A
DEUSA NUA
Francisco
Miguel de Moura*
Vi uma deusa solitária e nua,
a correr pelas praias. Seu segredo
era o silêncio. Eu quase senti medo
daquela cor de prata, cor de lua.
Corri para apanhá-la, ainda era cedo!
Com vergonha de mim, vindo da rua
tão faminto e cansado. E ela recua...
“Se deusa for”, gritei, “vou ficar quedo”.
E ela correu de novo... E, atrás, perdido,
desesperado, eu, louco e comovido,
queria o mel dos lábios cor de beijos.
Cego e surdo, ante aquela formosura,
seio pulsante, o’ estranha criatura...
Caí morrendo a morte dos desejos.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

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