dose de paciência à seleta platéia para, em breve histórico, descrever um pouco das duas ilustres figuras piauienses.

II
A Academia de Letras da Região de Picos, fundada em 22 de outubro de 1989, tem como Patrono da sua Cadeira nº 13º o senhor Francisco Lopes dos Santos.
O homenageado nasceu no povoado de Buriti Grande, pertencente à época ao município de Oeiras, antiga capital piauiense, no dia 26 de outubro de 1875. Descendente de tradicional família portuguesa era o primogênito do casal Cícero Leopoldo dos Santos e a professora Evangelina Lopes dos Santos.

Francisco Lopes dos Santos foi casado com a senhora Estefânia Conrado Lopes nascida em Amarante, terra do nosso poeta maior Antônio Francisco da Costa e Silva. O casal teve dois filhos: José Conrado Lopes (in memoriam) e Raimundo Conrado Lopes (in memoriam). A família Lopes é composta de pessoas, consideradas inteligentes e cultas.

Profissionalmente, o Patrono da Cadeira nº 13 da ALERP exerceu a patente de capitão oficialmente titulado, tendo assumido o cargo de guardião do povoado Cabeço, hoje, comarca de Dom Expedito Lopes. No século passado foi influente fazendeiro e dono de engenhos na região.
Em 1959 sua esposa veio a falecer, causando ao Sr. Francisco uma enorme angústia, acompanhada de solidão, isolamento e depressão. No mesmo ano, num ato desesperador, veio a suicidar-se, inconformado com seu estado de viuvez e solidão.
III
A mesma Cadeira nº 13 da Academia de Letras da Região de Picos – ALERP teve como seu primeiro ocupante e fundador Francisco de Moura Barbosa. Recentemente falecido, no dia 28 de abril do corrente ano, Chico Barbosa foi um defensor da literatura picoense. Publicou três livros: “Perdi meu Tempo”, “Tempo sem Tempo” e “Reminiscência” mostrando o seu lado poético. Além de fundador da Academia de Letras o meu antecessor na Cadeira nº 13 foi um confrade ativo que se dedicou intensamente às atividades deste Sodalício.

Nascido no local denominado Baixio dos Macacos, no dia 10 de outubro de 1917, era filho de José Gonçalves de Araújo e Maria Raimunda de Moura. Foi casado com Maria de Moura Barbosa com quem teve 11 filhos. Passou pela imensa dor e padecimento, este sofrimento eu o conheço muito bem, de ter perdido três deles.

Enfrentou muitas dificuldades na sua vida, iniciando sua luta como lavrador. Foi comerciante, com mercearia e loja de tecidos, sendo vendedor ambulante nas décadas de 1950/60. Ainda trabalhou como farmacêutico em Teresina.

Levou uma vida muita animada. Foi amante das artes, escrevendo poesias, prosas, compondo músicas e participando de serestas, chegando a apresentar um programa na Rádio Difusora de Picos, intitulado Luar do Sertão.

Foi um homem de visão futurista e empreendedora. São vários os fatos praticados pelo pranteado que culminaram com uma trajetória de sucesso profissional. Era obstinado pelo trabalho, dedicado pai de família, íntegro e cumpridor dos seus deveres e obrigações.
Antes de ser acometido pelo mal que o levou à morte, reuniu seus familiares e tomou uma decisão inusitada: Fez, ainda em vida, a partilha do seu patrimônio, oficializada em cartório, deixando para si apenas os bens suficientes para a sua sobrevivência. Ficou feliz e pretendia, com esta decisão, evitar alguma possível desavença por ocasião do inventário dos bens, post mortem.
Por ocasião do seu falecimento a Academia de Letras da Região de Picos – ALERP, em Sessão solene, prestou-lhe uma merecida homenagem. De longe, e ainda sem nem mesmo sonhar com o meu ingresso nesta Instituição, através de e-mails, encaminhei minhas condolências à família enlutada e votos de parabéns à Academia por importante iniciativa tomada. Fiz ali, na minha mensagem, uma comparação entre a figura do falecido e do meu saudoso avô, Francisco Rodrigues de Sales, Chodó, vereador de Picos, poeta, escritor, comerciante, fazendeiro, juiz de paz e ilustre homem público da vizinha Francisco Santos.

