CHEIROS DE TERESINA
Francisco Miguel de Moura, poeta
piauiense.
Mora em Teresina-PI
Teresina,
menina, cajuína.
Teresina
com rima ou sem rima, você é minha riqueza.
Seu
perfume desperta a mente para o amor, para os amores. Seja de rosa, cravo,
jasmim ou de manjericão, seja de mato agreste, seja de planta plantada nos
jardins e ruas da cidade. Mesmo os
piores cheiros nos levam a pensar em algo que conhecemos, em acontecimentos que
nos passaram, em músicas que foram ouvidas, em lugares que foram gravados na
memória.
Sinto
os cheiros de minha cidade: mato verde na época chuvosa e até na primavera
quando os pau-d’arcos “fuloram” em branco, roxo e amarelo. Não há visão melhor
do que essa, nem cheiro mais agradável do que o cheiro dos ventos gerais de
junho e julho, estendendo-se até agosto, especialmente quando se sobe o rio
Parnaíba de canoa ou o atravessa para Timon. Mas também quando deitamos na
varanda de nossas casas, diante dos quintais e jardins. Ainda existem jardins e
quintais verdes nesta Cidade Verde. É o milagre do amor de seus filhos.
Como
nos tempos das rodas da Praça Pedro II, com saudade sinto o cheiro das meninas,
moçoilas, das moças, enfim das mulheres passeando no Teresina Shopping e no
“Riverside”, com os mais variados risos. E me abebero da poesia do hoje,
esqueço as tristezas e contrariedades do ontem, e começo a sentir-me feliz por
viver. Porque perfumes de mulher, seja namorada ou amiga, conhecida ou
desconhecida, se confundem com os de Teresina. Teresina foi menina, hoje
mulher. E como passaram os anos, sua feição como cidade transforma-se em
metrópole, com suas virtudes e seus defeitos. Restam ainda uns restos do
centro, da Frei Serafim e de uns poucos bairros como a Piçarra e a Vermelha.
Mesmo
assim desfigurada, gosto de você, onde tenho morada desde 1964. Mas conhecia de
antes. Do tempo do seu centenário, quando cantei em versos. E de antes ainda,
de passeio e de viagens a serviço. Ai, Teresina, do tempo em que se podia
sentar na calçada até meia-noite, jogar conversa fora com os vizinhos e
visitas, pegando os ventinhos das 9 da noite, que correm da serra e do mar
distante! Ventos que Fontes Ibiapina
apelidava de o “parnaibano”. Como era bom, até bem pouco tempo, tomar sorvete
na Avenida Frei Serafim ou na Praça Pedro II, depois de assistir ao filme do
Cine Royal ou uma peça no Teatro 4 de Setembro. Gosto de Teresina como quem
gosta de sorvete de goiaba, abóbora, bacuri, caju e manga, de todas as frutas
que nos enfeitam, nutrem e engordam, enfim. Gosto da cajuína, hoje registrada
como bebida genuinamente do Piauí. Gosto de Caetano Veloso porque fez aquela canção
que ficou famosa no mundo inteiro, oferecida a Torquato Neto, o poeta desta
cidade, pois nasceu e viveu aqui menino e parte da juventude, por isto
cantou-a, cantou-a e se encantou.
São
tantos os cheiros que trescalam e nos enchem as narinas e os ouvidos que
ficamos tontos. Assim, podemos beijar e
abraçar os nossos e os que chegam. Aqui não há ninguém de fora, todos os que
ficam são nossos. Vejam o poeta Hardi Filho, que veio do Ceará, hoje um dos piauienses
mais legítimos; o cronista e humorista Deusdeth Nunes (Garrincha), cearense que
certo dia teve a tentação de voltar para Fortaleza e arrependeu-se. Logo estava
de volta pra nossa santa Teresina. Há
muitos cearenses que ficam aqui por adoção.
São os feitiços que somente as mulheres têm. Toda mulher tem seus
feitiços. Teresina tem seus mistérios, seus encantos. Quem a conhece bem? Não
posso dizer que a conheço, posso afirmar, sim, que me perdi um dia no Parque
Piauí e, para me localizar e encontrar o que estava procurando, tive que me
valer do celular e pedir a minha secretária o endereço e o telefone da pessoa.
Teresina é grande demais.
E é certo que aqui faz calor, especialmente nos b-r-o =
brós. Mas, quando alguém se queixa do clima, costumo dizer:
– Vocês
já imaginaram como seria uma Teresina menos quente? Estaria cheia de paulistas e cariocas,
amazonenses e goianos, mineiros e gaúchos, trazendo outros cheiros.
Prefiro
mil vezes os perfumes já conhecidos: Não terei o trabalho de ficar buscando que
tipo e que flor está me trazendo o ar.
-
Vem de onde?
- Não
vem, é daqui mesmo. É nosso! – Talvez tenha essa resposta.
- Bairrista?
-
Bairrista, não, dobre a língua! Sou cidadão teresinense por minha própria conta
e risco.
- Que risco?
-
Nenhum. A não ser o da maledicência dos que não são.
Viva, Teresina, no seu aniversário,
neste e nos que hão de vir!
Teresina – Piauí – Brasil, 16/08/2024
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