Francisco Miguel de Moura
(Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras)
(Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras)
A notícia do falecimento, no dia 22 de
fevereiro deste ano de 2019, do amigo e confrade Jesualdo Cavalcanti, nesta Capital,
causou-me espanto, mesmo sabendo que ele lutava contra um câncer intestinal. Figura ímpar da Cultura do Piauí e, por que
não dizer, do Brasil, pela amplitude de seu grande destaque como Deputado
Federal, na Constituição Cidadã (1988) e principalmente, quando foi nomeado
Secretário de Cultura e depois Presidente da Fundação de Cultura, Desportos e
Turismo do Piauí. Em todas as suas gestões contribuiu sobremaneira para o engrandecimento
do Piauí, quer unindo Cultura e Esporte, quer promovendo continuidade ao “Projeto
Petrônio Portela”, na edição de inúmeras obras de piauienses ilustres não só no
Estado, como de resto, no Brasil, como nunca houvera acontecido.
Mas a carreira política de Jesualdo Cavalcanti começa
quando foi eleito vereador de Teresina (PI), em 1962, liderando a bancada do PTB, tendo sido cassado pelo movimento militar
de 1964, e perseguido e preso por ser a favor da democracia, do voto e da
liberdade, tudo aquilo que a Ditadura de 1964
- por ser ditadura – não queria, naquele momento cruciante por que
passava o Brasil. E é preciso também reconhecer que a sua atuação pública vinha
desde o tempo de estudante, algumas vezes preso e perseguido como acontecia com
a mocidade, naquela época. Sua contínua
atuação foi quase toda no setor da cultura – uma vocação para divulgar e
promover as artes. Já no fim da carreira, é eleito Conselheiro do Tribunal de
Contas do Estado, cargo que exerceu até sua aposentadoria. Mesmo aposentado,
volta a atuar como Prefeito Municipal de Corrente (PI), eleito democraticamente,
onde fez ótima administração, sem esquecer de levar todo incentivo à cultura de
modo geral, quer através livros, jornais, revistas e ações outras, quer criando
e reativando bibliotecas. Ele viveu e
contribuiu durante toda a época do Piauí desenvolvimentista, com Alberto Silva
como governador, e depois com outros, quando foi recriada a frase de “vá
ao Piauí, antes que você se acabe”, em lugar de outra que nos menosprezava.
A divulgação e progresso do Piauí foi efetivamente construída.
Jesualdo Cavalcanti exerceu o cargo de Prefeito Municipal
de Corrente, mandato de 2013 a 2016, para o qual foi eleito, deixando seu rasto
de conhecimento e construção de nova forma de atuar. Assim repetia a atuação do
que fora como Deputado Estadual (duas legislaturas) e Deputado Federal. Nasceu
em Corrente do Piauí (PI), aos 18 de fevereiro de 1940, filho de Sebastião de
Sousa Barros e Iracema Cavalcanti Barros, casado com a Profª. Maria do Socorro
Rocha Cavalcanti Barros, de cujo consórcio lhe vieram três filhos: Jesualdo
Filho (engenheiro), Juliana (médica) e Mariana (advogada e juíza federal).
Aqui lembro, por ser pertinente, o comprometimento de
Jesualdo Cavalcanti com a cultura e com os agentes culturais. Não me lembro de data, mas foi lá pela década de 1980, quando resolvi mudar-me
para Salvador (BA): Ele, em nome da Fundação Cultural do Piauí, promoveu um almoço
de despedida, embora que simples. Na
ocasião, pedia-me para desistir, pois não acreditava que voltasse como prometi.
Minha ida para a Bahia era apenas para acompanhar a iniciação dos meus filhos
na Universidade. Nessa época já se falava na criação do Estado do Gurguéia, e
eu, conversando com ele, dizia:
- “Votarei a favor da criação do Estado de Gurgueia, desde
que você, amigo Jesualdo, seja o primeiro presidente”.
Não faz muito tempo que ele entrou para a Academia
Piauiense de Letras, ocupando a cadeira nº 3, fato que para nós foi uma alegria
enorme. Creio que foi eleito no primeiro turno, com maioria confortável. Como historiador, destacou-se pela pesquisa
profunda e honesta, com bom torneio de linguagem. Lembramos, entre muitas
outras, “Tempo de Cultura”
(1985), “Estado do Gurgueia e outros temas” (1995), “Memória dos Confins”
(20054 e 2007- 1ª e 2ª edição) e “Tempo de Contar” (2006).
Paremos por aqui, não tivemos a pretensão de fazer sua
biografia, não cabe num simples artigo ou crônica jornal: Jesualdo Cavalcanti,
figura ímpar da Cultura Piauiense, merece muito mais. Merece livros. É uma pena
que tenha falecido com 79 anos, quando a idade dos intelectuais tem passado da
casa dos 90. Mas certamente Deus o
acolherá no céu, com uma dúzia de anjos pare recebê-lo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário