quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

JESUALDO CAVALCANTI – FIGURA ÍMPAR NA CULTURA


Francisco Miguel de Moura
(Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras)
             

         A notícia do falecimento, no dia 22 de fevereiro deste ano de 2019, do amigo e confrade Jesualdo Cavalcanti, nesta Capital, causou-me espanto, mesmo sabendo que ele lutava contra um câncer intestinal.  Figura ímpar da Cultura do Piauí e, por que não dizer, do Brasil, pela amplitude de seu grande destaque como Deputado Federal, na Constituição Cidadã (1988) e principalmente, quando foi nomeado Secretário de Cultura e depois Presidente da Fundação de Cultura, Desportos e Turismo do Piauí. Em todas as suas gestões contribuiu sobremaneira para o engrandecimento do Piauí, quer unindo Cultura e Esporte, quer promovendo continuidade ao “Projeto Petrônio Portela”, na edição de inúmeras obras de piauienses ilustres não só no Estado, como de resto, no Brasil, como nunca houvera acontecido.
          Mas a carreira política de Jesualdo Cavalcanti começa quando foi eleito vereador de Teresina (PI), em 1962, liderando a bancada do  PTB, tendo sido cassado pelo movimento militar de 1964, e perseguido e preso por ser a favor da democracia, do voto e da liberdade, tudo aquilo que a Ditadura de 1964  - por ser ditadura – não queria, naquele momento cruciante por que passava o Brasil. E é preciso também reconhecer que a sua atuação pública vinha desde o tempo de estudante, algumas vezes preso e perseguido como acontecia com a mocidade, naquela época.  Sua contínua atuação foi quase toda no setor da cultura – uma vocação para divulgar e promover as artes. Já no fim da carreira, é eleito Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, cargo que exerceu até sua aposentadoria. Mesmo aposentado, volta a atuar como Prefeito Municipal de Corrente (PI), eleito democraticamente, onde fez ótima administração, sem esquecer de levar todo incentivo à cultura de modo geral, quer através livros, jornais, revistas e ações outras, quer criando e reativando bibliotecas.  Ele viveu e contribuiu durante toda a época do Piauí desenvolvimentista, com Alberto Silva como governador, e depois com outros, quando foi recriada a frase de “vá ao Piauí, antes que você se acabe”, em lugar de outra que nos menosprezava. A divulgação e progresso do Piauí foi efetivamente construída.     
          Jesualdo Cavalcanti exerceu o cargo de Prefeito Municipal de Corrente, mandato de 2013 a 2016, para o qual foi eleito, deixando seu rasto de conhecimento e construção de nova forma de atuar. Assim repetia a atuação do que fora como Deputado Estadual (duas legislaturas) e Deputado Federal. Nasceu em Corrente do Piauí (PI), aos 18 de fevereiro de 1940, filho de Sebastião de Sousa Barros e Iracema Cavalcanti Barros, casado com a Profª. Maria do Socorro Rocha Cavalcanti Barros, de cujo consórcio lhe vieram três filhos: Jesualdo Filho (engenheiro), Juliana (médica) e Mariana (advogada e juíza federal).
          Aqui lembro, por ser pertinente, o comprometimento de Jesualdo Cavalcanti com a cultura e com os agentes culturais.  Não me lembro de data, mas  foi lá pela década de 1980, quando resolvi mudar-me para Salvador (BA): Ele, em nome da Fundação Cultural do Piauí, promoveu um almoço de despedida, embora que simples.  Na ocasião, pedia-me para desistir, pois não acreditava que voltasse como prometi. Minha ida para a Bahia era apenas para acompanhar a iniciação dos meus filhos na Universidade. Nessa época já se falava na criação do Estado do Gurguéia, e eu, conversando com ele, dizia:
          - “Votarei a favor da criação do Estado de Gurgueia, desde que você, amigo Jesualdo, seja o primeiro presidente”.
          Não faz muito tempo que ele entrou para a Academia Piauiense de Letras, ocupando a cadeira nº 3, fato que para nós foi uma alegria enorme. Creio que foi eleito no primeiro turno, com maioria confortável.  Como historiador, destacou-se pela pesquisa profunda e honesta, com bom torneio de linguagem. Lembramos, entre muitas outras, “Tempo de Cultura (1985), Estado do Gurgueia e outros temas (1995), “Memória dos Confins” (20054 e 2007- 1ª e 2ª edição) e “Tempo de Contar” (2006).
          Paremos por aqui, não tivemos a pretensão de fazer sua biografia, não cabe num simples artigo ou crônica jornal: Jesualdo Cavalcanti, figura ímpar da Cultura Piauiense, merece muito mais. Merece livros. É uma pena que tenha falecido com 79 anos, quando a idade dos intelectuais tem passado da casa dos 90.  Mas certamente Deus o acolherá no céu, com uma dúzia de anjos pare recebê-lo.
       


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