sexta-feira, 6 de dezembro de 2024


 

A COR E AS COISAS

       Francisco Miguel de Moura*


Das cores do amanhecer

nascem crepúsculos.

As coisas não têm cor,

 têm as cores de seus donos,

dos olhos que cobiçam,

dos vendeiros e ladrões

e dos pobres enganados.

Coisas brilham na agulha,

se a mulher enfia a linha

sem perder o bordado.

A cor das cores tem limites

nas paixões da mor idade.

As cores se limitam no poder

de transformar ou desfazer,

os que chegam, os que vão

por caminhos e emboscadas.

Que dizer dos viventes de ruas,

nos delírios e nos escapes?

A cor das coisas é imperfeita

pois se troca e é trocada

por dinheiro ou quase nada.

As cores da coisa são nulas

e se negam no engano das vaidades.


* Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

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