Não imaginava eu que, quatro meses depois, Deus e o destino conduziriam o meu nome para ser eleito e agraciado com a cadeira onde sentou o confrade Chico Barbosa, vindo, honrosamente, a ocupar a sua vaga na mencionada Academia de Letras.

A bela homenagem póstuma consagrada ao senhor Francisco de Moura Barbosa, ocupante da Cadeira nº 13 desta Agremiação, realizada no dia oito de maio de 2005, Dia do Artista, teve a participação de nobres confrades, sob a presidência do acadêmico Francisco das Chagas de Sousa. Entre os presentes, abrilhantaram o evento: Manoel da Costa Moura (Guanambi Sonial), os Acadêmicos, Luís Bernardes Lima, José Osvaldo Lavor de Lima e Olívia da Silva Rufino Borges, e ainda, Rangel Barbosa e Liana Barbosa, filho e neta do homenageado. Naquela oportunidade foi lançado o livro “Um Tributo a Chico Barbosa”. Bela obra dedicada ao recém-falecido poeta. Em Picos, também, recebeu nome de rua, Moura Barbosa, e nome de Unidade Escolar, Francisco de Moura Barbosa, além de ser patroneado com a próxima cadeira a ser ocupada pela ALERP, a de número 27.

Depois de traçar um pouco do interessante perfil do imortal Francisco de Moura Barbosa, acredito que minha responsabilidade aumentará na expectativa de ocupar a lacuna deixada pelo meu antecessor. Reconheço que será uma missão de difícil realização.

IV
Agora, falarei um pouco de mim, da minha luta, da minha formação, dos meus propósitos, enfim, da minha vida.

Sou oriundo de família considerada pobre, nascido em Santo Antônio de Lisboa, à época, pertencente à comarca de Picos. Até os doze anos de idade fui criado entre Francisco Santos e Santo Antônio de Lisboa, mais naquela do que nesta, ou seja, à beira do Rio Riachão. Sou descendente dos Borges de Moura, de Picos e dos Rocha de São Julião.

Meu avô paterno chamava-se Feliciano Borges de Moura, falecido logo após o meu nascimento. Foi figura admirável na região. Inteligente, gostava de ler e escrever cartas e poesias. Apreciava a escassa literatura da época, traduzida no cordel, alguns romances e contos. Foi também um homem perspicaz e de visão avançada para o seu tempo. Pelo lado materno, infelizmente, também não conheci o meu primeiro avô, Cícero Clímaco da Silva, falecido muito jovem, embora tenha sido professor renomado em toda a região de Picos. Era um intelectual, culto e elegante.

Em compensação, tive o privilégio de conhecer e conviver, diariamente, por mais de 10 anos, com o meu segundo avô (padrasto da minha mãe), Francisco Rodrigues de Sales (Chodó), e dele herdar as principais qualidades de um homem, não só no tocante à formação intelectual e moral, bem assim, receber do mesmo uma boa orientação que serviu por toda a minha vida. Como já disse noutras ocasiões meu avô era a minha carteira de identidade. Ser apresentado como neto de Chodó era um orgulho e uma demonstração de prestígio. Ele foi personagem marcante em toda a região de Picos. Suas principais virtudes foram transmitidas através da honestidade, caráter, responsabilidade, ética, retidão, equilíbrio, respeito ao próximo e altruísmo, ações praticadas no decorrer de toda a sua vida.

Minhas avós Isaura da Rocha Sales e Rosa Maria da Conceição também muito contribuíram na minha infância para uma boa formação como ser humano.

