IDÉIAS, PALAVRAS E AÇÕES
Francisco
Miguel de Moura*
O homem é o
animal faber (faz, fabrica), daí porque a ociosidade não condiz com a
chamada “natureza humana”, por falta de expressão melhor. Mas, para realizar algo é necessário
planejar. Planeja-se com idéias, pensamentos, imagens, memória, e com a
linguagem de traços (tão matemática) e com a escrita de sons, palavras e
frases. Daqui nascem idéias,
pensamentos, realizações, atos. Ou, ao contrário, dos atos, fatos, pensamentos
e idéias é que nascem as palavras? Não importa a ordem, é uma coisa menor, pois
que tudo está ligado, interligado, intraligado.
Tomem-se as palavras
SENSO, SENSUALIDADE, SENTIDO. São parecidas, parece terem raiz comum, mas com
significação diferente, própria e sentido diverso, dependente do contexto. Elas
nos remetem a vários mundos, várias conotações.
Penso, neste
instante, não no sentido, mas na significação dos versos de Drummond: “As
coisas tangíveis / tornam-se insensíveis? à palma da mão. // Mas as coisas
findas, / muito mais que lindas, / essas ficarão”.
Ficarão, por
quê? São lindas, sensíveis, mas não são eternas – e ficarão assim mesmo. E se a
gente pensasse que o poeta ter-se-ia referido às coisas acabadas e não às
coisas que terminam (findam)?
Mas,
não. O discurso, quando nos remete ao par finito versus infinito,
que – depois do econômico (leiam-se sobrevivência) – é o drama
humano maior, justo porque é o da capacidade humana de pensar a si mesmo e o
seu destino, é muito mais poesia que o prático e positivo da vida comum. A
poesia não é objeto, por mais que tentem os concretistas. É apenas meio de
atingir algo mais elevado do que nós através do poema-objeto, aquilo que os
poetas, intelectuais e filósofos têm tentado definir, mas, até hoje, não
conseguiram. Sem considerar a
origem e as derivações operadas pelos falantes (ou escreventes), tomo a palavra
SENSUAL (senso ou sentimento?) como centro deste comentário porque também
centro do mundo contemporâneo, senão também do passado. Sem a SENSUALIDADE, que
é o nome do conjunto de processos humanos que tornam o mundo mais gostoso, mais
vivo e mais colorido, não haveria nem criação nem arte. Tudo seria amargura,
dor, morte. A festa seria um “vale de lágrimas”, a alegria, um prenúncio de que
tudo terminaria ali, nem teria mais esperança de um novo mundo, uma nova vida.
O SENSO crítico desapareceria da face da terra e o planeta
ficaria sem lógica, sem racionalidade, sem SENTIDO. É a SENSUALIDADE quem
avassala todos os setores da vida humana: do mercado ao hospital, dos caminhos
aos presídios, das igrejas aos cemitérios. Abrange mercadoria, educação,
diversão, família, política, poder, sexo e amor. Tudo, enfim. Está na alma de
cada homem, de cada mulher, de cada criança – e cabe aos humanos controlarem o
instinto da vida (Eros) contra o instinto da morte (Tânatos). Com
estes, o mundo faz SENTIDO; sem eles não há arte nem poder, nem poesia, nem
namoro, nem amor. Sem eles, reinará o nada absoluto.
Não
nos condenemos por isto.
Comentando
alguma prática social, pra sair da seca teoria, vemos na atualidade que a
mulher conquistou sua equiparação com o homem e já existe uma certa igualdade
de sentimentos. Até onde é possível. Porque a forma de pensar da mulher é uma;
a do homem, é outra. O homem é racional, usa a lógica ao extremo, idealizando o
distante, o inexistente e o que pode e deve ser feito; já a mulher livra-se do
pensamento a toda hora e sempre enveredou pela utilização da parte mais
sensível, do terra-a-terra, do momento.
Eis uma razão por que as mulheres
jamais conquistaram o poder como o homem. Elas mandam limitadamente. Os homens,
por outro lado, não alcançam as miudezas que a mulher toma para si e seus
afazeres, sua predileção. O homem pensa grande (por cima), como líder; a mulher
também pensa grande, mas como relacionamento do dia-a-dia, do hora-a-hora.
Mulher fílósofa? Homem dono de casa?
Exceções.
Entretanto
as semelhanças continuarão e com elas, as trocas. Hoje o homem se tornou pai
amoroso e dedicado. A mulher, em parte, tem-se tornado durona, valente,
afastando-se mais e mais do sentimentalismo, que era quase somente delas. Não
há mais SENTIDO a separação entre amor maternal e amor paternal. Ambos são um:
o amor dos pais para com os filhos. Quem
há poucas décadas não se admirava quando um senhor conduzia seu filho no braço,
fazendo carinho? Hoje é comum. O pai durão é produto em extinção. Esse aspecto social, porque toca diretamente
os sexos, me causa certo medo. Que
futuro a sociedade nos reserva? Em pouco
tempo a mulher cresceu em altitude econômica e independência, a ponto de
acompanhar o homem. Não obstante este tenha gastado toda a história da
civilização para chegar aonde chegou, agora parece refluir. Descoberto que é o
sexo frágil biologicamente, pela própria ciência, cada vez mais transfere o
mando às mulheres e se torna terno e carinhoso, numa espécie de compensação.
Seria bom? Seria mau?
Nisto
tudo, o que assusta é o ressurgimento de uma terceira via sexual, portanto, a
mexer na atual forma de SENSUALIDADE – o homossexualismo, sempre existente, mas
agora tão festejado pela mídia, que até parece ser já a classe sexual
dominante.
Concluindo
nossas ponderações, tudo parece resolver-se através da sexualidade, ou seja,
pelas diferenças, num contexto, portanto, de SENSUALIDADE, bom SENSO e SENTIDO
para o mundo e nós humanos. Não vejo como pensar se as semelhanças entre os
sexos trarão progresso no amor e na vida para o futuro da humanidade.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina-_PI,
capital do Piauí.
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