segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A VIOLÊNCIA FÍSICA E SOCIAL (1)

A VIOLÊNCIA FÍSICA E SOCIAL (1)

Francisco Miguel de Moura – Membro da Academia Piauiense de Letras

A natureza, segundo entende a ciência dos homens, possui suas próprias leis, suas medidas. Mas a sociedade humana tem por medida o próprio homem. Duas forças que não devem ser desrespeitadas sob pena de desequilíbrio: a natureza e a sociedade. Tratamos, hoje, apenas do social. Na prática, o mundo atual nos ordena, de manhã à noite, a rapidez, a velocidade. Nosso dia-a-dia é tomar o café correndo, almoçar em pé, andando, e, no trabalho, fazer o serviço com a máxima economia de tempo, pois a produção deve crescer sempre. Mercadorias, mercadorias, dinheiro, poder.
- Quem sabe, você poderá receber o título de funcionário-padrão – diz o patrão ao mais diligente dos seus empregados.
Qual a importância de um pedaço de papel pendurado na parede, para ser visto por poucos ou por ninguém, ou guardado numa pasta de documentos para as traças? A violência contra seu estômago, seu cérebro, seu coração, a ordem infeliz de produzir mais já fez e continuará fazendo. Torna-se num hábito. E, como diz o filósofo, “o hábito é uma segunda natureza”. Natureza social violentada, velocidade e violência. Um pequeno exemplo, simples e rápido, o paralelo matéria/terra: – Nosso planeta gira, seu modo de ser e existir é girar, porém, se entra numa roda-viva de movimento desordenado e superior ao natural, tudo em seu redor é violentado, inclusive o homem, os animais e as plantas que ele contém. Cada um de nós somos um planeta como a terra. Giramos em torno de nós, da nossa saúde, do nosso pensamento, do nosso espírito. Portanto, para que não violentemos os outros temos de não nos violentarmos a nós mesmo, material, moral e espiritualmente. Não se atinge velocidade maior que a natural, sem prejuízo. E cada pessoa tem seu ritmo próprio a ser respeitado.
Inconscientes, banqueiros, capitães de indústria, capitalistas dizem que o capitalismo não possui ideologia. Contesto: a da velocidade (portanto, a da violência) é sua ideologia, com a finalidade de ganhar mais, acumular. E quem possui mais do que o necessário gasta desnecessariamente, comete mais violências. Qual a necessidade da guerra? Do tráfico de drogas? Do crime, em geral? Associo a velocidade à violência, e não gratuitamente. A sabedoria popular é tradição, não deve ser desprezada. Conhecem aquele dito de que “quem se avexa toma flecha”? E é por isto que, quando alguém manda outrem fazer um serviço muito rápido, diz: – “Vai, vai rápido como quem rouba (ou furta)”.
Os criminosos são ou aprendem a ser rápidos em suas ações violentadoras, por necessidade. Mais um motivo para associar velocidade (natural) à violência (social).

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