Devo aos meus pais, Euclides Borges de Moura e Rosa da Rocha Moura, que estão chegando aos 80 anos de idade, quase tudo o que sou. Com eles aprendi muito. Deles recebi mais ainda. Foram princípios fincados em valores morais que adquiri ao longo deste meio século de vida, espelhando-me nos seus exemplos de vida.

Sou autodidata. Aprendi a ler na década de 1960, com ajuda do meu citado avô, Francisco Rodrigues de Sales (Chodó), na ocasião político e intelectual residente em Francisco Santos, Piauí e da minha tia Teresinha da Rocha Sales, dedicada professora daquele município, onde, como aluno ouvinte, recebia minhas primeiras lições ministradas em suas aulas particulares.

O meu avô, um dos poucos intelectuais no município naquela época, já era assinante da revista O Cruzeiro e Jornal do Commércio, editado no Recife-PE. Com a sua ajuda, e soletrando as primeiras sílabas, aprendi a ler algumas palavras nesses periódicos.

Em 1962, já com 12 anos de idade, transferido que fui com meus pais para Brasília, iniciei meus estudos, em escola pública, na cidade satélite de Sobradinho. Na despedida do meu saudoso avô-pai, ficou gravada em minha mente uma frase sua, que me serviu como incentivo maior para que chegasse aonde cheguei. Dizia-me ele: “Vá meu filho para Brasília, estude, seja homem e vença na vida!”. Com a graça de Deus, e por isso agradeço-Lhe sempre, segui o conselho do meu avô ao pé da letra. Alcancei um patamar intelectual e profissional jamais imaginado. Brasília me deu muito mais do que eu almejava.

Entretanto, no meu caminho, foram inúmeras as dificuldades encontradas na nova Capital. Quando lá cheguei, ainda menino, era uma cidade em construção, com carência de tudo. Formada basicamente por pessoas procedentes dos mais distantes rincões brasileiros, principalmente nordestinos que fugiam da seca e agruras da região, em busca de trabalho e, com isso, construíram Brasília, nossa Capital, bela e encantadora. Como já disse alguém, sabiamente, a construção de Brasília se deu da seguinte maneira: Os nordestinos trabalhando, os mineiros mandando, os cariocas reclamando, os paulistas ganhando dinheiro e os goianos desconfiando de tudo.

Não dispúnhamos de nenhum conforto. Morávamos em barraco de madeira, sem luz elétrica e água encanada. Para suprir minhas necessidades básicas tive que engraxar sapatos, vender pão e jornais e trabalhar em chácara, bar e frutaria. Minha infância foi sacrificada, embora saudável e feliz, sendo o pilar maior de um alicerce que contribuiu para a minha futura formação. Orgulho-me muito deste meu passado. Aprendi lições de vida que até hoje me são úteis. Por detrás das dificuldades desta nova vida, ecoavam sempre as palavras de incentivos, de apoio e solidariedade do meu querido avô, Chodó, que, mensalmente, escrevia-me dando a maior força. Cada carta sua era um grande estímulo. Trocamos centenas de correspondências, as quais guardo com muito carinho.

A minha vida escolar começaria assim. Em agosto de 1962, já pré-adolescente, matriculei-me na 1ª séria primária, numa turma de crianças, onde, obviamente, eu era o mais velho. Segui um propósito de recuperar o tempo perdido no Piauí. No segundo mês de aula, constou no meu boletim escolar, o qual guardo até hoje com muito orgulho, um elogio da minha primeira professora brasiliense, Maria da Purificação dos Santos, por ter alcançado o primeiro lugar da classe. Sem falsa modéstia, isso passou a ser rotina no meu currículo escolar. Recuperei um pouco o atraso nos meus estudos, quando fui promovido, por mérito, nos idos de 1964, à 4ª série primária, sem cursar a 3ª série regulamentar. Estava, assim, recuperando o meu tempo perdido. Meu esforço pessoal estava sendo compensado.

