O
poeta Manuel Bandeira acabara de preparar o seu café, e assim
terminava o belo poema que fez concomitantemente com a refeição
matinal: “Pensando
na vida e nas mulheres que amei” Vejam
que não quis começar com
o
dito
“Viver
é lutar”, que
há séculos que se disse e que continuamos dizendo. Mas é sabido:
trata-se de um verso de lindo, forte e rico de um poema de
Gonçalves Dias, poeta que nasceu em águas maranhense e morreu
também em águas maranhenses (quem já leu sua biografia, sabe
disto. Quem não leu, que a procure). Nascido aqui bem perto de nós:
Caxias – MA, cidade que hoje, segundo a nomenclatura moderna, faz
parte da grande Teresina. Que eu saiba, não há nenhuma imagem
material em homenagem ao grande poeta. Dificilmente se fará de hoje
em diante, com essa monstruosa modernidade.
Em
matéria deste jornal “O Dia”, li ontem a divisão das gerações
da sociedade na era biotecnológica. No fundo, o mundo não existia
antes do computador e do celular, antes das inúmeras estrovengas da
nossa era. De forma que quem já tem 70, 80 anos, está por fora de
tudo. Mas não é assim que me parece. Tem muitos velhinhos e
velhinhas que adoram computador e celular e estão integrados às
novas gerações, talvez até, de certa forma, competindo com elas.
Mas
o que digo é enfático em relação ao modo de vida das pessoas,
deixemos os tropeços e avanços da informática, tá, tá, tá, etc…
Não sobra tempo aos jovens para aprender o que foi a nossa cultura,
a nossa civilização dos séculos XVIII e XIX, e até no século XX,
pelo menos no início. Aos jovens, menos velhos que nós, com quem
convivemos mais de perto – exemplos são nossos filhos e nossos
netos—não fica tempo para tantas coisas boas. Ou melhor, têm
medo de ler, pensar, descansar, deixarem-se fluir, apaixonadamente,
em leituras em voz alta ou silenciosa, tempo de ouvir música
clássica ou mesmo popular de outras épocas que não a sua. Nem
falar em ler, um bom livro de crônicas, poemas ou romances.
Isto
tudo dá um resultado muito ruim. Segundo Dr. Augusto Cury, o
cientista, médico, pesquisador da psicologia e prático da
psiquiatria modernas, autor de vários livros importantes,
palestrante em todo o mundo (inclusive e principalmente nos Estados
Unidos) sobre esses problemas sociais, educacionais e “modus-vivendi”
da
sociedade de hoje, suas afirmações são intrigantes. Esta de que “A
cada hora, algumas pessoas se suicidam na terra”,
por exemplo.
Você
ou vocês, quem me lê ou quem não me leu, mas saiba por outras
bocas tão solitárias tais como a dos e-mails,
dos face-books, dos zapp-zapps da
vida e da tecnologia, fiquem sabendo: poderão ter milhões de amigos
(entre aspas), mas a comunicação é fria, pois procuramos os gestos
e só encontramos os RRSS
e OKS
ou os dedinhos para cima ou para baixo. Nenhuma conversa telefônica
ou de qualquer espécie da monstruosidade das “redes de
comunicação” modernas atendem à necessidade que a criatura
humana tem da palavra “vis-a-vis”,
olho a olho e sons e gestos, olhando o outro ser humano e trocando
informações, sentimentos, dores, alegrias, amor etc.
Se
não fosse a escola mesmo ruim que temos, e sem os professores e
educadores, nossos oceanos emocionais não teriam porto, nossas
primaveras sociais não teriam flores e nossas aeronaves mentais não
teriam plano de vôo, eis o que ele afirma com outras e suas sábias
palavras.
Dr.
Augusto Cury confessa, por outro lado que: “A
melhor maneira de tratar o nosso orgulho não é tentar ser humilde,
mas descobrir nossa ignorância. A humildade só é consistente com o
reconhecimento concreto de nossa pequenez”.
Com
base nesses pensamentos de Cury, depois de ler alguns dos seus
livros, até mesmo os que alguns desavisados tacham de “autoajuda”,
digo-vos, meus leitores (não importa que sejam 10 ou 1): Parece que
há mais sabedoria nos velhos que buscam os conhecimentos modernos e
modernosos do jovens, e são muitos, do que esses mesmos jovens que
pensam que nunca ficarão velhos. Na verdade, há uma estatística
mais ou menos confiável de que, os jovens atuais não dão valor à
vida, morrem cedo, na folia dos roques e de outas festas quase
diárias, encharcados de álcool, quando não de mil tipos de drogas.
Há imenso registo de jovens que morrem de males que outrora eram
evitados, e entre eles os que se suicidam. Assim
vivem os jovens na roleta dos dias!
Já
os velhos, chamados de “senhores e senhoras de terceira e quarta
idades”, vão vivendo mais e mais, a troco de remédios e de
divertimentos mais saudáveis, de leituras, orações e rezas, essas
coisas que fazem medo à juventude de hoje. Esses velhinhos vivem de
novelas, leituras de jornais, escolhendo melhor alimentação,
produzindo poucos conselhos (quem os quer ouvi-los?). E escrevem
livros de poemas e de versos, pintam quadros interessantes para serem
apreciados pela própria família, fazem ou cantam músicas como
antigamente, para alegrar os ouvidos dos companheiros. A vida é tão
boa que cada minuto, cada hora, cada dia deve ser poupada, vivida,
comida, dormida (sonhada). E depois contando os sonhos como se fossem
verdades.
Minha
mãe dizia: “A
pior sorte do mundo é melhor do que morrer”.
Eu direi, por outra forma: “A
vida é um sonho, mas que sonho gostoso que é!”.
A vida compensa as dores a que está sujeita. Que a vida seja sempre
um longo sonho para todos os filhos de Deus, que perderam as
vantagens do Éden e ganharam a força para lutar e reconquistar esse
paraíso. A vida não é apenas matéria: é um fluido do céu.
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Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina, Piaui.
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