quarta-feira, 20 de julho de 2022

 


CHEIROS DISTANTES

 

                      Francisco Miguel de Moura*

 

O cheiro dos festejos, roupas coloridas,

Das meninas correndo para a igreja,

Cabelos longos e olhos tão ligeiros,

Que a gula me saliva quando lembro.

 

E o cheiro de linguiças da cozinha,

E sabor do chouriço, em belos dias

Da casa de meu avô, de minha avó,

Tão distantes de mim...Agora vivo.

 

Do café da manhã que a mãe passava

sem doce, a rapadura lhe sumira

para o estômago faminto do menino.

 

Da flor de catingueira para o estômago

e o intestino, servida ao chá da noite:

Manhã sem caganeira, o avô sem dores...

Aquele, sim, um cheiro já esquecido.

 

E o cheiro agreste, os frutos do imbuzeiro,

Pelas chuvas de dezembro até janeiro,

Quando a fruta e as folhas me serviam.

 

E do “paudarco” em junho/julho/agosto,

Pisar seu ouro me agradavam os pés,

E para os olhos, o chão era um tesouro.

 

Cheiros de mãe e a cor da melancia,

Vermelha, o gosto para dar aos filhos...

 

São perfumes da infância tão distante,

Que voltam para adoçar as nossa vidas.

 

________________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

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