quinta-feira, 7 de novembro de 2024



 D E S E S P E R O  

            Francisco Miguel de Moura*

            

                                             Ao poeta Fernando Pessoa

                                                  E também para Janice Adja

 

Deixem-me respirar completamente,

Depois de sorver a vida e seus finitos,

Deixem-me vagar a passos, vulgarmente,

Por todas as cidades, vilas e distritos.

 

Deixo a vocês, todos vocês canalhas,

Lixo, gosma, sujos, sarros e detritos

Do que vivi, sonhei, amei perdidamente.

 

Não quero ver meus nomes mal escritos,

Nem palavras ouvir que sejam gritos.

 

Deixem-me voar, saltando e não bonito,

Vão-se todos da praia onde eu me espraio

Ouvindo a música dos surdos e a palavra

Dos proscritos.

 

Grito de dor, de medo... Ou silício de paz?

Irei soltar tribalmente onde ninguém me ouça,

Pois juro que ao universo pouco ligo

Como quem é capaz de ouvir besouros

Roendo o teto, sem perder o juízo.

 

A eternidade inteira, inteiramente nu,

Na escuridão que é luz dos homens mansos,

Ficarei completamente ignorante (e ignorado)

do presente, do passado e do futuro.

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_Nota: Este poema foi, originalmente, publicado no jornal "O DIA" ._________________________

 *Francisco Miguel de Moura – poeta brasileiro. E-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com

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