domingo, 26 de junho de 2016

INTRODUÇÃO À DRAMATURGIA PIAUIENSE

Francisco Miguel de Moura*
                           
          O Piauí é rico em artes e artistas, falta-lhe apenas a estrutura para que esses artistas levem o nome do nosso estado a todos os recantos deste enorme Brasil.  Portanto, faz muito bem a Academia Piauiense de Letras por incluir na sua “Coleção Centenário”, todas as formas de arte, desde a poesia, o conto e a crônica, até o romance e a história, contemplando autores do passado e do presente.
 
Agora é a vez da dramaturgia, o teatro. Embora os textos não sejam de autoria de acadêmicos, a escolha tem a vantagem de recair sobre peças de três autores contemporâneos dos mais fortes e atuantes no meio teatral: Francisco Ací Gomes Campelo, Walfrido de Melo Salmito e Adalmir de Miranda Moura, conhecidos de forma abreviada, na vida artística, por Ací Campelo, Walfrido Salmito e Adalmir Miranda, respectivamente. São, digamos sem exagero, três grandes batalhadores pela arte do palco, conhecida e considerada como a mais completa de todas. 

O teatro é a vida, a linguagem da vida, a linguagem do povo levada ao próprio povo, de forma tão agradável. Não é apenas arte, mas divertimento, seja sob a forma de drama, comédia ou mesmo tragédia. Por ter a palavra como um dos seus instrumentos, quando, então, o teatro é considerado literatura, ele tem as suas estranhezas, esquisitices e sabedoria vincadas em frases e estilo que lhe dão a marca. O teatro é um conjunto harmônico de história, romance, poesia, música, dança e quantas mais formas de arte houver. Não pode, portanto, ser julgado pelos padrões das outras formas de arte da escrita. É especial.

    Em boa hora, esta arte ganha letra de forma. Três autores com a mostra de sua arte são enfeixados neste volume “Dramaturgia Piauiense”. Há quem diga até que o autor da peça teatral é o diretor, pois este faz tantas modificações nela, embora sem propósito de mudar a sua mensagem. Enfim autores, diretores e atores e quem mais participe do espetáculo são artistas. É o que acontece com a maioria dos autores de textos para teatro, no Piauí. Importante também é saber que todos os autores escolhidos – Ací, Salmito e Adalmir - fazem tudo isto e com maestria. E não somente representaram e representam no Piauí: vão além. Eles têm apresentado sua arte principalmente no Teatro “4 de Setembro”, levando-a também às escolas e instituições culturais e sociais do Piauí, assim como a quase todo o país, participando de festivais e ganhando valiosos prêmios pelos espetáculos e como atores, tudo graças a sua pertinácia, seu conhecimento também adquirido em cursos superiores de dramaturgia.    

Lendo e relendo estes textos, eu imagino quanto de sabedoria da vida e da arte esses dramaturgos conseguiram amealhar e disseminar entre os sedentos freqüentadores dos seus espetáculos. São textos limpos, apropriados a qualquer público, como estes “A incrível pedra fina”, “A casa de Pedro Malasarte” e o “Auto da folia de reis”, especialmente destinados à criançada.  E como educam e divertem, aproveitando espertezas e molecagens dos personagens!

A bibliografia literária piauiense, com esta edição de três textos teatrais de uma só vez, fica enriquecida. Como historiador da literatura, confesso que pouco, muito pouco conheci como foi o teatro antigo. Registrei apenas quatro peças na “Literatura do Piauí”, editada recentemente pela EDUFPI: um fragmento da obra de Jônatas Batista (“Jovita, ou a Heroína de 1865”), uma parte da de Chico Pereira da Silva (“Reino do mar sem fim”) e outro trecho de Gomes Campos (“Auto de Lampião no além”). E pronto. E ainda citei outros três nomes bem no fim do livro: Ací Campelo, Wellington Sampaio e Afonso Lima. 

Felicidade têm Ací Campelo, W. Salmito e Adalmir Miranda de participar desta coleção centenária da Academia de Letras. Quantos outros dramaturgos poderiam ser citados mesmo neste prefácio! Já participei, como julgador, de um concurso de textos para teatro, se não me engano, o de nome “Jônatas Batista”, da Fundação Cultural do Piauí, onde li e me deliciei com belíssimas peças como estas e creio que nem a premiada recebeu edição.

Deste grupo ora editado pela Academia, parece-me que o mais clássico é realmente o Ací, criando uma historinha realmente encantadora; ele é um escritor de alta criatividade. Criadores também são o W. Salmito e o Adalmir, dentro do universo folclórico brasileiro, descobrindo-nos coisas incríveis. Posso dizer que os três se igualam em qualidade e pujança de criação. 

Cumpre, pois, a nossa Academia, como agora o faz, o dever de desenterrar autores que há séculos ou centenas de anos permaneceram ignorados do nosso público, sem esquecer os escritores de ontem e de hoje, acadêmicos ou não, desta ou de qualquer que seja o ramo da arte.


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*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina-PI.
E-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com
Links:www.revistacirandinhapiaui.blogspot.com

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