Finalmente, em dezembro de 1965, tive a satisfação de ser eleito como orador da 1ª Turma de Formandos do antigo primeiro grau, na Escola Classe do Nazareno. A seguir, submetido ao exame de Admissão, na época um verdadeiro vestibular, consegui o 2º lugar geral na cidade de Sobradinho-DF. Daí, sempre com enormes dificuldades, trabalhando durante o dia e estudando à noite, segui os meus estudos, cursando ininterruptamente, o Ginasial e Científico no Colégio de Sobradinho, Direito no UniCEUB, Pedagogia, com especialização em duas áreas: Magistério e Administração Escolar, na Universidade Católica, e finalmente, Pós-graduação em Políticas Públicas na Universidade de Brasília.

No campo profissional, iniciei minha vida de labor em 1968, prestando serviço, por dois anos, na empresa privada MAC – Manufaturas Auxiliares da Construção S/A. No primeiro ano de trabalho, na função de Ajudante de Marceneiro, descobri que ali não era o meu ramo, como se diz na gíria: “não era a minha praia”. No ano seguinte, fui promovido ao posto de Apontador, desempenhando serviços burocráticos, entre uma centena de trabalhadores, que embora humildes e rudes, ensinaram-me as primeiras lições de vida funcional. Trabalhava durante o dia e estudava à noite, cursando o antigo ginásio. Naquela época, estudava muito e já me preparava para enfrentar os primeiros concursos públicos.

No início de 1970, comecei a colher os primeiros frutos. Sempre com aprovação pelas portas estreitas, embora meritórias dos concursos públicos, trabalhei no Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal – DER-DF, Fundação Educacional do Distrito Federal e Tribunal de Contas da União. Neste último, prestei serviço por trinta anos, exercendo as principais funções administrativas e de assessoria no órgão, tendo sido aposentado como Chefe de Gabinete do Procurador-Geral, Dr. Francisco de Salles Mourão Branco, em agosto de 2003, cargo exercido por mais de dezoito anos ininterruptos.

Por outro lado, no decorrer da minha carreira acadêmica sempre participei de grêmios estudantis, jornais escolares e fui representante de turma em várias ocasiões. Escrevi muitas crônicas, reportagens e contos, alguns esquecidos pelo tempo.

Quando lecionei, por mais de três anos, em escolas públicas do Distrito Federal, no exercício do magistério, dentre outros, criei biblioteca e jornal escolar, promovi concursos de literatura e poesia e incentivei meus alunos a gostarem da leitura e das artes, principalmente da pintura, música, cinema, teatro, esporte, etc.

Particularmente, nunca desprezei o gosto pela literatura. Li e continuo lendo várias obras de grandes autores brasileiros e estrangeiros. A literatura brasileira é rica e vasta. Poderia citar dezenas de bons escritores pátrios do naipe de um Machado de Assis, Érico Veríssimo, José de Alencar, Euclides da Cunha, Castro Alves, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Monteiro Lobato, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Rachel de Queiroz, entre outros.

V
Ao tomar posse como membro desta importante Academia, gostaria de ressaltar que pretendo continuar a exercer o mesmo gosto pela leitura. De antemão, reafirmo que sempre fui e serei um defensor dos meus conterrâneos. Se acaso pairou alguma dúvida sobre o meu interesse de concorrer a uma cadeira na ALERP, tendo em vista o fato de ser residente em Brasília, asseguro que atualmente estou aposentado apenas do Tribunal de Contas da União, onde fui acolhido e prestei relevantes serviços por trinta anos de dedicação e exclusividade. Depois da inatividade, recusei alguns convites para trabalhar em órgãos do governo e escritórios de colegas advogados somente para realizar algumas atividades prazerosas no período restante da minha vida. Entre elas tenho como ocupação e entretenimento, como já disse, o hábito da leitura, da escrita e realização de viagens. Em complementação às minhas atividades rotineiras, pratico esportes, sou estudioso da música popular brasileira, ocupo meu tempo com minha família e amigos e, finalmente, faço parte de algumas diretorias e conselhos de associações e clubes. Este é o meu perfil.

