quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

DESDETTH NUNES, O GARRINCHA – ACADÊMICO


Francisco Miguel de Moura*


Assisti à posse de Deusdeth Nunes (o Garrincha), na Academia de Letras do Vale do Longá, no dia 18-1-2008, Casa da Cultura, cadeira n° 34, patroneada por Clidenor de Freitas Santos. Ambiente solene, mas descontraído, onde de tudo houve um pouco, além dos discursos acadêmicos do Presidente da ALVAL, Manoel Monte Filho, e da recepcionista, Profa. Lisete Napoleão Medeiros, ambos excelentes, especialmente o desta, discorrendo sobre a vida, o tempo e a obra de Garricha e de Clidenor. Discursos sérios. As brincadeiras vieram com a saudação aos pares pelo novel acadêmico, mas de acordo com a “praxe acadêmica!...” como diria o humorista Juca Chaves num dos seus shows. Deusdeth Nunes é meu colega do Banco do Brasil, um camarada muito legal e que não deixa ninguém triste onde está. No seu depoimento, entre as muitas e boas qualidades do Garrincha, seu colega jornalista Zózimo Tavares não o poupa e acrescenta: “é pão duro, mão de vaca, mais do que o Danilo Damásio”. Eu diria a Zózimo que nem sei se pão-durismo chega a ser um defeito; para nós, bancários, é qualidade.
Como a maioria dos humoristas, artistas e criadores, Garrincha é um sentimental, um saudosista e, sendo assim, conduz consigo a mesma tristeza interna do palhaço. Haja vista que oferece, no fecho de sua oração, toda a glória daquela homenagem acadêmica a uma pessoa que já não está ali e que nós adivinhamos tratar-se de sua segunda esposa, D. Regina. Sabido, deixou para o final, se não ia chorar, o que não seria de bom tom. Na hora do autógrafo, pois depois da solenidade, lançava seu livro de crônica, “Teresina, seus amores”, cheguei perto para cumprimentá-lo e dizer-lhe que gostei da sua simplicidade e coloco-a acima dos outros bons predicados, coisa que já mostrou durante todo esse tempão que vem escrevendo sobre futebol e futebolista, onde o povo fala alto, e também como político. De seu livro, sua nova prosa, não direi que se tornou um clássico nem imita os intelectuais e acadêmicos; seria diminuí-lo. Ao contrário, continua popular, engraçado, com o velho humor do nosso tempo de colega no Banco do Brasil. E aqui vai uma frase por mim cunhada na internet, site franciscomigueldemoura.blogspot.com – “humor é humanismo e beleza trabalhando juntos contra a piedade e o desamor.” O seu é assim: forte, franco, rápido e certeiro, de menino que sabe onde tem as ventas.
Finalizo com nota dez para a ALVAL – Academia de Letras do Vale do Longá, que tem primado pelas praxes acadêmicas, em suas reuniões, observando que seus membros comparecem assiduamente e com orgulho de pertencer à instituição, fundada em 21/9/1978, logo já a completar 30 anos existência – um bom exemplo de maturidade. É uma das Academias regionais que muito contribuem para o alevantamento cultural do nosso Estado e da região que cobre. Se há ainda quem torça o nariz para essas academias regionais, eu não estou entre eles. Bato palmas para grandes e pequenos quando merecem. Foi o que fiz naquela noite de Deusdeth Nunes e da ALVAL, com muito gosto, sentindo-me em casa, embora não faça parte dos quadros daquele sodalício. Vestidos nos seus mantos, seus membros provam a vaidade com que o fazem. Afinal de contas, diz o Eclesiastes: “Vanitas vanitatis omnia vanitas”. Mas há vaidades e vaidades. Entre as que são naturais, catalogo aquelas que trazem benefícios aos homens, como bondade, civilidade e arte, contribuindo também, individualmente, para a conservação ou o aumento da auto-estima. As demais são vaidades vãs.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina, Piauí.

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