D E S E S P E R O
Francisco
Miguel de Moura*
Ao poeta Fernando Pessoa
E também para Janice Adja
Deixem-me respirar completamente,
Depois de sorver a vida e seus
finitos,
Deixem-me vagar a passos,
vulgarmente,
Por todas as cidades, vilas e
distritos.
Deixo a vocês, todos vocês canalhas,
Lixo, gosma, sujos, sarros e
detritos
Do que vivi, sonhei, amei
perdidamente.
Não quero ver meus nomes mal
escritos,
Nem palavras ouvir que sejam
gritos.
Deixem-me voar, saltando e não
bonito,
Vão-se todos da praia onde eu me
espraio
Ouvindo a música dos surdos e a palavra
Dos proscritos.
Grito de dor, de medo... Ou silício
de paz?
Irei soltar tribalmente onde
ninguém me ouça,
Pois juro que ao universo pouco
ligo
Como quem é capaz de ouvir besouros
Roendo o teto, sem perder o juízo.
A eternidade inteira, inteiramente
nu,
Na escuridão que é luz dos homens
mansos,
Ficarei completamente ignorante (e
ignorado)
do presente, do passado e do
futuro.
_Nota: Este poema foi, originalmente, publicado no jornal "O DIA" ._________________________
*Francisco
Miguel de Moura – poeta brasileiro. E-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com
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