Sempre acompanhei todos os fatos e acontecimentos de interesses do Piauí. Tenho residência própria em Francisco Santos, onde reside meu pai, e visito freqüentemente nossa região. Acompanho, ainda, todos os movimentos literários, culturais e políticos daqui.

Neste momento tão sublime da minha vida, agora coroada com a satisfação de tomar posse neste importante cargo, quero, de público, manifestar o meu desejo de contribuir para com esta Academia produzindo textos literários, com o objetivo de desenvolver a cultura e a arte e promover outras atividades literárias, ajudando-a, no que me for possível, para o engrandecimento desta instituição e da comunidade picoense.

Tenho o propósito de participar e ajudar a nossa Academia a crescer ainda mais, divulgando a nossa cultura, a nossa arte, o nosso folclore e as nossas riquezas, enfim, o que há de melhor para a nossa região. Já possuo um plano de trabalho com algumas sugestões para melhoramento e aperfeiçoamento da ALERP, no que concerne à divulgação do seu trabalho e atribuições. No momento oportuno pretendo apresentar essas sugestões ao presidente e aos membros desta Academia.

Em contrapartida espero que esta Casa traga-nos além da amizade sincera entre os seus membros, também a possibilidade da troca saudável do saber e da cultura no nosso meio, num intercâmbio permanente, proporcionando o crescimento e a melhoria da Instituição, dos acadêmicos e a boa convivência entre os seus participantes.

Na verdade, o nosso Estado ainda engatinha na arte literária em nível nacional. Existe um preconceito muito grande com relação aos escritores nordestinos, salvo algumas exceções. A Casa de Machado de Assis, instituição centenária, acolheu em toda a sua história apenas quatro piauienses. Os ilustres imortais, paradoxalmente falecidos, Carlos Castello Branco, Deolindo Couto, Evandro Lins e Silva e Félix Pacheco. O nosso representante atual é o diplomata Alberto da Costa e Silva, que embora herdeiro do grande Da Costa e Silva nasceu em São Paulo. É muito pequena a representação piauiense na história da Academia Brasileira de Letras, mormente o número de bons escritores existentes no Piauí. Se compararmos o quantitativo dos nossos imortais com os vizinhos Estados do Maranhão, Bahia, Pernambuco e Ceará a desproporcionalidade é muito grande.

Nos dias de hoje, intelectuais do nível de um Assis Brasil, H. Dobal, O.G. do Rêgo de Carvalho, Hardi Filho e Francisco Miguel de Moura; e os de ontem, Lucídio Freitas, Abdias Neves, Mário Faustino, Arimathéa Tito Filho, Alvina Gameiro e Torquato Neto, nada devem a pelo menos uma dezena de consagrados imortais brasileiros.

Mesmo assim, apesar do esquecimento e a discriminação demonstrada à cultura nordestina, por parte do resto do País, pela mídia e até mesmo por muitos conterrâneos, infelizmente isso é verdade, somos responsáveis por este preconceito contra o que é nosso, entretanto, temos que reconhecer que a região de Picos tem produzido um número expressivo de bons escritores, músicos, intelectuais, políticos e profissionais. De passagem, mencionaria, alguns representantes na literatura, do quilate de um Francisco de Sousa Martins, Raimundo José dos Reis, Antônio Coelho Rodrigues, Francisco Miguel de Moura, Gilson Chagas, Álvaro Pacheco e o grande João Nonon de Moura Fontes Ibiapina. Já na música, não posso esquecer: os pioneiros Guanambi Sonial, Gelson Gomes e as bandas Os Leões, Os Rebeldes e Os Meninos do Padre e os mais recentes, banda Dândi, o saudoso Antônio Helder, nossos acadêmicos Odorico Carvalho e Gilson Chagas, Frank Aguiar, entre outros. A política nos trouxe um Manuel de Sousa Martins, Coelho Rodrigues, Helvídio Nunes de Barros, Severo Maria Eulálio, Flávio Portela Marcílio e dezenas de outros vultos conhecidos. Produziu também grandes profissionais liberais e empresários.

