sexta-feira, 24 de outubro de 2025

 


A DEUSA NUA

 

          Francisco Miguel de Moura*

 

 

Vi uma deusa solitária e nua,

a correr pelas praias. Seu segredo

era o silêncio. Eu quase senti medo

daquela cor de prata, cor de lua.

 

Corri para apanhá-la, ainda era cedo!

Com vergonha de mim, vindo da rua

tão faminto e cansado. E ela recua...

“Se deusa for”, gritei, “vou ficar quedo”.

 

E ela correu de novo... E, atrás, perdido,

desesperado, eu, louco e comovido,

queria o mel dos lábios cor de beijos.

 

Cego e surdo, ante aquela formosura,

seio pulsante, o’ estranha criatura... 

Caí morrendo a morte dos desejos.

 

 

______________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

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