sexta-feira, 21 de abril de 2023

 


DE AREIA A LOBO

 

            Francisco Miguel de Moura*

 

De cada grão de areia

fiz versos, verbos sãos.

 Palavra não faltou

nem engoli meu ar.

Sem a intransigência

do lobo lá da estepe,

correndo contra a fome,

sem caça a se ferir

 unha na pele em vão

para beber-se a si

e a sangrar, a sangrar

qual um rio torto e seco

duro de dor, sem mar.

Como o rio que seca

e bebe areia e vento,

sem chuva, sem areia

morrendo pedra e dor

esbravejando o vento

avistando a praia

onde não vai deitar.

Esse lobo sou eu,

Ferido e a me calar.

__________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

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