terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O PÓ DAS ESTRELAS


Francisco Miguel de Moura*

São inúmeros os padres que estudaram o Universo. Alguns são grandes descobridores. Frei Beto, teólogo, artista, filósofo, é também estudioso da física do Universo. Em seu livro “A Obra do Artista”, Ed. Ática, S. Paulo, 2002, há uma parte com o título que parece uma constatação: “Somos todos feitos literalmente do pó das estrelas”. O livro é bom de se ler e ótimo como esclarecimento do nosso lugar e importância no universo da Via Láctea. Talvez sejamos os únicos seres vivos que pensam o interior e o exteriorizam, que sofrem, sentem e se extasiam ante a beleza. Por isto nos damos grande importância.

Mas quero chegar a outro caminho, o de cada dia, o mais humano. Diga-se que não é grande coisa, no mundo social, ser pó de estrelas – mesmo as “globais” ou as da política brasileira, especialmente destas. A importância de cada um não pode ser medida pelos padrões da mídia. Lembremos aquela famosa frase da idade de ouro realista: “Ninguém é importante para o seu criado de quarto”.

O ser e o aparecer são tão distantes quanto nós da nossa estrela – o sol – e isto ninguém percebe nesta espetacular era da imagem. Ela quer nos impingir que somos o que parecemos. O que somos pode ser aferido com o porteiro do edifício, ou o empregado que toma conta do nosso sítio, ou mesmo o chofer que nos leva aonde desejamos. Quem mais depõe verdadeiramente a respeito de seus patrões são os empregados. Em matéria de investigação de crimes, isto é mais do que real, visto que eles conhecem as coisas mais elementares do viver diário, as fraquezas, artifícios, manhas, mentiras, falsidades do amor e a gula do dinheiro e dos bens. Assim, eles levam as autoridades aos mais escondidos crimes, à descoberta do mais sagaz criminoso.

Como poeira das estrelas da política ou da mídia, no referente aos artistas de novela, cinema e tevê, não há nada que se compare ao que somos. Melhor cair na real, pensar bem o nosso ser e o nosso parecer. E o que é que somos? “Poeira de estrelas” lembra nossa herança nobre, mas conformemo-nos com a realidade. Brancos, pretos, ricos, pobres, bons e maus, todos somos filhos da natureza, e o natural é bem pouco modificado pelas circunstâncias de família, escola, meio social e ocupação. À natureza é que mais devemos. Sábio é aquele que estuda e reconhece o seu poder, a sua força e a sua necessidade. Religiões, filosofias, ciências tudo são criações da razão. Não devemos esquecer a natureza, é ela quem nos faz nascer do amor – ou não; quem nos faz morrer por amor – ou não.

O resto pode não ser “o silencio”, mas não o sabemos. Daí que a religião mais verdadeira, mais de acordo com o homem seria o agnosticismo.
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Francisco Miguel de Moura - Escritor brasileiro. Membro da Academia Piauiense de Letras.

2 comentários:

Zayi Hernández disse...

eu goste muito de isso que vocé escreve...eu acho que e muito lindo y verdadero...eu no falo muito bem portugués mais comprendi tudo quanto vocé faló y goste muito.

Anônimo disse...
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