VI
Tudo na vida tem uma explicação, tudo na vida tem o seu preço. Temos respostas para qualquer questão. Muitos aqui devem estar se perguntando o porquê da minha eleição nesta Academia. Passei e continuo passando por um grande drama na minha vida. Fui submetido a uma provação acompanhada de momentos de grande dor e sofrimento. Há pouco mais de dois anos perdi minha primogênita, Caroline de Moura, em trágico acidente automobilístico. Era uma jovem de 18 anos de idade, alegre, feliz e com um futuro pela frente, cursando duas faculdades, Relações Internacionais e Direito. Precocemente nos deixou, partindo para uma nova etapa, agora convivendo numa dimensão superior. Ela é a razão maior da minha presença neste evento. Seu livro “Um Anjo Retorna ao Céu”, lançado em dezembro de 2003, em Brasília-DF e em Francisco Santos-PI, teve uma enorme aceitação em Brasília e aqui nesta região, e por intermédio dele cheguei a ser eleito para esta Entidade e para a Academia Açailandense de Letras, no Maranhão.
Diz o nosso confrade Ronaldo Gomes, em sua bela Reflexão sobre o inevitável, a “Morte” que: “Nada é mais natural, mais certo e inevitável. Apesar disso, nada nos aterroriza tanto”. É pura verdade. O grande erro e triste ilusão do ser humano é pensar que os insucessos, acontecimentos desagradáveis, como por exemplo, a morte, a doença, o fracasso e a decepção só acontecem aos outros. Digo mais, a felicidade e a saúde são almas gêmeas que atuam intimamente em nós. São manifestações prazerosas, que agem, uma na mente e outra no corpo. Só percebemos os seus valores quando carecemos delas.

A nossa Música Popular Brasileira é pródiga em produzir belas páginas musicais enfocando os temas felicidade e suas antagônicas, tristeza e saudade. Outrora, o compositor Lupicínio Rodrigues já dizia: “Felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora”. O poeta Fausto Nilo, juntamente com Moraes Moreira produziram a obra Pão e Poesia onde cantam: “Felicidade, é uma cidade pequenina, é uma casinha, é uma colina, qualquer lugar que ilumina, quando a gente quer amar”. A consagrada dupla Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes em sua belíssima A Felicidade resume tudo: “Tristeza não tem fim, Felicidade, sim”. Acredito que a felicidade é momentânea, efêmera.

A nossa família e os amigos da Caroline conviveram e usufruíram belos momentos de felicidade juntamente com ela, durante dezoito anos. Infelizmente não percebemos a plenitude desta felicidade. Por esta dádiva devemos agradecer a Deus. Só agora, na sua ausência, é que sentimos o significado da sua pessoa, a sua importância, a sua alegria o seu carisma, a falta que ela nos faz, a saudade que ela deixou a nós e à sua legião de amigos. À nossa inesquecível filha presto minhas homenagens de gratidão e saudade.

VII
Estão de parabéns os bravos e incansáveis fundadores e participantes desta novel Instituição Literária, a qual saúdo na pessoa do seu presidente Francisco das Chagas de Sousa. Essa Academia ao completar apenas uma década e meia de criação, já inspira confiança e respeito, apresentando um trabalho cultural promissor e admirável em toda a região de Picos, no Piauí e no Brasil. Seu atual presidente tem trabalhado em prol da divulgação das atividades desenvolvidas pela ALERP. Como prova podemos buscar no site do jornal Agência FCS e encontrar 25 matérias relacionadas ao tema.

