sexta-feira, 22 de setembro de 2017

À MODERNIDADE, TUDO


Francisco Miguel de Moura  

O poeta Manuel Bandeira acabara de preparar o seu café, e assim terminava o belo poema que fez concomitantemente com a refeição matinal: “Pensando na vida e nas mulheres que amei” Vejam que não quis começar com o dito “Viver é lutar”, que há séculos que se disse e que continuamos dizendo. Mas é sabido: trata-se de um verso de lindo, forte e rico de um poema de Gonçalves Dias, poeta que nasceu em águas maranhense e morreu também em águas maranhenses (quem já leu sua biografia, sabe disto. Quem não leu, que a procure). Nascido aqui bem perto de nós: Caxias – MA, cidade que hoje, segundo a nomenclatura moderna, faz parte da grande Teresina. Que eu saiba, não há nenhuma imagem material em homenagem ao grande poeta. Dificilmente se fará de hoje em diante, com essa monstruosa modernidade.
Em matéria deste jornal “O Dia”, li ontem a divisão das gerações da sociedade na era biotecnológica. No fundo, o mundo não existia antes do computador e do celular, antes das inúmeras estrovengas da nossa era. De forma que quem já tem 70, 80 anos, está por fora de tudo. Mas não é assim que me parece. Tem muitos velhinhos e velhinhas que adoram computador e celular e estão integrados às novas gerações, talvez até, de certa forma, competindo com elas.
Mas o que digo é enfático em relação ao modo de vida das pessoas, deixemos os tropeços e avanços da informática, tá, tá, tá, etc… Não sobra tempo aos jovens para aprender o que foi a nossa cultura, a nossa civilização dos séculos XVIII e XIX, e até no século XX, pelo menos no início. Aos jovens, menos velhos que nós, com quem convivemos mais de perto – exemplos são nossos filhos e nossos netos—não fica tempo para tantas coisas boas. Ou melhor, têm medo de ler, pensar, descansar, deixarem-se fluir, apaixonadamente, em leituras em voz alta ou silenciosa, tempo de ouvir música clássica ou mesmo popular de outras épocas que não a sua. Nem falar em ler, um bom livro de crônicas, poemas ou romances.
Isto tudo dá um resultado muito ruim. Segundo Dr. Augusto Cury, o cientista, médico, pesquisador da psicologia e prático da psiquiatria modernas, autor de vários livros importantes, palestrante em todo o mundo (inclusive e principalmente nos Estados Unidos) sobre esses problemas sociais, educacionais e “modus-vivendi” da sociedade de hoje, suas afirmações são intrigantes. Esta de que “A cada hora, algumas pessoas se suicidam na terra”, por exemplo.
Você ou vocês, quem me lê ou quem não me leu, mas saiba por outras bocas tão solitárias tais como a dos e-mails, dos face-books, dos zapp-zapps da vida e da tecnologia, fiquem sabendo: poderão ter milhões de amigos (entre aspas), mas a comunicação é fria, pois procuramos os gestos e só encontramos os RRSS e OKS ou os dedinhos para cima ou para baixo. Nenhuma conversa telefônica ou de qualquer espécie da monstruosidade das “redes de comunicação” modernas atendem à necessidade que a criatura humana tem da palavra “vis-a-vis”, olho a olho e sons e gestos, olhando o outro ser humano e trocando informações, sentimentos, dores, alegrias, amor etc.
Se não fosse a escola mesmo ruim que temos, e sem os professores e educadores, nossos oceanos emocionais não teriam porto, nossas primaveras sociais não teriam flores e nossas aeronaves mentais não teriam plano de vôo, eis o que ele afirma com outras e suas sábias palavras.
Dr. Augusto Cury confessa, por outro lado que: “A melhor maneira de tratar o nosso orgulho não é tentar ser humilde, mas descobrir nossa ignorância. A humildade só é consistente com o reconhecimento concreto de nossa pequenez”.
Com base nesses pensamentos de Cury, depois de ler alguns dos seus livros, até mesmo os que alguns desavisados tacham de “autoajuda”, digo-vos, meus leitores (não importa que sejam 10 ou 1): Parece que há mais sabedoria nos velhos que buscam os conhecimentos modernos e modernosos do jovens, e são muitos, do que esses mesmos jovens que pensam que nunca ficarão velhos. Na verdade, há uma estatística mais ou menos confiável de que, os jovens atuais não dão valor à vida, morrem cedo, na folia dos roques e de outas festas quase diárias, encharcados de álcool, quando não de mil tipos de drogas. Há imenso registo de jovens que morrem de males que outrora eram evitados, e entre eles os que se suicidam. Assim vivem os jovens na roleta dos dias!
Já os velhos, chamados de “senhores e senhoras de terceira e quarta idades”, vão vivendo mais e mais, a troco de remédios e de divertimentos mais saudáveis, de leituras, orações e rezas, essas coisas que fazem medo à juventude de hoje. Esses velhinhos vivem de novelas, leituras de jornais, escolhendo melhor alimentação, produzindo poucos conselhos (quem os quer ouvi-los?). E escrevem livros de poemas e de versos, pintam quadros interessantes para serem apreciados pela própria família, fazem ou cantam músicas como antigamente, para alegrar os ouvidos dos companheiros. A vida é tão boa que cada minuto, cada hora, cada dia deve ser poupada, vivida, comida, dormida (sonhada). E depois contando os sonhos como se fossem verdades.
Minha mãe dizia: “A pior sorte do mundo é melhor do que morrer”. Eu direi, por outra forma: “A vida é um sonho, mas que sonho gostoso que é!”. A vida compensa as dores a que está sujeita. Que a vida seja sempre um longo sonho para todos os filhos de Deus, que perderam as vantagens do Éden e ganharam a força para lutar e reconquistar esse paraíso. A vida não é apenas matéria: é um fluido do céu.

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Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina, Piaui.

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