quarta-feira, 8 de abril de 2020

O BRANCO NO PRETO

Francisco Miguel de Moura*



Música e cor, sinais de Deus:
– harmonia, aroma, desespero, silêncio.
A música é um belo panorama que se ouve
com todos os sentidos e cria o impossível.
Elas estão comigo, no meu jardim,
à noite, vendo as estrelas. Podemos conversar,
Amo-as. Entender, não.
E não entendo porque não sei cantar.
Oh! já sou cantado e encantado em poesia,
amem, amemos, amém.
A lua é minha irmã à noite, rezo à sua imagem;
o sol, durante o dia, miro nos seus raios,
me abebero do calor, aspiro a luz.
Natureza, música dos sons,
mistura das ruas: – carros, motos, bicicletas,
ruído de abertura de um portão,  passos de gente:
tudo isto abre meu coração.
As flores do meu jardim, brancas, amarelas vermelhas,
cor de rosa, de todas as cores do arco-íris e mais
os tons de verde, marrom, azul e cinza...
Cor dos olhos, das palavras, dos rios e dos rochedos
no mar, dos homens, das lágrimas e dores.

Mas hoje quero cantar este jardim
que acalma minha noite:
– Feche os olhos, amigo, e verás lindas nuances
do preto: vida e movimento;
São as cores do outro lado da luz e dos besouros.
Quero cantar (e me encantar também)
com as mimosas azuis que vieram do campo,
que se alegram, como eu, serenas, noturnas,
esquecidas neste canto do mundo.
_________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, mora em Teresina, Piauí-BR.



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