Nesta oportunidade quero parabenizar a nova colega que acaba de tomar posse, juntamente comigo, acadêmica Francelina Macedo de Holanda Ribeiro, já conhecida minha por sua coluna Cultura Total do jornal Total Informativo, que com certeza virá transmitir e disseminar um pouco da sua sabedoria entre nós da ALERP e para a população picoense.

Auguramos, ainda, que este Sodalício cresça ainda mais nesta região, produzindo, divulgando e transmitindo ao povo de Picos e porque não dizer ao povo piauiense e brasileiro um pouco da vasta cultura literária local, nacional e internacional acompanhada de manifestações artísticas, musicais e folclóricas.

Aproveito o ensejo para os meus agradecimentos finais.Primeiramente, a Deus por este êxito alcançado. Segundo, a Caroline de Moura, nosso Anjo, por sua valiosa contribuição, partícipe que é nesse meu sucesso, ao tomar posse na Cadeira nº 13 desta Agremiação. Ela foi a mentora e certamente muito me ajudou na transmissão de sua linda história resgatada no livro “Um Anjo Retorna ao Céu”, memória póstuma desta pessoa maravilhosa que só nos deixou saudade e boas lembranças.

Um agradecimento especial à minha esposa Ana Maria da Silva Moura e aos meus filhos Erismar de Moura e Clareana de Moura.

Meus agradecimentos também aos ilustres confrades que votaram em meu nome, confiando numa possível vitória, em especial ao amigo acadêmico Gilson Chagas, responsável pela minha candidatura e batalhador junto aos acadêmicos pela sua aceitação. Agradeço também à acadêmica Maria de Jesus Sousa Martins que, em defesa do meu nome e da minha obra, com o seu coração bondoso, encontrara alguma semelhança do meu estilo literário à obra do grande poeta Fagundes Varela. Fico lisonjeado com a sua observação, dizendo que sou apenas um grande admirador de Fagundes Varela. Este carioca, nascido em 1841 e falecido em 1875, com apenas 34 anos de idade, foi representante da escola romântica, que passou por uma vida de sofrimentos e dor, causada principalmente pela perda prematura do seu primogênito, tão bem narrada nos belos versos de “Cânticos do Calvário”, poema dedicado ao seu saudoso filho. A semelhança é só essa.

Por último, a todos os senhores e senhoras aqui presentes que vieram abrilhantar esta solenidade agradeço a paciência e as suas valiosas presenças.
Para encerrar este prestimoso evento gostaria de deixar gravado na lembrança de cada um de nós as palavras do poeta Da Costa e Silva, nosso representante maior da literatura piauiense, na sua obra Pandora, reproduzidos nos belíssimos versos abaixo:

V
PALIMPSESTO

Se a vida sói ser isto e se resume
Nestes cuidados vários e constantes,
Que mais se agravam, quanto mais distantes
Estamos nós do bem que se presume;

Se tudo sobre a terra se consume,
Embora torne a ser o que era dantes;
E a vida não é mais que vãos instantes
Que se extinguem num ai ou num queixume,

Se é tudo, enfim, esta enganosa lida
De incertos dias à mercê da sorte
Que a natureza leva de vencida;

Só logra ser feliz, e sábio, e forte,
O que alia às doçuras desta vida
A crença de ainda ser além da morte.

Muito obrigado!
Tenham todos uma ótima noite.
______________
*João Erismá de Moura, funcionário publico aposentado, professor, cronista, com dois livros publicados ( "Um Anjo Retorna ao Céu", 2003, e "Essas Mulheres Maravilhosas", 2006) mora em Brasilília - DF.

2 comentários:

Emanuel De Aquino disse...

Arre, Santo Antônio!!!
Isso é de doer.
Aceite minhas desculpas, Francisco Miguel. Mas não pude me conter.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
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